Os preços das ações são determinados no Mercado, onde os vendedores
suprem a demanda dos compradores. Não há equação exata que nos diga como uma
ação irá se comportar, mas leremos neste artigo algumas coisas sobre as forças
que movem uma ação para cima ou para baixo.
Estas forças caem sobre três categorias: Fatores Fundamentalistas, Fatores
Técnicos e o Sentimento do Mercado.
Fatores Fundamentalistas
Em um mercado eficiente, os preços das ações seriam determinados
primariamente por fundamentos, que, num nível básico, refere-se à combinação de
duas coisas:
1) uma base de lucros (ex: Lucro por Ação);
2) um múltiplo de valuation (ex: Relação Preço/Lucro)
O investidor em ações clama por lucro. E lucro por ação é o retorno deste
investidor sobre seu investimento. Assim, quando você compra uma ação você está
comprando uma fatia proporcional dos lucros futuros da empresa. Esta é a razão
para o múltiplo de valuation: ele é o preço que você
está pagando agora para este futuro inteiro de lucros pela frente.
Parte deste lucro deve ser distribuída como dividendo, enquanto a parte
restante do lucro será retida pela companhia para reinvestimento na própria
empresa. Podemos pensar neste "rio de lucros" futuros como uma função conjunta
do nível atual de lucros e do crescimento esperado na sua base de lucros.
Sobre a Base de LucrosEmbora estejamos usando o LPA (Lucro Por Ação), uma medida da Contabilidade,
para ilustrar o conceito da base de lucro, existem outras medidas de força dos
lucros. Muitos argumentam que as medidas de base do fluxo de caixa sejam
superiores. Por exemplo: Fluxo de Caixa Livre por Ação é usado como uma medida
alternativa de força dos lucros.
O modo como a força dos lucros é medida deve também depender do tipo de
companhia. Muitas indústrias têm suas próprias medidas feitas especificamente
para elas.
Investimentos no mercado imobiliário por exemplo usam uma medida especial de
força dos lucros chamada fundos de operações. Na maioria das vezes, as
companhias maduras são medidas por Dividendos por Ação, que representa o que o
possuidor da ação realmente recebe.
Sobre o Múltiplo de Valuation
O múltiplo de valuation expressa as expectativas
sobre o futuro. Como já explicamos, este múltiplo é fundamentalmente baseado
sobre o valor presente descontado dos lucros futuros. Portanto, aqui, os dois
fatores chaves são:
1) O crescimento esperado;
2) A taxa de desconto que será usada para calcular o valor
atual dos lucros futuros. Uma taxa de crescimento mais alta dará a ação um
múltiplo mais alto, porém uma taxa de desconto mais alta dará um múltipo
mais baixo.
O que determina a taxa de desconto?
Primeiro, ela é uma função do risco percebido. Uma ação com mais risco ganha
uma taxa de desconto mais alta, que em volta ganha um múltiplo de
valuation mais baixo.
Segundo, é uma função de inflação. Inflação mais alta recebe uma taxa de
desconto mais alta, o qual recebe um múltiplo de valuation
mais baixo (ou seja, os lucros futuros valem menos em ambientes com uma inflação
alta). Também pode-se, ao invés da inflação, a taxa de juros básica, mas isto
ainda é discutível.
Em suma, os fatores chaves fundamentais são:
• O
nível da base de lucros (representada pela medida de LPA, Fluxo de Caixa por
Ação, Dividendos por Ação);
• O
crescimneto esperado na base de lucros;
• E
a taxa de desconto -- que é por si só uma função de inflação e risco
percebido na ação.
Fatores Técnicos
As coisas seriam mais fáceis se apenas fatores fundamentalistas ajustassem os
preços das ações. Os fatores técnicos são uma mistura de condições externas que
alteram a demanda de oferta e procura pela ação de uma empresa. Alguns destes
fatores técnicos afetam indiretamente os fatores fundamentalistas. Por exemplo,
o crescimento econômico indireto contribuiria para o crescimento dos lucros.
Os Fatores Técnicos incluem o seguinte:
•
Inflação - Nós mencionamos inflação como uma entrada no
múltiplo de valuation. Mas, pode-se dizer também que
a inflação é um grande direcionador quando se fala em uma perspectiva mais
técnica. Historica-mente, inflação baixa teve uma forte correlação inversa com
valuation (lembre-se, inflação baixa conduz a
múltiplos altos, e inflação alta leva a múltiplos baixos). Deflação, por outro
lado, é geralmente ruim para as ações porque isso significa uma perda na força
dos preços de venda dos produtos das companhias.
•
Força econômica do mercado e semelhança de setores - As ações das
companhias tendem a seguir o mercado e as ações das indústrias que fazem parte
do mesmo ramo ou estão no mesmo nível industrial. Algumas firmas proeminentes de
investimento argumentam que a combinação de todo o mercado e os movimentos
setoriais determina a maior parte de um movimento nas ações - ao contrário da
performance individual de uma empresa. Por exemplo, uma previsão negativa e
repentina para uma ação de empresa varejista (como Lojas Americanas PN) atinge
outras empresas do setor varejista numa forma "associativa" ruim o que acaba
derrubando a procura por ações do setor varejista inteiro. E se há pouca gente
interessada em comprar, acaba que por derrubar as cotações já que há mais
vendedores querendo sair de ativos que não atraem outros investidores ou que não
saem do lugar.
•
Substitutos - As companhias competem por investimentos com
outras classes de ativos em um cenário global. Isto inclui bônus de companhias,
commodities como petróleo ou açúcar, imóveis, e investimentos no em outros
países. A relação entre procura por investimentos americanos e seus substitutos
é dificil de se mensurar, mas ela representa um importante papel no mercado.
