Leis - Direitos Autorais sobre Software
Capítulo I -
Disposições Preliminares
LEI N° 9.609, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998
D.O.U., de 20 de fevereiro de 1998.
Dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador,
sua comercialização no País, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Capítulo I - Disposições Preliminares
Art. 1º - Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de
instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de
qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento
da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados
em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins
determinados.
Capítulo II - Da
Proteção aos Direitos de Autor e do Registro
Art. 2º - O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de
computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos
autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei.
§ 1º - Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos
direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de
reivindicar a paternidade do programa de computador e o direito do autor de
opor-se a alterações não-autorizadas, quando estas impliquem deformação,
mutilação ou outra modificação do programa de computador, que prejudiquem a
sua honra ou a sua reputação.
§ 2º - Fica assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de
computador pelo prazo de cinqüenta anos, contados a partir de 1º de janeiro
do ano subseqüente ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua
criação.
§ 3º - A proteção aos direitos de que trata esta Lei independe de registro.
§ 4º - Os direitos atribuídos por esta Lei ficam assegurados aos
estrangeiros domiciliados no exterior, desde que o país de origem do
programa conceda, aos brasileiros e estrangeiros domiciliados no Brasil,
direitos equivalentes.
§ 5º - Inclui-se dentre os direitos assegurados por esta Lei e pela
legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País aquele direito
exclusivo de autorizar ou proibir o aluguel comercial, não sendo esse
direito exaurível pela venda, licença ou outra forma de transferência da
cópia do programa.
§ 6º - O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos casos em que o
programa em si não seja objeto essencial do aluguel.
Art. 3º - Os programas de computador poderão, a critério do titular, ser
registrados em órgão ou entidade a ser designado por ato do Poder Executivo, por
iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência e tecnologia.
§ 1º - O pedido de registro estabelecido neste artigo deverá conter, pelo
menos, as seguintes informações:
I - os dados referentes ao autor do programa de computador e ao titular, se
distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas;
II - a identificação e descrição funcional do programa de computador; e
III - os trechos do programa e outros dados que se considerar suficientes
para identificá-lo e caracterizar sua originalidade, ressalvando-se os
direitos de terceiros e a responsabilidade do Governo.
§ 2º - As informações referidas no inciso III do parágrafo anterior são de
caráter sigiloso, não podendo ser reveladas, salvo por ordem judicial ou a
requerimento do próprio titular.
Art. 4º - Salvo estipulação em contrário, pertencerão exclusivamente ao
empregador, contratante de serviços ou órgão público, os direitos relativos ao
programa de computador, desenvolvido e elaborado durante a vigência de contrato
ou de vínculo estatutário, expressamente destinado à pesquisa e desenvolvimento,
ou em que a atividade do empregado, contratado de serviço ou servidor seja
prevista, ou ainda, que decorra da própria natureza dos encargos concernentes a
esses vínculos.
§ 1º - Ressalvado ajuste em contrário, a compensação do trabalho ou serviço
prestado limitar-se-á à remuneração ou ao salário convencionado.
§ 2º - Pertencerão, com exclusividade, ao empregado, contratado de serviço
ou servidor os direitos concernentes a programa de computador gerado sem
relação com o contrato de trabalho, prestação de serviços ou vínculo
estatutário, e sem a utilização de recursos, informações tecnológicas,
segredos industriais e de negócios, materiais, instalações ou equipamentos
do empregador, da empresa ou entidade com a qual o empregador mantenha
contrato de prestação de serviços ou assemelhados, do contratante de
serviços ou órgão publico.
§ 3º - O tratamento previsto neste artigo será aplicado nos casos em que o
programa de computador for desenvolvido por bolsistas, estagiários e
assemelhados.
Art. 5º - Os direitos sobre as derivações autorizadas pelo titular dos
direitos de programa de computador, inclusive sua exploração econômica,
pertencerão à pessoa autorizada que as fizer, salvo estipulação contratual em
contrário.
Art. 6º - Não constituem ofensa aos direitos do titular de programa de
computador:
I - a reprodução, em um só exemplar, de cópia legitimamente adquirida desde
que se destine à copia de salvaguarda ou armazenamento eletrônico, hipótese
em que o exemplar original servirá de salvaguarda;
II - a citação parcial do programa, para fins didáticos, desde que
identificados o programa e o titular dos direitos respectivos;
III - a ocorrência de semelhança de programa a outro, preexistente, quando
se der por força das características funcionais de sua aplicação, da
observância de preceitos normativos e técnicos, ou de limitação de forma
alternativa para a sua expressão;
IV - a integração de um programa, mantendo-se suas características
essenciais, a um sistema aplicativo ou operacional, tecnicamente
indispensável às necessidades do usuário, desde que para o uso exclusivo de
quem a promoveu.
Capítulo III - Das Garantias aos
Usuários de Programa de Computador
Art. 7º - O contrato de licença de uso de programa de computador, o documento
fiscal correspondente, os suportes físicos do programa ou as respectivas
embalagens deverão consignar, de forma facilmente legível pelo usuário, o prazo
de validade técnica da versão comercializada.
