Cada vez mais os pesquisadores procuram explicar por que, às
vezes, os investidores se comportam de forma irracional. Batizada de Finanças
Comportamentais, a nova área de estudo vem atraindo o interesse tanto de
investidores individuais, quanto dos institucionais.
Afinal, os aspectos psicológicos não afetam apenas o investidor individual, mas
também o grupo de investidores, ou seja, o mercado. Em alguns casos, o viés do
mercado gera erros na avaliação dos ativos financeiros, o que acaba oferecendo
boas oportunidades de investimento. Porém, para aproveitar estas oportunidades,
é preciso entender a natureza destes erros de julgamento. Abaixo abordamos cinco
erros mais comuns cometidos pelos investidores.
Excesso de confiança
Pessoas excessivamente confiantes negociam de forma mais ativa, efetuando um
número maior de operações de compra e venda de títulos e/ou ações. Como era de
se esperar, os homens são mais suscetíveis ao excesso de confiança. Estudos
elaborados no mercado norte-americano sugerem que eles negociam, em média, 45%
mais do que as mulheres, sendo que este percentual é ainda maior entre os homens
solteiros (67%).
Porém, como negociar implica em custos, esta postura acaba prejudicando o
retorno da carteira. Estudo elaborado por uma corretora de valores
norte-americana constatou que, para um determinado período de tempo, enquanto o
S&P 500 registrou alta anual média de 17,9%, o retorno médio anual da carteira
de ações dos investidores que negociam intensamente foi de 11,4%.
E para quem investe baseado na opinião de analistas, vale a dica: eles também
estão sujeitos aos mesmos vieses psicológicos, sobretudo, o de excesso de
confiança. Daí a importância de se avaliar estas recomendações com cautela e,
como diz Warren Buffett, ter a sua própria opinião. Fique atento, sobretudo, aos
casos de excesso de otimismo ou pessimismo com relação a um determinado ativo.
Medo de errar
Outro erro de julgamento que pode afetar sua capacidade de tomar decisões de
investimento é o medo de errar. Não deixe que o medo de sofrer com um erro tenha
um peso desproporcional na sua tomada de decisão.
Temendo errar, um investidor pode acabar adiando a decisão de vender uma ação
com fundamentos ruins, o que só piora a sua situação. A venda da ação colocaria
um fim ao sofrimento, mas diante do medo o investidor prolonga este sentimento.
Da mesma forma, o investidor pode ser levado a vender muito rapidamente uma ação
com bom potencial, pois teme que a tendência de alta se reverta.
É interessante notar que este comportamento individual afeta o desempenho do
mercado e cria oportunidades para quem o entende. Como? Simples. Em geral, os
investidores tendem a manter "ações ruins" por um tempo mais longo, pois
acreditam em uma recuperação, e isso acaba fazendo com que a queda do preço
desta ação seja mais lenta. Por outro lado, a venda precipitada de ações com bom
potencial acaba reduzindo o ritmo de alta dos papéis.
Em ambos os casos, o investidor pode ganhar com esta tendência. A lição aqui é
clara: somente através do entendimento dos fundamentos você pode identificar
quando uma tendência de alta (baixa) é temporária ou fruto de uma nova realidade
da empresa. Em caso de uma fraqueza nos fundamentos, o ideal é que você assuma o
erro e saia o quanto antes, de forma a reduzir suas perdas.
Dissonância cognitiva
Segundo os psicólogos, o medo de errar também leva o investidor a evitar
informações conflitantes. A isso se chama dissonância cognitiva. Assim, quando
toma uma decisão, o investidor evita obter informações que possam levá-lo a se
arrepender. Ou seja, temendo errar, ele, irracionalmente, filtra a informação
recebida depois que tomou a sua decisão.
Para ilustrar melhor este tipo de situação, imagine uma pessoa que acabou de
comprar um carro. Na maioria dos casos, a tendência é que evite os anúncios de
veículos semelhantes por medo de constatar que não tomou a melhor decisão. Em
alguns casos, a pessoa até recebe e absorve a informação, mas não atribui a ela
a importância necessária.
A melhor forma de evitar este tipo de erro de julgamento é manter-se aberto às
opiniões contrárias: procure entendê-las antes de tomar uma decisão de
investimento. Seja disciplinado: antes de investir faça uma lista do por que
tomou a decisão, e reveja periodicamente estes argumentos para avaliar sua
validade. Se as razões que justificaram sua decisão não existem mais, então o
melhor é admitir o erro e vender. Lembre-se, a sua pesquisa não acaba com a
decisão de comprar: o quanto antes identificar um erro, menores serão suas
perdas!
Ancoragem
Até agora, as características analisadas estão associadas aos sentimentos e
emoções dos investidores. Porém, alguns erros são cometidos porque tomamos
atalhos na hora de decidir. Ao abordar problemas complexos, nosso cérebro define
um ponto de referência inicial (ou âncora), o qual não é alterado
significativamente mesmo com o surgimento de novas informações.
Agindo desta forma, nosso cérebro consegue reduzir um problema complexo - a
necessidade de reavaliar toda a informação sempre que novos dados surgem, por
outro mais simples - rever as conclusões iniciais com base na nova informação. A
diferença pode parecer pequena, mas se considerarmos que a nova informação
poderia alterar a conclusão inicial, não é difícil entender como isso pode
afetar nossas decisões de investimento.
A ancoragem explica, por exemplo, o porquê de alguns investidores seguirem a
estratégia de comprar, sempre que uma ação cai muito. Para estes investidores, o
último preço é considerado como um indicador de valor, daí, portanto, comprar a
um preço mais baixo parece uma decisão correta. Porém, isso nem sempre é
verdade.
Os psicólogos alertam que os investidores tendem a usar informações recentes
(preço, crescimento de lucro, etc.) como âncoras. Isso acaba retardando a
revisão do valor de uma ação, e pode induzir o investidor ao erro, pois ações de
baixo potencial de crescimento podem ser vistas como baratas, enquanto ações de
empresas com bom potencial, podem ser consideradas caras.
Representatividade
Outro mecanismo usado pelo nosso cérebro para facilitar nossas decisões se chama
representatividade. Através dela somos levados a acreditar que coisas que
compartilham algumas qualidades em comum são bastante parecidas. O grande
problema é que, em geral, esta constatação é feita com base em poucos fatores.
Assim, o mecanismo de representatividade pode levar um investidor a considerar
semelhante duas empresas que apresentaram um resultado ruim, o que nem sempre é
verdade. Em geral, os investidores tendem a agrupar as ações com base em algumas
poucas características, o que pode induzir erros de julgamento.
Assim como no caso da ancoragem, a representatividade também pode adiar uma
reavaliação da ação. Se, no passado, uma ação foi considerada ruim devido aos
fracos resultados, mesmo que tenha conseguido recuperar-se, a percepção dos
investidores demora a mudar. Ou seja, esta ação deve continuar sendo vista como
ruim, mesmo que agora isso não mais seja verdade. O inverso também é válido, e
pode levar uma ação a continuar sendo considerada como boa, apesar dos seus
fundamentos terem alterado.
É através destas discrepâncias entre o valor efetivo da ação e a percepção dos
investidores sobre o papel, que o investidor informado e racional pode obter
boas oportunidades de investimento. À medida que o investidor entende os fatores
psicológicos que levam a essa discrepância, conseguem identificar boas
oportunidades de investimento.