Consumidor - Inadimplência do consumidor já penaliza bons pagadores
Do simples esquecimento ao desemprego. Muitas são as razões
que levam o brasileiro a dar um "calote" nas dívidas contraídas. O fato é que a
inadimplência do consumidor já vem vitimando até o bom pagador.
"O brasileiro se complica porque não tem o hábito de planejar seu orçamento",
explica o economista e diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV),
Marcel Solimeo. "Sem planejamento, ele acaba surpreendido por imprevistos, como
a perda de emprego, por exemplo".
48% dos inadimplentes perderam o emprego
O desemprego é o motivo apontado por 48% dos 630 consumidores questionados pelo
IEGV sobre o motivo do calote. Para outros 15% e 10% dos consultados, o
empréstimo do nome para terceiros e o descontrole dos gastos são,
respectivamente, os principais responsáveis pelo não pagamento da dívida.
Solimeo explica que a renda média do brasileiro, "estacionada" em R$ 733 desde
2003, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o
faz recorrer aos empréstimos para complementar o salário, inflando ainda mais as
dívidas. Ainda de acordo com o IBGE, 80% da População Economicamente Ativa
(totalizada em 90 milhões de pessoas atualmente) usam algum tipo de crédito,
como cheque especial ou empréstimo em bancos, por exemplo.
Só no mês de fevereiro, garante o Banco Central, os bancos concederam R$ 163,4
bilhões em crédito aos consumidores pessoa física. De todos os tomadores de
empréstimo naquele mês, 7,1% estavam com atrasos de até 90 dias.
"O que acontece é que o brasileiro usa de forma errada o crédito", acredita o
sócio-diretor da Boanerges & Cia. (consultoria em varejo financeiro), Boanerges
Ramos Freire.
Vítimas
A inadimplência não é muito criteriosa quando decide escolher suas vítimas. Além
dos bancos, as financeiras e as administradoras de cartões de crédito também vêm
sofrendo com o crescimento dos calotes. Segundo pesquisa do Ibope, 16% das
pessoas que tem cartão de crédito estão atrasados com o pagamento de suas
dívidas.
"Crédito não é renda, é um instrumento que ajuda o consumidor a comprar algo em
determinado momento", acredita Freire. "E o cartão de crédito é um dos mais
arriscados. É como dar um cheque em branco sem ter conta corrente", compara.
Bom pagador também sofre com inadimplência
Está muito enganado quem pensa que somente os bancos, financeiras e os
inadimplentes são prejudicados com o aumento da dividas não honradas. Quem paga
em dia seus empréstimos também acaba penalizado. "O primeiro impacto da
inadimplência recai sobre o custo do crédito", esclarece o professor de economia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Armando Castellar. "No momento
em que o credor deixa de receber, ele aumenta o juro dos empréstimos, seja ele
lojista ou um banco".
Para contemplar o bom pagador, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP)
encaminhou ao Congresso Nacional o "cadastro positivo", transformado em Projeto
de Lei. Segundo o presidente da associação, Guilherme Afif Domingos, esse
cadastro concederia juros menores aos adimplentes, alavancando a economia.
Para o presidente do Serasa, Élcio Aníbal de Lucca, o cadastro se basearia no
histórico de pagamento de cada tomador.
"Sem o cadastro, o cliente é uma incógnita e o risco do mercado é rateado por
todos", resume Freire. Com informações do Diário do Comércio, órgão oficial da
Associação Comercial de São Paulo.
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