Psicólogos apontam problemas nas pessoas que exageram nos gastos
A dona de casa J.F., de 33 anos, não poderia supor que o insaciável desejo
de gastar o dinheiro que recebia do marido para comprar roupas, que ficavam
esquecidas no armário, ou jóias com valor bem acima de seu padrão de vida,
acabaria com seu casamento.
Tudo começou porque estava com problemas de obesidade e dizia que precisava
recuperar sua auto-estima. E o resultado foi uma dívida de mais de R$ 30 mil.
Hoje em dia, trata a compulsão com ajuda de psicanalista e remédios para
depressão. Mas o problema só acabou mesmo depois que perdeu todos os cartões de
crédito e a conta no banco.
Ela faz parte de um grupo de pessoas que não consegue se conter diante da
tentação dos apelos ao consumo, mas que exageram na dose: são os chamados
compradores compulsivos. Como em qualquer tipo de compulsão, o hábito vira vício
e o simples ato de comprar acaba fugindo ao controle desses consumidores. Pior
que isso, passam a sentir uma necessidade de gastar, sem razão aparente. A
desculpa é eu mereço!.
E até ficam deprimidos quando não podem torrar todo o salário em compras e
depois descobrem que as prestações também são impagáveis. Quando percebem a
gravidade da situação, choram, e jogam a culpa na vida, no Governo, no patrão e
até na família.
Carência afetiva
Para a psicóloga Wilsa Atella Barreira, quando o consumidor compulsivo chega
neste estágio é hora de começar a se preocupar. Ele deve tomar essa iniciativa
assim que sentir uma grande necessidade de comprar algo, mesmo que não precise,
e nem saber explicar o porquê, diz.
- Ela tem consciência do problema, mas existe algo interior que é mais forte que
a razão. Por isto, precisa de tratamento médico - lembra o professor.
A maioria dos tratamentos procura mostrar a porta de entrada da cabeça do
paciente, para que ele, com o auxílio do profissional, identifique e,
posteriormente, eliminine a causa e possa voltar ao normal.
As causas para essa compulsão podem ser várias, mas sempre no nível emocional. A
psicóloga Wilsa Barreira sugere um tratamento psicoterápico, cuja duração
depende do caso e da linha teórica adotada pelo terapeuta.
Objeto de desejo
O comprador compulsivo consome qualquer tipo de mercadoria. Geralmente, são
produtos de valor mais alto do que permite a sua condição financeira. A
compulsão por adquirir bens materiais engana o auto-controle e a razão. No
momento da compra, a pessoa se sente recompensada e feliz, mas logo depois,
passa a se sentir culpada e a desejar novos objetos. Segundo o professor Dílson
dos Santos, da USP, a desculpa mais freqüentemente usada por aqueles que não
conseguem se conter diante de uma loja é o eu mereço!, e ele alerta para o
perigo da auto-premiação. A pessoa acha que tem o direito de se recompensar por
trabalhar oito horas por dia, por ser uma boa mãe, uma esposa compreensiva ou um
executivo bem sucedido. O compulsivo acaba inventando e acreditando em qualquer
desculpa para não ter que enfrentar a realidade de que a situação está fora do
seu controle. Esta válvula de escape é muito bem explorada pelo mercado. Toda
decisão de compra envolve riscos: financeiro, social, psicológico, físico e
tecnológico. O que os publicitários fazem é reduzir os riscos para o consumidor,
deixando-os em situação de compra, explica o professor da USP.
