Quais as chances de uma empresa pequena, com pouca disponibilidade de
informações financeiras, ações com dias e dias sem nenhum negócio realizado e
alta volatilidade, se tornar uma small cap bem conceituada? Para alguns, isto é
algo bastante difícil de acontecer, especialmente em meio à atual dinâmica do
mercado. Mas há quem acredite que certos "micos" possam representar papéis que
vão além da especulação, com atrativo potencial de crescimento baseado em
fundamentos.
Alguns casos do passado também comprovam esta tese. De acordo com Eduardo
Favrin, diretor de renda variável do HSBC Global Asset Management, a Cia. Hering
(HGTX3) é um bom exemplo disso. "A companhia é aberta há muito tempo e já passou
por quase um ‘re-IPO’, porque ela praticamente renasceu com isso. E é uma
empresa cuja valorização nos últimos anos é uma coisa espantosa", destacou
Favrin. "Do patinho feio que ela era no setor, acabou virando uma unanimidade,
tanto que hoje se você for olhar por múltiplos, ela é negociada até com um
prêmio em relação a Lojas Renner (LREN3), que é uma empresa há muito tempo large
cap. Então, eu acho que Hering é o principal exemplo de uma empresa que renasceu
na bolsa", completou.
O executivo avalia ainda que tivemos alguma coisa parecida com a Rossi
Residencial (RSID3), que, segundo Favrin, também teve de passar por um "re-IPO"
tempos depois de sua experiência de abertura de capital. O processo foi
responsável por transformar a empresa de mico a small cap bastante procurada
pelos investidores, um exemplo emblemático de todo o boom da construção que tem
ocorrido nos últimos anos no Brasil.
"Estes são exemplos de empresas que ganharam status, ganharam importância no
universo de investimento. Você pode encontrar isso em vários setores, como
educação, saúde, infraestrutura", revela o diretor do HSBC. "A verdade é que o
mercado hoje passou a ter uma visão crítica não só dos setores que são mais
globalizados, aqueles que estão mais diretamente influenciados pelo
comportamento da economia mundial, mas principalmente daqueles que estão mais
voltados para a dinâmica interna", explica.
Escolhendo o mico certo
De acordo com Gustavo Farias, operador da Sol Investimentos, a escolha de um
mico com bom potencial de crescimento deve seguir algumas regras. Segundo ele,
primeiro é preciso não investir em empresas que estejam em processo de
recuperação judicial, fugindo do risco de manipulação do papel. "Se você quiser
mexer com estes papéis você acaba não fazendo um investimento, mas sim jogando
em um cassino. Não tem como fazer um estudo sobre uma empresa que está indo à
falência", disse.
Além disso, o operador lembra que, com a economia indo bem, os credores
destas empresas até dão uma folga um pouco maior para elas se recuperarem, mas
basta a economia dar uma pequena contraída e vários pedidos de falência serão
abertos. "Tem algumas companhias que eu sinceramente não sei como ainda
funcionam, como a Tec Toy (TOYB4)", afirma. "Se você quiser investir em um mico
com potencial para virar uma boa small cap, primeiro procure por empresas que
não estejam em processo de falência e proporcionam bons fundamentos".
Por conta dos elevados riscos que envolvem os micos, o operador da Sol
Investimentos disse que não recomenda nenhuma empresa que se encaixe neste
perfil. Mesmo assim, analisando os fundamentos por trás das performances de
papéis isolados, Farias se arriscou a dizer alguns nomes. "Acho que um mico que
possa virar small cap no futuro é a Eucatex (EUCA4), com valor de mercado
próximo a R$ 700 milhões. (...) Recomendar mico eu não recomendo nenhum, mas se
você quiser um papel pequeno que pode multiplicar de valor várias vezes com uma
mínima margem de segurança, a Mundial (MNDL4) provavelmente seria a mais ideal.
Isso porque ela tem patrimônio, dá lucro. São coisas que você deve procurar em
empresas que podem crescer. Mas ela é uma exceção, pois em micos isso é difícil
de ter", avalia.
Inepar
Há tempos apontada como uma promessa, a Inepar (INEP4) é outra candidata a
se tornar uma small cap constante no radar do mercado. Esta é a visão de Eduardo
Cavalheiro, gestor do fundo de small caps da Rio Verde Corretora. "A Inepar é em
uma empresa com risco mais elevado, vale menos que R$ 500 milhões, mas tem um
grande potencial de negócios pela frente, principalmente por causa da carência
de investimentos em infraestrutura no Brasil. Mas é uma empresa que tem um
passado turbulento, então oferece risco", destaca Cavalheiro. "A Inepar pode vir
a se tornar uma small cap bem conceituada se ela atender a estas expectativas do
mercado. Vejo um potencial enorme para ela daqui para frente", completa o
gestor.
Mesmo com esta visão positiva sobre a companhia, Favrin, do HSBC, lembra que
é preciso cuidado. "Eu evito falar em empresas específicas. Veja bem, é muito
difícil você separar sua análise da sua posição – aquilo que você está comprado
efetivamente. Então, o cara vai elogiar o papel que ele está comprado. E,
talvez, não vai ter uma visão tão positiva em relação ao papel que ele ainda não
tenha. Estou falando sob o ponto de vista de um gestor. Por isso, evito falar de
nomes em particular", disse.
O diretor do HSBC Global Asset Management, contudo, avalia que teremos vários
exemplos nos próximos anos de small caps vencedoras. Só que, por outro lado,
segundo o executivo, teremos também aquelas que vão frustrar o mercado. "Você
tem os dois lados da moeda. De um lado uma companhia como a Hering, que cresceu
fortemente, mas por outro lado companhias das quais eu não vou falar, pois seria
anti-ético, mas que frustraram o mercado. Foram empresas que vieram com um
discurso, prometeram, mas não entregaram. Você vai ter os dois exemplos",
concluiu.
Uma vez mico, sempre mico
Há também quem tenha uma visão totalmente cética sobre um mico se tornar uma
small cap bem conceituada. É o caso de William Gonçalves, da Geral
Investimentos. "Uma vez mico, sempre mico. Eu vejo que em um mercado bastante
especulativo, como o que temos hoje, é bastante difícil um mico virar uma small
cap", disse. Ele lembra que existem alguns micos que são "totalmente
manipulados. A corretora tem uma alta quantidade de papéis e acaba monitorando a
cotação deles. Então, os fundamentos da empresa são deixados totalmente de
lado", completa.