“Gestão de pessoas não é com o RH”. É com essa provocação que o consultor
empresarial da ValuePoint, José Luiz Bichuetti, pretende trazer um novo
paradigma de discussões sobre a atuação do profissional dessa área dentro das
empresas e organizações. A afirmação é nada menos que o título do seu livro que
analisa a área da gestão e que está fazendo o profissional viajar pelo país
expondo seu peculiar ponto de vista sobre o assunto.
“O departamento de Recursos Humanos tem que ter um papel estratégico nas
companhias, deve ter a responsabilidade de prover apoio a todas áreas da
organização, fornecer ferramentas, prestar consultorias para que as áreas saibam
gerir seus recursos, mas a responsabilidade pelo contato diário com as pessoas é
do gestor da área onde elas atuam”, analisa.
Segundo Bichuetti, em uma grande quantidade de empresas, o departamento de
Recursos Humanos é um mero gestor na área de recrutamento e seleção, rescisão ou
benefícios. “Mas não deveria ser assim”, condena Bichuetti. “E não estou dizendo
que o Recursos Humanos tem uma atribuição menos importante do que cuidar das
pessoas. Ao contrário: defendo-a como maior que isso, uma parceira de negócios
na organização”, diz o especialista.
Para mudar essa realidade, no entanto, o executivo defende que, em pelo menos
uma situação, é inevitável mudança. “É muito difícil trabalhar contra o
comodismo do principal executivo, uma visão distorcida sobre a área do RH pelo
CEO ou diretor. Se o próprio diretor ou gestor não encara a função da área de
Recursos Humanos como valor da organização, será complicado desenvolver todo
processo que envolve os elos dessa cadeia de valores”, alerta Bichuetti.
Mudanças
Para mudar esse paradigma, Bichuetti diz que alguns pontos da gestão devem
ser revisados: “Os líderes devem passar a encarar o capital humano como ativo,
os executivos devem se preparar mais para gerir o seu pessoal e a área de
Recursos Humanos deve ser mais valorizada nas empresas”, defende Bichuetti.
Uma das causas para esse cenário, segundo o especialista, é a ausência da
abordagem sobre gestão de pessoas nos cursos superiores e de formação
profissional. “Nas escolas de administração você encontra currículos com até
quatro semestres sobre gestão financeira, marketing e vendas e, às vezes, um
semestre de gestão de pessoas. O tema ainda precisa ganhar relevância na
formação”, defende o autor do livro “Gestão de pessoas não é com o RH”.
Dentro das organizações, uma das dicas de Bichuetti é que o departamento de
RH esclareça sua função aos colaboradores, defenda sua ideia e função mais
estratégica dentro da empresa. “Ainda vemos muitos departamentos de RH
submissos, debilitados, sem estatura, que aceitam qualquer condição, função e
expectativa. Há muitos casos de gestores de RH que se tornam figuras meramente
operacionais”, relata o consultor.
Talentos
Mas em um cenário onde a atração e retenção de talentos é um desafio cada
vez mais primordial para as organizações, não é um contrassenso que esse cenário
do departamento de RH continue sendo visto, em muitas situações, apenas como
coadjuvante? “Sim”, responde Bichuetti. “Sempre que palestro sobre o assunto e
percebo a reflexão provocada entre os profissionais da área de Recursos Humanos,
me questiono se há um problema de mercado ou se o que há, de verdade, é um
excesso de ambientes inibidores de pensamento, atividade, justamente provocado
por visões distorcidas”, diz.
Bichuetti admite que vê necessidade de uma mudança cultural mais rápida nas
empresas, para assimilar o papel que entende como adequado para os departamento
de Recursos Humanos. “É preciso entender que uma área moderna de Recursos
Humanos deve abranger diversas responsabilidades, começando pela estratégia na
gestão de gente e deve participar no desenvolvimento do plano estratégico
empresarial”, defende.
Ele acredita que a geração Y (os nascidos após 1980 até meados da década de
1990) deve ajudar a mudar esse paradigma. “Essa mobilidade característica dessa
geração deve ajudar as empresas a repensarem suas estratégias em gestão de
pessoas”, acrescenta o especialista.