A compulsão por compras nem sempre pressupõe o descontrole financeiro. A
secretária-executiva Ana Lúcia Martins Guimarães da Silva, simplesmente adora
comprar. E não só para ela, mas para os três filhos e para a casa. Todos os
sábados, ela vai a quatro supermercados na Barra da Tijuca, bairro onde mora,
atrás de melhores preços e novidades. Não resiste a promoções, e quando a oferta
é boa, faz estoque, mesmo que não precise. Vaidosa, procura manter a forma com
ginástica, prática que a acompanha há 17 anos, desde o nascimento do primeiro
filho. Mas ela gostaria de ter mais tempo e mais dinheiro para cuidar de si
mesma. Como seu salário não cobre todas as despesas, conta com a ajuda
financeira do marido, um economista que não compartilha os mesmos hábitos, e, às
vezes, até reprova certas atitudes da mulher. Apesar de não se sentir frustrada
quando não compra algo que deseja, Ana não nega a sensação de recompensa e o
prazer que o consumo exagerado lhe proporciona. Sem qualquer vergonha, assume
que gosta mesmo é de comprar e satisfazer suas necessidades - umas básicas e
outras nem tanto. Seu próximo plano é trocar de carro. Como boa compradora
compulsiva, já está ansiosa e espera conseguir efetivar o negócio ainda este
ano.
Como age o compulsivo
- O consumidor impulsivo compra para satisfazer uma necessidade social, já o
compulsivo faz na tentativa de preencher uma falta pessoal.
- Não tem limites para a aquisição de objetos
- Nem sempre admite que tem problemas
- Na maioria das vezes, acaba se endividando mais do que pode
- Geralmente, apresenta outros tipos de distúrbios emocionais
- Sem saber da gravidade da situação, sente orgulho em cada nova aquisição.
Como encontrar a cura
- Procurar tratamento psicológico para buscar as raízes do problema
- Não tentar preencher a sensação de vazio interior com produtos materiais
- Não ceder aos estímulos oferecidos pelos comerciantes
- Prestar sempre atenção nos atos de excesso e tentar analisar o motivo da
aquisição
- Saber distinguir o supérfluo do que é que realmente necessário
- Evitar o uso de cartões de crédito e procurar pagar todas as compras à vista
e, de preferência, com dinheiro.
Para a psicanalista Márcia Maria Rodrigues Ganime as relações afetivas estão
sendo colocadas em segundo plano e o ter passa a ser mais importante do que o
ser. O lema atual é o pronto para o consumo.
- Somos estimulados a consumir a todo momento, mas existe diferença entre o
consumidor eventual e o compulsivo. Quem compra por necessidade e o que
necessita comprar. Existem pessoas que consideram importante comprar, não
importa o que. Neste caso é detectada a compulsão - explica.
Diferente do comprador impulsivo, que pode até não conseguir resistir a uma ida
ao shopping e vê aquela mercadoria dos sonhos com desconto de 50%, mas não tenta
compensar desvios emocionais através das compras, o compulsivo sente cada vez
mais necessidade de consumir e isto torna-se um fonte inesgotável de frustração.
Sofrimento. E a partir daí, ele começa a se endividar, a pedir dinheiro
emprestado, a evitar pagar com dinheiro e a usar métodos que adiem o sofrimento,
como cartões de crédito e cheques pré-datados. Com estes artifícios, o comprador
compulsivo retarda a consciência do problema. Quando ele percebe a gravidade,
tem uma crise de choro, mas não assume a culpa, que acredita estar no Governo,
no patrão, menos no consumo desenfreado, finaliza o professor. E a psicóloga
ratifica: O gasto financeiro é a pior conseqüência, já que, dependendo da
situação do consumidor, podem existir complicações sociais e econômicas graves.
O funcionamento mental do alcoólatra, o jogador compulsivo, o obeso e o
comprador compulsivo é bastante semelhante. Eles tentam aplacar um profundo
sentimento de vazio e angústia. Esse tipo de recurso é insatisfatório, porque é
ilusório. O compulsivo tenta apenas preencher um vazio ao invés de tentar
compreendê-lo, afirma a psicanalista Márcia Ganime.
Já para a psicóloga Wilsa Barreira, o problema vai além dos objetos materiais: A
sociedade, sem dúvida, auxilia este tipo de conduta quando nos sobrecarrega
desta forma. Tanto que nos transformamos em consumidores não só de objetos, mas
também de palavras e de imagens, esquecendo de nossa singularidade.
jornal do commercio
Cintia Magalhães e Helena Furtado
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