Deixar o mercado executivo para ingressar em uma carreira acadêmica é uma
aposta muito comum entre executivos, gerentes, CEOs (Chief Executive Officer) e
diretores de empresas de diversas áreas. Trata-se de uma mudança complexa de
ação, ambiente, proposta e ritmo de trabalho que requer reflexão.
Segundo a professora da área de gestão de pessoas da FIA, Elza Veloso, esse
movimento dos empresários rumo às salas de aulas é uma tendência. “E como toda
tendência, tem algumas armadilhas”, alerta.
Segundo a docente, é necessário que o profissional aja com ponderação,
critério e planejamento para fazer uma transição como essa. “O primeiro aspecto
é verificar se o profissional realmente tem aptidão para a carreira acadêmica,
provocando para si próprio situações para testar esta aptidão. Ele conseguirá
ler e escrever em linguagem acadêmica? Conseguirá trabalhar com a exposição
diária a uma turma de alunos? São pontos que devem ser avaliados”, analisa.
Mudanças
A especialista alerta também que toda mudança de trajetória é um processo
lento e que requer paciência, sobretudo quanto à adaptação da rotina em novas
funções e à necessidade de recomeçar uma trajetória para alcançar o grau de
reconhecimento conquistado na empresa.
Elza recomenda, inicialmente, a busca por um curso de mestrado. “O ideal é
que ele ingresse em um mestrado profissionalizante, e comece a exercitar essa
transição para a carreira acadêmica. Sem um curso de mestrado, será difícil que
ele tenha aceitação inicial em alguma universidade de forma imediata”, explica.
Elza dá mais uma dica para aqueles que desejam sair do mercado corporativo em
direção a salas de aulas: é necessário humildade. “É até comum vermos pessoas
que passaram por muitas situações e momentos no mundo corporativo terem alguma
restrição ao aprendizado. Muitos têm a sensação de que sabem até mais do que os
próprios professores”, analisa. Essa postura, diz a especialista, compromete o
desenvolvimento dos potenciais futuros docentes.
Outra dificuldade, alerta Elza, é que os executivos devem entender que seu
histórico profissional não será simplesmente retransmitido quando ele entrar em
sala de aula. “Esse é outro desafio. O profissional terá de começar de baixo
novamente e tudo vai depender dos acessos que ele tem, escolhas que ele fizer e
projetos que desenvolver”.
Perfil
Nem todas as características que fazem um gerente ou diretor ser reconhecido
terão direto respaldo no mundo acadêmico, assim como nem todas as suas
dificuldades no mercado onde atuava são transferíveis para o mundo das
universidades. “Um bom professor tem que saber fazer o link entre o prático e o
teórico, com bons subsídios nos dois campos. Não basta ter sido um grande
empreendedor para dar uma boa aula”, detalha.
Outra diferença que um executivo pode sentir na troca de área é a salarial.
“Tudo depende de como ele pretende conduzir sua carreira acadêmica, se paralela
à de consultor, para complementar a renda, ou se a docência e pesquisa será sua
principal fonte de recursos. Neste caso, para obter um retorno maior, é
necessário fazer um investimento também maior, e de mais longo prazo, como
partir para um doutorado, investir em pesquisa etc”.