Viver endividado não é nada fácil. Imagine a angústia de ter
o nome na lista dos inadimplentes e dormir sabendo que quitar as dívidas se
tornou uma tarefa praticamente impossível!
Em alguns casos, as pessoas acabam emocionalmente abaladas ao perder o controle
de sua vida pessoal. Existem várias razões que podem levar uma pessoa a
enfrentar dificuldades financeiras e se endividar. Contudo, é preciso entender
se estamos falando de uma situação temporária, ou não.
Situação temporária ou não?
Muitas vezes basta um evento extraordinário para que você perca o controle
financeiro da sua vida. Nesse tipo de situação, nossa recomendação é que você se
esforce ao máximo, cortando todos os gastos que puder, de forma a sair rápido
desta situação.
Em nossa análise estamos considerando que a situação de endividamento é
temporária, e que pode ser resolvida em alguns meses. Essa consideração é
importante, pois não considere apenas o patamar de juros cobrado, mas também
outros aspectos de riscos envolvidos no atraso do pagamento dos encargos de uma
determinada dívida.
Por outro lado, em uma situação de endividamento crônico, mais do que priorizar
pagamentos é preciso rever de forma significativa não só o seu padrão de gastos,
como identificar fontes alternativas de renda para reduzir ao máximo o déficit
no orçamento, assim como procurar ajuda especializada.
Entender os riscos é primeiro passo
Quais os riscos que você corre ao atrasar o pagamento de uma dívida? O primeiro
deles é ser considerado inadimplente e ter seu nome incluído no cadastro de maus
pagadores do Banco Central, o que pode lhe causar muita dor de cabeça no dia a
dia. E, o segundo, igualmente importante, é o custo que essa decisão acarreta! É
frente a esses riscos que você deve priorizar quais dívidas deve pagar primeiro
quando a sua situação financeira apertar.
Quem respondeu que a prioridade deve ser dada à dívida cujo encargo financeiro é
mais alto esqueceu do risco de retomada ou penhora do bem. Este é um risco que
não pode ser ignorado, pois você corre o risco de perder o bem e as prestações
que já quitou!
Assim, é preciso analisar com calma as condições previstas nos financiamentos
que você levantou, para só então, tomar uma decisão quanto ao que priorizar.
Vale destacar que a idéia aqui não é de, em absoluto, advogar que você não pague
as suas prestações, mas sim entender quais as conseqüências em caso de atraso
das principais modalidades de crédito existentes. Além disso, é preciso entender
o saldo devedor em cada caso, assim como, o prazo durante o qual a dívida será
atrasada.
Crédito rotativo: cheque ou cartão
Por mais que a recomendação possa surpreender, nos casos de endividamento
temporário, pode valer a pena optar por utilizar o crédito rotativo do cheque
especial e do cartão de crédito.
Sob essa ótica que não analisa apenas os encargos financeiros, pode valer mais a
pena pagar juros extras no cartão e no cheque por alguns meses do que não
efetuar o pagamento de um crediário, de empréstimo pessoal, ou financiamento
imobiliário, pois nesses outros casos, ainda que os juros sejam menores, você
corre o risco de ter o nome sujo ou sofrer a retomada do bem.
Mas, como escolher entre o cheque ou o cartão? Se você ainda não estourou o
limite do cheque especial, ou seja, se você ainda não emitiu nenhum cheque sem
fundo, então o melhor é pagar integralmente a fatura do cartão, deixando para
rolar a dívida no cheque especial por mais algum tempo.
Não só os juros do cheque especial são mais baixos do que os do cartão, como ao
atrasar, desde que não seja emitido cheque sem fundo, não há outros encargos.
Por sua vez, no cartão, se você não efetuar o pagamento mínimo, deve também
arcar com uma multa de mora de 2%. Além disso, dependendo do relacionamento que
você tem com o seu banco, é possível negociar alguns dias de carência sem juros
no cheque. Em outras palavras, você consegue mais alguns dias para cobrir o
limite do cheque especial sem custo adicional.
A situação, contudo, se inverte caso você já tenha estourado o limite do cheque
especial, pois nesse caso seu nome pode ser incluído no cadastro de
inadimplentes, e é preciso arcar com outros custos. Pois é isso mesmo, ao emitir
cheque sem fundo e ter seu nome incluído ou excluído do cadastro de
inadimplentes você tem que pagar uma tarifa.
Essa tarifa é cobrada por evento, ou seja, por cheque sem fundo emitido ou por
inclusão no cadastro de inadimplentes.
