Considero que há dois tipos de dívidas: as formais e as informais.
É preciso também ter uma noção de que dívida é compromisso em atraso.
Quando compramos algo a prazo, não estamos contraindo uma dívida propriamente
dita, mas assumindo um compromisso contratual com uma empresa de que pagaremos
as parcelas nas datas previstas do contrato.
Quando atrasamos o pagamento é que há a dívida de fato.
Nesse sentido, até um atraso para um encontro ou uma reunião, fica caracterizada
a dívida. A palavra empenhada também. Mas vamos a que viemos.
Dívidas formais são aquelas que incidem juros por atraso, formalizadas por
contratos legais. Geralmente envolvem pessoas jurídicas. Estas podem ser
negociadas sem prejuízos das partes por acordo direto ou judicial.
Porém, são as dívidas informais que trazem maiores transtornos, tanto para
credor quanto para o devedor.
São aquelas em que a promessa de pagamento é verbal e a fiança é justamente a
confiança dada pelo credor, devido ao conhecimento antigo com a pessoa ou por
que o credor se compadeceu da pessoa que toma o crédito.
Elas são contraídas quando tomamos emprestados alguns reais de um amigo, colega
de trabalho, vizinho, familiar ou parente.
Também quando fazemos fiado em uma lanchonete ou qualquer outro comércio do
bairro ou quando compramos sem cheque , artigos diversos de uma sacoleira, por
exemplo.
Estas dívidas , em geral não incidem juros, mas o preço por não pagá-las pode
ser mais alto, pois é um negócio tratado pessoa a pessoa diretamente.
Assim sendo, o não pagamento resulta em abalos de relacionamentos antes
amistosos, perda da credibilidade no ambiente do serviço ou no bairro e ,
obviamente, o crédito.
Sem fazer juízo de valores, há vários motivos pelos quais precisamos usar o
expediente do fiado. Mas depois do fiado vem a Cobrança.
Um dos malefícios do fiado é a cobrança, ou a forma como é cobrado.
A cobrança do fiado é constrangedora para ambas as partes. Assim com há credores
compassivos e devedores justos, existem também os credores incompassivos e
devedores de má fé.
Sejam quais forem os motivos, justos ou genéricos; quando temos realmente a
intenção de pagar, mas nos falta o recurso para fazê-lo, alheio a nossa vontade;
não adianta dar explicações aos credores incompassivos. Eles não nos ouvirão.
Tudo o que eles verão é um inadimplente vil. Nesse caso, não é sábio debater
seus motivos ou mesmo entrar em litígio verbal. O melhor a fazer é solicitar
mais prazo e obter de alguma outra maneira, dentro do novo prazo,o valor devido,
pagar e não mais tratar qualquer negócio com tal credor. Na verdade é melhor
mesmo ter um relacionamento apenas cordial, sem mais contato direto, se pode
entender o que digo.
No caso do devedor de má fé, se depois de insistentes abordagens, não receber o
valor devido ou qualquer parte dele, assuma o prejuízo e siga o conselho acima.
Certos litígios verbais não compensam o valor a receber. Vale mais a paz de
espírito e dignidade pessoal mantida.
Outro malefício do fiado é o Círculo Econômico Negativo.
Quando compramos algo estamos trocando uma mercadoria por dinheiro.Se
analisarmos bem, uma mercadoria é o resultado de parte do trabalho de outras
pessoas.
Essa mercadoria deve ser ressarcida por isso. O dinheiro que pagamos por ela é
resultado de parte de nosso trabalho também.
Quando “compramos” uma mercadoria para pagar depois e demoramos a pagá-la ou não
a pagamos, o ciclo de ressarcimento pelo trabalho é negativo.
No exemplo da sacoleira que nos vendeu uma mercadoria, ela tem que pagar pelo
que comprou ao seu fornecedor. Se não há uma reserva prevendo a inadimplência,
correrá o risco de falir por falta de capital de giro.
Sempre que compramos algo fiado,estamos pondo em risco um ciclo econômico
positivo.
Renda gera Renda. Dinheiro gera Dinheiro. Dívida gera Dívida.
Por essa razão, há que se ter paciência e muita disciplina pessoal para resistir
ao comprar fiado.
Mas isso tem que ser um hábito tanto de fornecedores quanto de clientes.
Se a sacoleira cultivar o hábito da venda à vista, venderá um volume menor, mas
constante.
E manterá constantes suas clientes e até aumentará a clientela. O que não
acontece quando vende fiado. Sempre tem renovar a clientela ou vender em praças
diferentes para fugir, (ou tentar) da inadimplência.
Para o consumidor,comprar a vista é manter a liberdade e tranqüilidade de não
dever a qualquer pessoa.
A antítese do “Compre agora e pague depois” seria: “Se não tenho como pagar, não
compro agora, compro depois”.
Esse seria um bom Hábito Econômico Positivo. As sacoleiras e comerciantes de
bairros agradecem.