Pedir para sair mais cedo, entrar mais tarde ou ser liberado por alguns dias
ou semanas. Abrir concessões para que os profissionais façam algum curso ou
toquem algum projeto fora da empresa que estejam relacionados ao seu trabalho é
comum, mas tem limites, alertam especialistas ouvidos pelo InfoMoney.
“O melhor limite que existe é o bom senso”, alerta o consultor de Coaching da
Ricardo Xavier Recursos Humanos, Jonas Tokarski. “Se o líder conhece o grupo,
ele sabe quais são as deficiências e as carências de cada profissional”, afirma.
Esse tipo de conhecimento, diz o consultor, ajuda o líder a avaliar se aquela
liberação é, de fato, vantajosa para o profissional e para o trabalho que ele
exerce na empresa. “O bom líder tem o histórico da equipe para fazer um
planejamento”.
Para o ex-presidente nacional da ABRH (Associação Brasileira de Recursos
Humanos), Ralph Arcanjo Chelotti, o que se deve evitar é tornar esse tipo de
concessão uma regra. “O limite esbarra nos processos da organização”, afirma.
Para ele, quando as concessões se tornam inadequadas diante das regras da
empresa, esse limite já foi ultrapassado.
Nem regra nem exceção
Para Chelotti, o ideal em tudo isso é que as concessões não se tornem regra,
mas também não se tornem exceções. “Nenhuma concessão pode virar regra, porque
se ela se torna parte do jogo, é complicado controlar”, avalia.
Por isso, antes de conceder liberações para todo mundo que pedir, o líder deve
ter em mente que elas não podem ir contra a política da empresa. “As liberações
devem ser combinadas, porque senão criam uma competição entre as áreas da
empresa, comprometendo o trabalho dos profissionais".
Ou seja, aquele líder que sempre cede ao pedido do profissional pode ser visto
como “bonzinho” pelos membros de equipes de outros departamentos. Isso, na
avaliação de Chelotti, é ruim para os líderes que, por consequência, acabam
sendo tidos como não tão bonzinhos assim. Mas é ainda pior para os que receberam
a taxação de bons demais, já que a imagem de um líder que não sabe controlar sua
equipe acaba sendo inevitável.
Para Tokarski, existem três tipos de líderes, os autoritários, os democráticos e
os liberais. Quando se trata de concessão, os democráticos sabem lidar melhor
com a situação, porque tendem a manter um canal de comunicação ativo, aberto e
transparente com os seus colaboradores. “Sendo franco, o líder, mesmo que negue
a concessão, vai ser acatado”, diz o consultor.
Outra observação importante está relacionada a privilégios. “Não deve haver
privilégios. E a concessão deve ser avaliada caso a caso”, afirma Chelotti.
“Quando a preferência é comum, acaba atrapalhando a equipe”, completa Tokarski.
Abrindo uma concessão
Se, para os líderes, o que vale é o bom senso na hora de abrir uma
concessão, para os profissionais, não é diferente. Os especialistas consultados
concordam que liberações que não estejam relacionadas ao trabalho devem ser
pedidas com cautela e quando, de fato, necessárias. “Se não tiver relação, é
preciso que não haja abuso”, afirma Tokarski.
Chelotti ainda avalia que, para que a liberação seja concedida, ela deve ser bem
justificada. “Existe espaço para essas concessões, desde que elas sejam bem
argumentadas”. Ou seja, o profissional precisa avaliar se o que ele vai fazer de
fato vai contribuir para o desenvolvimento profissional dele e para a empresa.
“Essa liberação tem de agregar valor para a relação com a empresa”, conclui
Chelotti. Se for assim, qualquer tipo de negociação com o líder é válida. Basta
uma boa conversa na sala de reunião.