O tempo todo e em todo lugar recebemos estímulos para consumir os mais
variados produtos e serviços. No outdoor, há uma propaganda de roupas com atores
famosos. Na revista, encontramos páginas inteiras com fotos de comida. Em
jornais, promoções de eletrodomésticos. Na TV, aparelhos de ginástica
importados. Sem mencionar os filmes e as novelas que divulgam os produtos dos
seus patrocinadores.
"As pessoas não percebem um limite para o qual você acaba simplesmente gastando
seu dinheiro, seu tempo, seu estresse, sua energia para ganhar dinheiro e
comprar coisas que não vão melhorar sua vida e que torna insustentável tanto o
lado individual quanto o planeta e a sociedade em que a gente vive", afirma o
coordenador-geral do seminário Diálogo Nacional – Rumo à Rio+20, Aron Belinky.
"A maior parte de nós tende a comprar coisas por impulso ou, simplesmente, por
conta daquela ideia de que quanto mais você tem, melhor você vive", reitera o
também colaborador do Instituto Vitae Civilis em projetos como as atividades da
Green Economy Coalition no Brasil.
O problema dessa falta de limite e da necessidade de possuir muito em busca de
uma vida melhor são as consequências negativas para o meio ambiente e a
sociedade. Por isso, é extremamente importante cada pessoa ter consciência dos
impactos que a sua compra vai causar e, assim, optar pelo caminho mais
sustentável.
Conheça os quatro pontos essenciais para ser consciente
"Há dez anos, quando o Akatu começou, eu lembro de uma das primeiras
entrevistas que dei. O jornalista me perguntou se era possível existir consumo
consciente, porque pela própria natureza do consumo ele seria inconsciente",
lembra o presidente do Instituto, Helio Mattar. "O que coloquei veio se
confirmar: ele será inconscitente enquanto as pessoas não tiverem percepção do
impacto que o consumo tem sobre a sociedade e o meio ambiente".
Segundo ele, para uma mudança de comportamento mais efetiva, é importante as
pessoas terem clareza, ou seja, terem consciência de quatro questões em relação
ao consumo:
- Todo e qualquer consumo sempre causa impactos sobre a sociedade e o meio
ambiente;
- Todos nós vamos ser atingidos pelos consumos dos outros. Quer dizer,
quando uma pessoa consome, toda a sociedade sofre as consequências;
- Cada pessoa individualmente deve fazer sua parte, pois ela tem um
impacto enorme. Por exemplo, se uma pessoa que escova o dente três vezes ao
dia por dois minutos sempre fechar a torneira, durante seus 73 anos vai
economizar quase 1 milhão de litros de água. Isso representa,
aproximadamente, 900 caminhões-tanque com 10 mil litros de água;
- Cada um de nós tem capacidade para mobilizar outras pessoas a mudarem
seu comportamento.
O grande problema do processo de sustentabilidade para Helio é que ele parte de
uma sociedade totalmente insustentável. Assim, sair da total insustentabilidade
para alcançar a sustentabilidade é um caminho difícil e cheio de contradições.
"Basta a gente pensar que, aqui no Brasil, um produto orgânico, todo direitinho
em termos de agrotóxico e saúde do consumidor, vai ser transportado por
caminhões a diesel e, portanto, vai causar o aquecimento global", exemplifica. O
que existe são produtos mais ou menos sustentáveis.
As pedras no caminho da sustentabilidade
Um dos empecilhos para alcançarmos essa sociedade sustentável é o preço
cobrado pelos produtos que protegem o meio ambiente e as pessoas. De acordo com
o presidente do Instituto Akatu, os consumidores não têm disposição para pagar
mais pela sustentabilidade.
Porém, o que os consumidores esquecem é que eles vão pagar mais caro de qualquer
forma, sendo hoje ou no futuro. Helio Mattar explica que, se a pessoa quer um
preço menor hoje, vai comprar o produto comum, que tem agrotóxico. Mas isso
significa que ela vai ingerir determinados elementos químicos que não vão ser
bons para a saúde. "Mais do que isso, vai permitir, através da compra, que seja
colocado agrotóxico no solo, poluindo a terra e as águas dos lençóis freáticos.
Isso tem custo. Sua saúde no futuro vai ter custo e a correção dos problemas
ambientais também", alerta.
Outros empecilhos destacados por Aron Belinky são as faltas de informação e de
alternativas. "Por um lado, eventualmente, a pessoa não tem informação para
poder decidir. Ela vê dois produtos na prateleira, mas não sabe qual deles é
mais ou menos impactante para o meio ambiente. Por outro, às vezes simplesmente
não tem oferta nem soluções mais sustentáveis".
É o caso, por exemplo, do deslocamento nas cidades. "Muitas vezes, você não tem
transporte público de qualidade e não tem alternativa que não seja um carro
particular, poluente e que ocupa espaço", cita o coordenador-geral do seminário
Diálogo Nacional.
Seja consciente também no uso e na hora de jogar fora
Uma forma de tentar acelerar o processo de mudança, de acordo com o
presidente do Akatu, é ter na sociedade modelos de pessoas que deem o exemplo.
"Principalmente pessoas que têm grande carisma para a população, como um
artista, um personagem de novela, um religioso ou um professor. São pessoas que
têm grande capacidade de influir. São formadores de opinião."
Além disso, as pessoas precisam entender que o consumo consciente envolve a
compra, mas também o uso e descarte do produto. "Você pode ser consciente na
compra, buscando um produto cuja produção teve menos impacto. No uso, como
fechar a torneira enquanto escova os dentes. E no descarte, procurando reciclar
e tendo certeza de que utilizou o produto até o fim da sua vida útil", ensina
Helio Mattar.
Já para Jorge Polydoro, presidente do Instituto Amanhã, "com informação e o
aparecimento de fenômenos, como o frio e calor exagerados ou as chuvas intensas
em regiões e momentos em que não existia tanta chuva, as pessoas vão sentir na
pele o problema e isso vai ajudar a conscientizar".
Em São Paulo, por exemplo, se não houver mudanças profundas, o município será
tomado por chuva seguida de calor insuportável e tudo misturado com um trânsito
que não vai andar. "A cidade impõe a quem mora nela uma certa consciência de
sobrevivência nesse ambiente urbano", destaca Polydoro.