Quem assistiu ao filme Vicky Cristina Barcelona, do diretor Woody Allen, e
viu as personagens Maria Elena - interpretada por Penélope Cruz -, que parece
uma "maluca" no longa, e Cristina - personagem de Scarlett Johansson - deve ter
notado a complexidade do ser humano.
A primeira nunca estava satisfeita com seu relacionamento amoroso ou mesmo com a
vida, e vivia tendo crises. A segunda mudava de ideia da noite para o dia.
Parecia estar sempre buscando algum sentido para sua vida. Ora queria ser
escritora, ora fotógrafa. Ora queria estar em um relacionamento, ora não.
Na carreira, muitos de nós agimos exatamente como essas personagens, em uma
procura eterna pela realização pessoal e profissional. Invariavelmente, queremos
promoção e novos desafios; estamos sempre a reclamar de algo; em algumas fases
da vida, não hesitamos em pular de emprego em emprego; e ainda há quem, em um
ato de absoluta coragem, mude de área, de cidade, ou até de país.
Seu copo está metade cheio, ou metade vazio?
A vice-presidente da AAPSA (Associação Paulista dos Gestores de Pessoas), Erika
Knoblauch, diz que a insatisfação pode não ser uma característica inerente ao
profissional. Pode ser simplesmente que ele esteja na área errada, ou mesmo em
uma empresa cujos valores não são compatíveis com os dele. Outra hipótese é que
ele não tenha se adaptado a determinado ambiente social. Nesses casos, a
insatisfação não seria crônica, pois seus motivos são pontuais.
Agora, a insatisfação crônica está ligada ao perfil do profissional. "Há quem só
enxergue o lado negativo das pessoas e dos acontecimentos; outras, mesmo sem
querer, gostam de se colocar no papel de vítimas. São profissionais que focam
naquilo que não vai para frente, que não dá certo. Eles não olham para trás para
notar o quanto já avançaram. Então, a satisfação profissional depende do jeito
da pessoa funcionar".
Nada dá certo para você?
Algumas pessoas que sofrem de insatisfação crônica podem ter a impressão de que
nada dá certo para si. Mas elas nunca devem ter parado para pensar que o
problema pode não estar nos outros, e sim nelas mesmas.
Explica-se: há profissionais que têm dificuldade de respeitar hierarquia; outros
não lidam bem com críticas; outros querem que tudo aconteça do seu jeito; outros
acham que nunca estão errados e não percebem o quanto são arrogantes; outros não
entendem o significado da palavra "sacrifício". Não é à toa que se sentem
insatisfeitos!
No ambiente corporativo, críticas e ordens são mais do que normais. Ainda mais
se o profissional possui competências a desenvolver e não atende às expectativas
da empresa. Imagina como uma pessoa que não sabe receber críticas se sente! É de
se esperar que ela fique mal-humorada e leve o feedback negativo para o lado
pessoal.
"Existem pessoas que acham que estão sempre com a razão e, no dia a dia, se
mostram inflexíveis. Às vezes, não percebem que seu comportamento é inaceitável,
porque, fora da empresa, a família, ou até os amigos, não costumam dizer "não" a
elas. Nos relacionamentos, a verdade é que cada um combina a forma como funciona
com o outro e quanto tempo suporta certas atitudes", explica Erika.
Se dentro de casa, ou no círculo de conhecidos, algumas pessoas conseguem tudo o
que desejam, no mundo corporativo, entretanto, as regras são um pouco
diferentes. Moral da história: analise a raiz da sua insatisfação e, se for o
caso, seja corajoso o suficiente para admitir que o problema pode estar dentro
de você, e não fora. Com isso, certamente encontrará o caminho para se sentir
mais feliz!