Separar o pessoal do profissional nem sempre é fácil. Muitas vezes, o que
dificulta essa transição é a questão emotiva. Deixar determinadas emoções em
casa para ir ao trabalho é a solução que muitos profissionais encontram no
sentido de melhorar a performance, pois muitos sentimentos acabam prejudicando
os resultados.
Contudo, encontrar alguém que conseguiu de fato sufocar o que sente e chegar
ao trabalho como se fosse outra pessoa é tão mais difícil quanto distinguir
emoções. “Os sentimentos estão dentro da gente. Sentimos o tempo todo. Não dá
para dizer que somos uma pessoa no trabalho e outra em casa”, afirma o gerente
de Projetos em Desenvolvimento de Pessoas do Idort-SP, Danilo Afonso.
Sufocar emoções pode ser tão danoso para o trabalho quanto se pensa, como
explica a psicóloga Clarice Barbosa. “Uma pessoa que sufoca o que sente tende a
ter dificuldades de comunicação, de impor limites e tende a ficar sempre
ressentida e se torna uma pessoa mais passiva”. Além desses danos, o fato de
tentar ser uma pessoa em casa e outra no trabalho em termos emotivos pode evitar
que o profissional se atente a pontos importantes sobre si mesmo. “As emoções
são pistas para nos conhecermos”.
Embora seja difícil sufocar o que sentimos, estar atento às emoções de
maneira a buscar um equilíbrio é ponto importante para não prejudicar a
carreira. E para isso, é possível estimular sentimentos que ajudam no trabalho e
equilibrar aqueles que podem prejudicá-lo. “Não podemos negligenciar o que
sentimos”, reforça Danilo Afonso.
Barreiras emocionais e emoções estimulantes
Às emoções que podem prejudicar os resultados Clarice chama de barreiras
emocionais. “Esses bloqueios emocionais impedem o crescimento, fazem com que o
profissional tenha a tendência de colocar a culpa de seus fracassos no chefe ou
na empresa”.
Sentimentos como raiva, ódio, inveja, tristeza e ansiedade são os que podem
mais prejudicar a carreira – o que não significa que eles devem ser sufocados.
“Até emoções que podem ser vistas como negativas podem ajudar de alguma forma. A
raiva, por exemplo, se bem canalizada, pode nos estimular a agir”, explica a
psicóloga.
No caso da tristeza e da ansiedade, elas são danosas quando excessivas.
Nesses casos, é preciso um equilíbrio emocional bem apurado, para que esses
sentimentos não prejudiquem o trabalho. Já o ódio e a inveja, para a psicóloga,
podem ser considerados os sentimentos que mais barram o desenvolvimento da
pessoa tanto na vida profissional como na pessoal.
“O ódio estimula a vingança e a inveja faz com que a pessoa esteja sempre
planejando uma maneira de boicotar aquele colega que se destaca. Os dois
sentimentos fazem a pessoa perder tempo pensando no outro e não nela”, explica
Clarice.
No sentido contrário, emoções como amor, compaixão, felicidade e generosidade
podem estimular o profissional. Primeiro porque, de maneira geral, elas
despertam mais cuidado na execução das tarefas. Depois, porque deixam as pessoas
mais suscetíveis para trabalhar em grupo. “Elas se atentam mais ao outro”,
afirma Clarice.
Rumo ao equilíbrio
Se sufocar sentimentos pode não ser a melhor saída, como buscar o equilíbrio
emocional a ponto de tornar a vida no trabalho mais produtiva? “No ambiente de
trabalho, vamos sentir tudo. A questão não é o que você sente, mas o quanto você
vai alimentar esses sentimentos”, afirma Danilo Afonso, do Idort-SP. “É preciso
buscar a coesão em meio à divisão”.
Para tanto, o profissional precisa investir no autoconhecimento, pois
sentimentos que dominam a ação podem levar a uma visível perda de produtividade.
“Você acaba gastando muita energia pensando no problema”, considera o
especialista.
Nesse autoconhecimento, o profissional precisa fazer perguntas como: você
gosta do que faz? Você tem paixão pelo que faz? “O autoconhecimento ajuda a nos
direcionar e a descobrir o que é a sua paixão. Quando você tem prazer pelo que
faz, o trabalho lhe envolve de tal maneira, que você não pensa nos problemas”.