•
Transações Incidentais - são compras ou vendas de uma ação que
são motivadas por alguma outra coisa além da crença no valor intrínseco da ação.
Estas transações incluem transações de executivos de dentro da própria empresa,
as quais são frequentemente pré-programadas ou direcionadas por objetivos de de
ajuste de carteira. Outro exemplo é uma instituição comprando ou vendendo uma
ação para fazer hedge de algum outro investimeto.
Embora estas transações não representem necessariamente que o investidor que fez
isso acredite que o papel possa cair ou subir, e sim que a operação foi
realmente apenas de proteção de outro investimento feito. Porém, eles criam
impacto na demanda de oferta e procura e portanto podem mover os preços das
ações. Um exemplo de hedge com ações seria comprar uma ação de uma empresa de de
determinado setor, e vender a ação de outra empresa do mesmo setor. Ou até mesmo
fazer arbitragem com ações. Por exemplo, o investidor vende Vale5 e compra
Vale3.
•
Demográficos - alguns estudos importantes têm sido realizados a
respeito da localização demográfica de cada investidor. E muito disso concerne a
estas duas dinâmicas a seguir:
•
Investidores de meia-idade estão numa fase de altos ganhos com salários e
bônus, e que tendem a investir no mercado financeiro;
•
Investidores mais velhos tendem a sair do mercado com o intuito de se
aposentarem. A hipótese é que quanto maior a proporção de investidores de
meia idade entre as pessoas que investem, maior é a demanda por
investimentos e mais alto são os múltiplos de valuation.
•
Tendências - Freqüentemente uma ação move-se simplesmente de
acordo com uma tendência de curto prazo. Por um lado, uma ação que está subindo
pode ganhar forças, como se "o sucesso alimentasse mais
sucesso" e a popularidade elevasse as ações ainda mais para o alto. Por
outro lado, uma ação às vezes comporta-se de modo oposto à tendência do mercado.
Infelizmente, por que os preços movem-se tanto para cima como para baixo - e
isso é mais óbvio quando se olha o gráfico do lado esquerdo - saber que as ações
estão em tendência não nos ajuda a predizer o futuro. Observe que as tendências
poderiam também ser classificadas sob Sentimento do Mercado que veremos mais à
frente.
•
Liquidez - é um fator importante e às vezes sub-apreciado. Ela
se refere a quanto de interesse e atenção uma ação projeta no investidor. As
ações da Petrobrás tem liquidez altíssima e portanto as notícias sobre a empresa
geram uma resposta imediata nas cotações do ativo. E nas empresas de médio porte
(small-caps) a resposta a noticias é mais lenta. O número de negócios é um
indicador de liquidez. Mas é também uma função de comunicação das empresas (ou
seja, o grau de atenção que a companhia consegue da comunidade de investidores).
Ações de grandes empresas (large-caps) têm altíssima liquidez: elas são muito
procuradas e altamente transacionadas. Muitas ações de empresas de médio porte (small-caps)
sofrem de um quase permanente "desconto de liquidez" porque elas simplesmente
não estão na tela do radar dos investidores o tempo todo.
•
Sentimento do Mercado - ele refere-se à psicologia dos
participantes do mercado, individualmente e coletivamente. Este é talvez a
categoria que mais nos atormenta porque nós sabemos que ela tem uma importância
crítica, mas estamos apenas começando a entendê-la. O sentimento do mercado é
geralmente subjetivo, parcial e obstinado. Por exemplo, você pode fazer um
julgamento sólido sobre o crescimento futuro que uma ação projeta, e o futuro
pode até mesmo confirmar suas projeções, mas neste interim o mercado pode
miopemente duelar no curto prazo baseado em uma simples notícia que mantém as
ações "artificialmente" em alta ou em baixa. E você pode ter que esperar por um
longo tempo que até outros investidores percebam os fundamentos da empresa, e
esqueçam a notícia pontual.
O Sentimento do Mercado está sendo explorado pelo campo de finanças
comportamental, que é relativamente novo. Ele inicia assumindo que os mercados
são aparentemente não-eficientes na maioria das vezes. E esta ineficiência pode
ser explicada pela psicologia e outras ciências sociais. A idéia de aplicar as
ciências sociais às finanças foi totalmente legitimada quando Daniel Kahneman,
um psicologista, ganhou o Prêmio Nobel de Economia. Muitas das idéias em finança
comportamental confirma suspeições notórias:
•
Que investidores tendem a exagerar na ênfase que dão às informações que lhes
chegam facilmente à mente;
•
Que muitos investidores reagem mais às dores de perdas do que com o prazer a
ganhos equivalentes, no mercado;
• E
que investidores tendem a persistir em um erro.
Alguns investidores clamam a estarem aptos a auferirem lucros com o estudo da
finança comportamental. Para a maioria, entretanto, o campo é novo o bastante
para servir como a categoria mais abrangente: tudo o que não podemos explicar é
posto dentro desta categoria inexplicável.
Sumário
Tipos diferentes de investidores dependem de fatores diferentes. Investidores
de curto prazo e operadores tendem a incorporar e até mesmo priorizar os fatores
técnicos. Investidores de longo prazo priorizam fatores fundamentalistas e
reconhecem que os fatores técnicos representam um papel importante.
Investidores que acreditam fortemente em fundamentos podem se reconciliar às
forças técnicas com o seguinte argumento popular: fatores técnicos e sentimentos
do mercado freqüentemente surpreendem no curto prazo, mas fundamentos ajustarão
as cotações no longo prazo. Enquanto isso, podemos esperar mais estudos
empolgados na área de finanças comportamental, desde que as teorias financeiras
tradicionais não possam explicar o que já ocorre no mercado.