Crediário: risco de retomada é menor
Para quem estourou o limite do cheque especial e não tem como arcar com todos os
encargos financeiros, os fatores a considerar em termos de prioridade são os
custos e o risco de retomada do bem.
Diante disso, você deve optar por atrasar a dívida cujos juros e o risco de
retomada de bem sejam relativamente menores. Esse é o caso, por exemplo, do
crediário, que é oferecido pelas grandes varejistas para a compra de eletrônicos
e eletrodomésticos, entre outros. Em geral, os juros cobrados nesse tipo de
financiamento tendem a ser mais baixos do que as outras linhas de crédito
existentes no mercado, até porque os bens servem de garantia.
A inclusão na lista de inadimplentes é relativamente rápida: demora de 10 a 15
dias. Por outro lado, é bastante improvável, dado o valor do bem, que os
credores exijam sua retomada imediata. Afinal, este processo é bastante custoso
e, às vezes, não compensa ao comerciante ir atrás do aparelho de som ou DVD, por
exemplo.
Além disso, existe a possibilidade de se vender o bem alvo do financiamento, de
forma a obter recursos para quitar a dívida. Ainda que essa não seja a solução
ideal, uma vez que a intenção era comprar o bem, ela permite que você regularize
sua situação financeira. Depois, com um maior planejamento financeiro, você pode
até voltar a comprar o aparelho, mas quando seu endividamento for menor!
Empréstimo pessoal: é possível renegociar
A prioridade em relação ao crediário vai depender dos valores e prazo envolvidos
e da instituição com a qual levantou o financiamento. Atualmente, é mais barato
levantar um empréstimo pessoal junto a um banco do que fazer um crediário junto
a uma varejista.
Desse ponto de vista, pode parecer mais interessante atrasar o empréstimo
pessoal, mas ao contrário do que acontece com os crediários, nos empréstimos
bancários há mais espaço para se renegociar os termos do crédito desde, é claro,
que os pagamentos sejam mantidos. Assim, ao invés de não efetuar o pagamento,
vale mais a pena tentar alongar o prazo de financiamento, o que reduz a
prestação mensal e dá mais liberdade para você tentar organizar suas finanças.
É bem verdade que ao aumentar o prazo você acaba pagando mais juros ao final do
financiamento, mas você evita a inclusão no SPC. Vale lembrar que no caso dos
empréstimos consignados, não há como evitar o pagamento, de forma que não estão
incluídos nessa análise.
Financiamento de carro e casa
Atrasar o pagamento da prestação do automóvel ou da casa própria pode gerar
conseqüências bem negativas. Mesmo sendo das modalidades de financiamento mais
baratas do mercado, você corre o risco de retomada do bem.
Por se tratar de bens de maior valor agregado, a tendência é que a retomada
ocorra em, no máximo, três meses. Caso isso aconteça, além de perder o carro (ou
a casa) você continua devendo, sobretudo no caso do financiamento de autos. Isso
porque, ao contrário do que acontece com o imóvel, o veículo sofre depreciação,
ou seja, vale menos do que quando foi comprado, o que é mais difícil de
acontecer no caso dos imóveis.
Assim, neste caso, a instituição financeira pode levar o auto a leilão, e com o
dinheiro da venda precisa pagar também as despesas com todo este processo, como
o trabalho do oficial de Justiça, advogados, guincho, estacionamento etc. Em
alguns casos, mesmo vendendo o carro, o dinheiro da venda não é suficiente para
cobrir o saldo devedor e todos estes gastos extras, de forma que resta um saldo
a ser quitado. Exatamente por isso, o pagamento das prestações destas duas
modalidades de financiamento merece prioridade na hora de decidir o que pagar.
Equilíbrio financeiro deve ser a meta
Ainda que existam momentos em que seja preciso priorizar os pagamentos, o ideal
é que você consiga recuperar o seu equilíbrio financeiro o mais rápido possível,
e para isso é importante estabelecer um plano de quitação das suas dívidas. Por
equilíbrio entende-se não ter mais do que 30% do seu orçamento mensal líquido
comprometido com o pagamento de prestações. Use este limite para ajudá-lo a
tomar decisões de consumo.
Sempre que uma nova compra levar o seu endividamento para acima deste teto, você
deve optar por adiar a compra até conseguir quitar outra dívida. Lembre-se:
quando o grau de endividamento é muito alto, tem-se uma sensação ilusória de
controle, uma vez que basta uma pequena adversidade financeira para você se
endividar novamente.