Art. 8º - Aquele que comercializar programa de computador, quer seja titular dos
direitos do programa, quer seja titular dos direitos de comercialização, fica
obrigado, no território nacional, durante o prazo de validade técnica da
respectiva versão, a assegurar aos respectivos usuários a prestação de serviços
técnicos complementares relativos ao adequado funcionamento do programa,
consideradas as suas especificações.
Parágrafo único - A obrigação persistirá no caso de retirada de circulação
comercial do programa de computador durante o prazo de validade, salvo justa
indenização de eventuais prejuízos causados a terceiros.
Capitulo IV - Dos
Contratos de Licença de Uso, de Comercialização e de Transferência de Tecnologia
Art. 9º - O uso de programa de computador no País será objeto de contrato de
licença.
Parágrafo único - Na hipótese de eventual inexistência do contrato referido
no caput deste artigo, o documento fiscal relativo à aquisição ou
licenciamento de cópia servirá para comprovação da regularidade do seu uso.
Art. 10 - Os atos e contratos de licença de direitos de comercialização
referentes a programas de computador de origem externa deverão fixar, quanto aos
tributos e encargos exigíveis, a responsabilidade pelos respectivos pagamentos e
estabelecerão a remuneração do titular dos direitos de programa de computador
residente ou domiciliado no exterior.
§ 1º - Serão nulas as cláusulas que:
I - limitem a produção, a distribuição ou a comercialização, em violação às
disposições normativas em vigor;
II - eximam qualquer dos contratantes das responsabilidades por eventuais
ações de terceiros, decorrentes de vícios, defeitos ou violação de direitos
de autor.
§ 2º - O remetente do correspondente valor em moeda estrangeira, em
pagamento da remuneração de que se trata, conservará em seu poder, pelo
prazo de cinco anos, todos os documentos necessários à comprovação da
licitude das remessas e da sua conformidade ao caput deste artigo.
Art. 11 - Nos casos de transferência de tecnologia de programa de computador,
o Instituto Nacional da Propriedade Industrial fará o registro dos respectivos
contratos, para que produzam efeitos em relação a terceiros.
Parágrafo único - Para o registro de que trata este artigo, é obrigatória a
entrega, por parte do fornecedor ao receptor de tecnologia, da documentação
completa, em especial do código-fonte comentado, memorial
descritivo,especificações funcionais internas, diagramas, fluxogramas e
outros dados técnicos necessários à absorção da tecnologia.
Capítulo V - Das
Infrações e das Penalidades
Art. 12 - Violar direitos de autor de programa de computador:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa.
§ 1º - Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de programa
de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização
expressa do autor ou de quem o represente:
Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa.
§ 2º - Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à
venda, introduz no País, adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de
comércio, original ou cópia de programa de computador, produzido com
violação de direito autoral.
§ 3º - Nos crimes previstos neste artigo, somente se procede mediante
queixa, salvo:
I - quando praticados em prejuízo de entidade de direito público, autarquia,
empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo
poder público;
II - quando, em decorrência de ato delituoso, resultar sonegação fiscal,
perda de arrecadação tributária ou prática de quaisquer dos crimes contra a
ordem tributária ou contra as relações de consumo.
§ 4º - No caso do inciso II do parágrafo anterior, a exigibilidade do
tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, processar-se-á
independentemente de representação.
Art. 13 - A ação penal e as diligências preliminares de busca e apreensão,
nos casos de violação de direito de autor de programa de computador, serão
precedidas de vistoria, podendo o juiz ordenar a apreensão das cópias produzidas
ou comercializadas com violação de direito de autor, suas versões e derivações,
em poder do infrator ou de quem as esteja expondo, mantendo em depósito,
reproduzindo ou comercializando.
Art. 14 - Independentemente da ação penal, o prejudicado poderá intentar ação
para proibir ao infrator a prática do ato incriminado, com cominação de pena
pecuniária para o caso de transgressão do preceito.
§ 1º - A ação de abstenção de prática de ato poderá ser cumulada com a de
perdas e danos pelos prejuízos decorrentes da infração.
§ 2º - Independentemente de ação cautelar preparatória, o juiz poderá
conceder medida liminar proibindo ao infrator a prática do ato incriminado,
nos termos deste artigo.
§ 3º - Nos procedimentos cíveis, as medidas cautelares de busca e apreensão
observarão o disposto no artigo anterior.
§ 4º - Na hipótese de serem apresentadas, em juízo, para a defesa dos
interesses de qualquer das partes, informações que se caracterizem como
confidenciais, deverá o juiz determinar que o processo prossiga em segredo
de justiça, vedado o uso de tais informações também à outra parte para
outras finalidades.
§ 5º - Será responsabilizado por perdas e danos aquele que requerer e
promover as medidas previstas neste e nos arts. 12 e 13, agindo de má-fé ou
por espírito de emulação, capricho ou erro grosseiro, nos termos dos arts.
16, 17 e 18 do Código de Processo Civil.
Capítulo VI - Disposições Finais
Art. 15 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 16 - Fica revogada a Lei nº 7.646, de 18 de dezembro de 1987.
Brasília, 19 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e 110º da
República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
José Israel Vargas
Referência:
senado.org.br
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