Carreira / Emprego - Um negociador de sucesso é aquele que pensa no outro
Ser um hábil negociador é uma competência fundamental para quem atua no mundo
dos negócios, especialmente nesse momento de crise. É preciso, mais do que em
outras situações, saber lidar com credores, funcionários, clientes e acionistas,
todos com emoções alteradas. "É uma situação atípica da negociação, por conta
dessa ansiedade incomum", afirma Maria del Pilar Galeote Muñoz, sub-diretora do
Centro de Negociação e mediação do IE Business School.
Para Maria del Pilar Galeote Muñoz, do IE, nesse momento crítico é preciso
pensar em negociação de interesses, aquela em que as duas partes saem ganhando
Nesse momento crítico é preciso pensar em negociação de interesses, aquela em
que as duas partes saem ganhando. "Nós chamamos de negociação de convencimento,
que na verdade se escreve 'com-vencimento', uma forma que mostra o ganho de
ambos", afirma a executiva que esteve no Brasil para fazendo palestras para
ex-alunos do IE, na Fundação Getúlio Vargas, parceira do instituto, entre outros
encontros.
O conceito ganha-ganha foi criado na Harvard Business School, segundo Max H.
Bazerman, professor de negociação da escola de negócios. Ele desmistifica a
idéia de que "o que é bom para mim é ruim para o outro".
Em tempos de negócios e crises globais, além de preocupar-se com itens
tradicionais de negociação, hoje é preciso avaliar o tema sob o aspecto
internacional. Isso, entretanto, não significa aprender os estereótipos de cada
povo. Na opinião de Pilar, a principal dica para quem lida com transações com
outros países é estudar as características gerais de cada cultura -
principalmente separando as orientais, nórdicas e latinas -, para garantir que
será um bom anfitrião. É preciso respeitar eventuais diferenças e entender as
peculiaridades.
Segundo Pilar, no Brasil o processo para fechar uma companhia é tão longo, que
garante aos negociadores tempo suficiente para discutirem e chegarem a um acordo
com os credores. É diferente do que acontece na Espanha, que entre a comunicação
de falência e o fechamento dos negócios passam-se apenas seis meses. "Até mesmo
os sindicalistas são adeptos da negociação de interesses, ao contrário do que se
imagina, que eles impõe suas vontades e ponto final", diz.
Ela lembra que se você num negócio tentar tirar muita vantagem sobre o lado
oposto, há um grande risco de essa pessoa perceber a sua jogada e nunca mais
concordar em sentar em uma mesa para negociar com você. Ou também há uma chance
dela não cumprir o contrato. Isso é uma perda grande e um preço alto demais para
se pagar em acordos. Por isso, a principal dica da professora de negociação é
descobrir os principais interesses da outra parte. Antes de se sentar
efetivamente para conversar, vale pesquisar a vida da pessoa, seus possíveis
interesses. Ouvir atentamente a outra parte na hora de negociar também é bem
importante. O próximo passo é estudar todas as implicações de cada uma das
possibilidades no acordo, segundo ela. "Cerca de 75% do crédito pelo êxito de
uma negociação se deve à preparação, que inclui a busca por informações e o
estabelecimento da estratégica e da tática que serão aplicadas", estima.
Outro item fundamental é a comunicação. Se a pessoa não conseguir expor as
idéias com eficiência, a preparação pode não valer nada. "E faz parte da
comunicação começar a conversa de um jeito leve, sem ir direto ao ponto
crítico", destaca. Ao contrário do que se imagina, restaurantes não são os
locais mais indicados para se marcar e fazer negociações. Como isso é muito
comum no Brasil, Pilar diz que não é preciso se recusar a ir. Mas nunca feche o
negócio nesse ambiente. "Existem pessoas muito boas em tratar de sutilezas em
momentos de aparente descontração, como o da sobremesa e o mais distraído pode
ser afetado", afirma. Se não tiver jeito, procure um restaurante que freqüente,
que se sinta a vontade, conheça o cardápio e a localização do banheiro - isso
ajuda a manter a tranqüilidade.
Apesar de ser um tema que possui teoria para aprendizado, a habilidade de
negociar é algo que se pratica em atividades rotineiras e que se aprende também
com relatos de quem está vivenciando processos. A disciplina, que surgiu em Camp
David, acordo de paz que deu origem ao tratado de paz entre Israel e Egito, é
algo que hoje faz parte de todos os cursos do IE. "É um tema novo mas que
começou a ficar forte nos cursos há 10 anos", diz. A diferença entre o que se
ensina de bom e ruim, segundo Pilar, são os chamados truques. "Eles não
funcionam, isso está fora das aulas sérias".
Bazerman, o professor de Harvard, lista pequenas dicas - não truques - para que
você se saia melhor em negociações, especialmente as mais tensas geradas pela
crise: construa um ambiente de confiança e troque informações; pergunte de um
jeito que você também não se importaria de responder; esconda algumas
informações; faça diferentes ofertas simultaneamente, pois pelo menos você vai
descobrir o que é mais importante para o outro. Por fim, ele sugere que você
faça concessões, para garantir o sucesso de um acordo. "Mas nunca faça todas de
uma vez". Segundo ele, as pessoas tendem a valorizar mais se você as fizer em
parcelas.
Referência:
Jornal Valor Econômico
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