Um dia, estagiário. No outro, líder. É cada vez mais comum ver gestores mais
jovens ascendendo profissionalmente de forma meteórica. Embora pareça haver
apenas vantagens neste processo, o crescimento mais acelerado da carreira pode
trazer prejuízos ao jovem profissional.
Remuneração e benefícios, aliados ao status de já ter poder de comando, podem
criar nesse novo líder a ideia de que ele pode fazer o que quer, como e quando
desejar. A arrogância, em alguns, pode ser o primeiro sinal negativo. A
prepotência e a tirania vêm logo depois. E a dificuldade de lidar com as novas
responsabilidades e com as pessoas aparecerá agora ou mais tarde.
“Se ele souber aproveitar a oportunidade com critérios e responsabilidade,
com certeza, haverá somente vantagens, caso contrário, poderá prejudicar o
futuro da carreira”, afirma a gerente de treinamento da Catho Online, Rosemary
Bethancourt. “Olhando com imparcialidade, há mais desvantagens que vantagens,
pois o sucesso sem base sólida é efêmero”, completa o presidente da Lens &
Minarelli, Augusto Minarelli.
Uma base fortalecida
Para os especialistas consultados, a estrutura inicial da carreira é ponto
fundamental de qualquer profissional. Sem essa estrutura bem fortalecida, tudo o
que for sendo construído em cima dela pode desmoronar a qualquer momento. Essa é
a grande desvantagem de quem ascende rápido: pular etapas acaba sendo
inevitável. E, mesmo que isso não ocorra, alguma fase não será cumprida de
maneira integral e eficiente.
“Se você pula uma etapa, pode não ter feito o alicerce para o que vem
depois”, acredita Minarelli. Para Rosemary, as desvantagens aparecem caso esse
jovem não seja preparado para assumir as novas tarefas. “É a mesma coisa que
passar de ano no colégio sem ter tirado nota suficiente na prova, pois a
complexidade das tarefas é progressiva e quem não aprendeu a base não conseguirá
acompanhar as fases seguintes”, diz.
Dessa forma, a projeção profissional de um jovem que chega a altos degraus
muito cedo pode se desmantelar com o tempo, pois um caminho mais curto requer um
convívio menor com aspectos importantes da profissão. “A maturidade e a solidez
profissional requerem o exercício da profissão”, afirma Minarelli.
Essa falta de solidez na formação do profissional, seja técnica, seja
comportamental, pode fazer a carreira de sucesso terminar mais cedo. “Quem chega
lá mais rápido é descartado mais cedo. Ou por já estar cansado ou por ter
buracos nessa formação”, considera Minarelli. “Eles chegam ao topo, mas nem
todos se sustentam”.
Para um crescimento rápido e sustentável
Como bem ressaltou Rosemary, as desvantagens aparecem. Mas elas são mais
fortes e constantes para aqueles que se deslumbram com o crescimento acelerado
da carreira e não cuidam para que esse crescimento se mantenha de maneira
positiva. Para Minarelli, é possível uma ascensão profissional meteórica e
sustentável.
Ele explica que o progresso na carreira consiste, basicamente, de três fases:
o ingresso, a adaptação e a aprendizagem. Um estudante que entra em uma empresa
como estagiário, por exemplo, deve pular para a segunda etapa imediatamente. A
fase de adaptação refere-se à rotina – o momento de assimilar as tarefas e
executá-las de maneira exímia. Essa etapa, explica Minarelli, deve ser curta.
Depois dela, vem o progresso, que resulta da aprendizagem.
Rosemary ressalta que não importa a velocidade com que ocorreu o crescimento
da sua carreira. O importante é sempre lembrar que ainda há muito o que
aprender. “Sendo assim, ele deve ter habilidade para se relacionar com
diferentes áreas e níveis hierárquicos, ter boa comunicação, iniciativa e
proatividade. Somente mostrando-se disposto a colaborar com todos é que ele
conseguirá a contribuição necessária para crescer na carreira com segurança e
estabilidade”, afirma.
Desconsiderar essa aprendizagem, na avaliação de Rosemary, é ter diante de si
dificuldades ainda maiores que aquelas que esse jovem profissional já
enfrentará, devido à falta de maturidade e experiência. “Ele poderá não
conseguir atingir os objetivos e metas definidos pela empresa e,
consequentemente, a oportunidade se transformará em frustração”, diz. “É preciso
consolidar bem cada fase que passar, para evitar falhas que possam colocar em
risco as oportunidades de crescimento”, ressalta.
Além de ficar atento a essa questão, o profissional que cresce de maneira
rápida também precisa olhar o outro. “Todo dirigente precisa de colaboradores,
clientes e fornecedores. Cuidar desses relacionamentos requer habilidade de
ouvir. O crescimento rápido e sustentável da carreira se dá em profissionais que
tenham a inteligência e o preparo de entender isso”, ressalta Minarelli.