Eis um tema que sempre gera longos debates. Planejamento de vendas,
planejamento estratégico, plano orçamentário, planejamento de capacidade,
planejamento de pessoal, plano operacional, plano financeiro, cronograma de
projeto, enfim, são inúmeras as formas de se aplicar o simples exercício de
pensar à frente no tempo para antecipar dificuldades e se precaver contra
incertezas. Várias pesquisas indicam que a falta de planejamento é um dos
principais motivos que levam as empresas nascentes a fecharem prematuramente.
Livros de administração, cursos e consultorias vendem diversas formas de solução
baseados em ferramentas que auxiliem no processo de planejamento.
Por outro lado, muitos empreendedores, hoje bem sucedidos, já declararam com
bastante convicção que se tivessem baseado o negócio deles em um planejamento
prévio, detalhado e abrangente, já teriam desistido do negócio antes mesmo de
começar. Exageros à parte, a verdade é que existe um fundo de verdade neste
raciocínio. Onde está a explicação por trás desta contradição?
O planejamento requer uma certa dose de adivinhação, ou seja, antecipar-se a
coisas que podem acontecer no futuro. No caso do cenário econômico brasileiro,
este é um exercício um tanto quanto desafiante, dados a instabilidade e o
dinamismo do ambiente, no qual as variáveis que podem gerar algum impacto no
negócio são tão diversas que é uma ilusão considerar que as condições mais
relevantes para o negócio possam ser antecipadas para a elaboração de um plano
eficaz e acurado. Não sabemos qual vai ser o comportamento do concorrente ou do
cliente. Não temos como descobrir o impacto de certas mudanças na legislação
sobre o nosso negócio. É praticamente impossível conceber todos os agentes
externos que podem gerar alguma influência sobre o negócio.
A verdade é que todos os planejamentos são mera adivinhação. E se assim for,
então porque planejar? Porque gastar tempo e esforço para se dedicar algo que
pode não servir para nada? A resposta é que, mesmo sendo mera adivinhação, os
bons planos são aqueles cuja adivinhação está o mais próximo possível da
realidade. Portanto, só vale a pena planejar se este planejamento estiver
embasado em dados concretos, em estudos bem feitos e numa boa dose de
experiência do empreendedor no negócio ou setor.
O segundo elemento de um bom planejamento é a capacidade de adaptação do
plano. Um mal plano estabelece o que deve ser feito com todos os detalhes
possíveis previamente estabelecidos. Um bom plano, por outro lado, considera que
os pressupostos sobre os quais o planejamento foi construído, podem mudar, e
portanto, o plano deve ser flexível o suficiente para acomodar mudanças conforme
novas circunstâncias forem surgindo.
O terceiro elemento de um bom plano é a capacidade de efetivamente mudar o
futuro. Embora muitas variáveis estejam fora do controle do empreendedor, o bom
plano é aquele que se baseia em ações do empreendedor que possam condicionar a
realidade para se adequar às prescrições estabelecidas no plano. Quanto mais o
plano for dependente de variáveis fora de controle, menos relevante ele se
torna.
O quarto elemento é o horizonte de tempo. Quanto mais longo for o prazo das
ações previstas no plano, maior é a chance de não acontecer o que foi previsto,
pois pequenas mudanças que ocorrem no curto prazo geralmente levam a caminhos
muito distintos no futuro mais distante, tornando as previsões do plano
completamente irrelevantes. Bons planos são detalhados no curto prazo, quando as
variáveis são mais previsíveis e controláveis, e mais abrangentes no longo
prazo, servindo apenas como indicadores de direção, com poucas ações
operacionais. Na medida em que o tempo avança e o empreendedor vai adquirindo
mais informações sobre o ambiente, ele pode ir revisando e adequando seu plano,
incorporando detalhes que antes ele não teria como colocar.
Não se esqueça, entretanto, que o bom empreendedor também sabe ler o momento
e reconhecer quando esquecer o árduo esforço de planejar feito anteriormente
para deixar seu negócio navegar livremente ao sabor do vento de vez em quando
para ver, se no local onde aportar, existirão novas oportunidades a serem
aproveitadas. Ter o espírito e a mente aberta para o desconhecido, para o
pioneirismo e o desbravamento de novos horizontes é o caminho daqueles que
escolhem a inovação como fator que diferencia seu negócio dos concorrentes.