Entre as inúmeras estratégias utilizadas com indicadores e osciladores
dentro da análise técnica, o cruzamento de médias móveis talvez seja uns dos
mais antigos artifícios utilizados pelos trades, em vista de sua simplicidade de
interpretação.
As médias móveis aritméticas (MMA), resultado de uma média dos preços de um
determinado ativo em um determinado período, são presença garantida nos
relatórios de análise técnica, assim como as médias móveis exponenciais (MME).
Criadas por volta da década de 1960, as MME substituíram rapidamente as MMA por
darem maior peso aos últimos preços do mercado, uma solução simples e rápida
para minimizar os sinais atrasados de compra e venda das médias móveis
convencionais.
MME
Por ponderar as cotações mais recentes, a MME tende acompanhar mais de perto a
trajetória dos preços, caindo na graça dos investidores de curto/curtíssimo
prazo. Com o avanço computacional, sua fórmula ficou assim:
MME = (Preço*M) + {MME anterior*(1-M)}
Sendo:
M = 2/(1+N)
N= Número de períodos
Se utilizarmos um período de 10 dias, o peso que a MME irá colocar sobre a média
de preços será de 18,8%, diferente da MMA, onde o peso de 10% será estático ao
longo do tempo. Deste modo, quanto menor o período, mais de perto a MME
acompanhará o preço.
Entretanto, essa proximidade tende a render ao trader mais sinais falsos, pois o
oscilador irá responder a qualquer movimento dos preços, sendo mais “sensível”
em relação à MMA.
Desta maneira, qual média móvel o investidor deve acompanhar para efetuar suas
operações? Existe alguma convenção para facilitar a vida do trader? Para
esclarecer estas questões, Christian Cayre, do CHR Investor, Ricardo Dallalana,
da ArcoTrading, e Alexandre Wolwacz, da Leandro&Stormer, opinam sobre o assunto
e desmistificam algumas crenças sobre o uso das médias móveis.
Interpretando as médias móveis
Antes de iniciar, Dallalana lembra do significado das médias móveis, que “são
representações que suavizam os movimentos de preços dos ativos e ajudam a ter
uma visão melhor das tendências que se estabelecem”.
Além de indicar a tendência, Wolwacz também ressalta o efeito “memória” embutido
nas médias móveis. Segundo ele, o afastamento do preço em relação à média lembra
os investidores que o ativo está caro ou barato, atuando como um “imã” dos
preços. “Por isso mesmo, efetuar compras com os preços afastados (acima) da
média seria algo pouco recomendável”, afirma Wolwacz.
Ainda em relação ao movimento das médias móveis, o sócio da Leandro&Stormer
ressalta dois cenários:
As duas médias alinhadas na mesma direção – tendência forte de alta ou de baixa;
A média mais curta desalinhada com a mais longa – a média móvel mais curta
representa uma correção ou repique da tendência maior;
A partir do segundo cenário derivam-se duas possibilidades de compra e venda:
A média mais curta recua até a mais longa, testa e passa operar em compasso com
a tendência maior;
A média mais curta cruza a mais longa;
Através da “tentativa do mercado em mudar a direção da tendência mais longa”
que, segundo Wolwacz, surgiu uma das estratégias operacionais mais antigas
dentro da análise técnica.
Cruzamento de médias móveis
Os traders que utilizam este tipo de estratégia geralmente obedecem a um padrão
de períodos conforme seu prazo de operação. Se operam com base no gráfico
diário, os livros de análise técnica convencionam utilizar as médias móveis de
3, 8 e 21 períodos para trades mais curtos, a fim de representar dias, semanas e
meses, respectivamente.
Para operações mais longas, como swing trade e position, Dallalana lembra das
médias de 55, 89 e 233 períodos, relacionadas ao bimestre, trimestre e ano do
calendário econômico das empresas.
De acordo com Wolwacz, o método “oferece bons resultados dependendo da média
utilizada”, afirmativa ressaltada também pelo trader da Arcotrading –
“independente do tipo de operação, eu utilizo sempre um conjunto de médias
móveis que servem em diferentes situações”.
Portanto, lembra o sócio da Leandro&Stormer, não existe uma fórmula mágica para
operar cruzamento de médias móveis, mas sim uma mais eficiente para cada ativo e
para cada periodicidade gráfica, metodologia operacional que o trader deverá
desenvolver através de testes.
MME ou MMA?
Além da periodicidade, uma outra dúvida que aflige os traders que utilizam este
método operacional é qual média móvel utilizar. Neste tipo de estratégia,
Dallalana não repudia – “eu prefiro as médias móveis exponenciais e o motivo é
simples: o cérebro humano trabalha melhor com informações recentes”. Além disso,
frisa o trader, as MMEs são mais rápidas e ajudam a entrar mais cedo nos trades
e sair no melhor ponto.
Já Cayre, que não é adepto do cruzamento de médias móveis, utiliza-as como
identificador de tendência. O trader opera na ponta compradora do índice futuro
somente quando a MME de 20 dias está acima da MMA de 200 dias, e,
consequentemente, os preços acima das médias.
Dallalana segue a mesma lógica, mas utiliza o cruzamento da MME de 21 dias
frente a MME de 233 dias para realizar operações de longo prazo. Contudo, este
tipo de estratégia é eficiente?
Segundo Wolwacz, esse modelo de estratégia não funciona muitas vezes, já que a
média mais curta briga para mudar a tendência de longo prazo do ativo, mas “nas
vezes que funcionar, [o trader] estará comprando ou vendendo no início de uma
longa tendência”, o que costuma compensar muito bem o risco embutido na
operação.
Outras funções
“Nos primórdios da análise técnica era muito comum usar o cruzamento de médias
móveis como setup operacional. Hoje em dia, com a complexidade do mercado e com
o aumento significativo de players, este tipo de setup torna-se obsoleto”, diz
Cayre, assim explicando o porquê não utilizar essa estratégia.
Para os operadores que também compartilham essa ideia, Dallalana lembra de uma
outra utilidade das médias móveis – “eu gosto muito de utilizar as médias móveis
como referência de indicadores”. Por exemplo, o IFR (Índice de Força Relativa).