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Análise técnica (ações) - Análise técnica mostra bons pontos de entrada na bolsa 

Data: 02/07/2010

 
 
Entenda o universo dos "grafistas" e saiba por que suas ideias polêmicas começam a ser aceitas por alguns fundamentalistas

Por meio dos gráficos, analistas tentam prever o comportamento das Bolsas

Eles são populares entre os investidores, adorados pelas corretoras e controversos no meio acadêmico. Os analistas técnicos vêm se tornando verdadeiras celebridades do mercado financeiro, atraindo para suas palestras e cursos legiões de investidores em busca de sucesso na bolsa. Por meio de gráficos que mostram o histórico de negociações dos ativos, esses profissionais procuram prever seu comportamento futuro a partir de figuras que recebem nomes curiosos como "ombro-cabeça-ombro", "bandeiras" e "flâmulas". Mas embora suas orientações sejam acolhidas por operadores bem-sucedidos, os "grafistas", como foram apelidados, ainda são figuras polêmicas. Entre os investidores da escola fundamentalista, vertente focada na análise dos fundamentos das empresas, há quem critique a falta de comprovação da eficiência do uso dos gráficos. Mas já há aqueles que acreditam que a análise gráfica pode, sim, ser útil e caminhar lado a lado com a análise mais acadêmica.

O objetivo principal da análise técnica é identificar boas oportunidades de ganhos, principalmente no curto prazo. Para isso, os analistas usam gráficos com a evolução histórica dos preços dos ativos em períodos que podem variar de anos a horas ou até minutos. Dessa forma, eles acreditam ser possível prever a tendência desses preços no futuro mais imediato e, assim, detectar o melhor momento para a compra ou a venda de um papel. "O mais importante não é prever os preços, mas entender se o movimento tem força para continuar ou se vai mudar de direção", explica Rodolfo Cavina, analista da corretora Gradual.

Isso seria possível porque a análise técnica parte da premissa de que os ativos seguem tendências de alta ou baixa, formando padrões. A ideia é, portanto, seguir a manada. Afinal, os "grafistas" acreditam que quem determina os preços dos ativos são os grandes investidores - também chamados de "tubarões" em fóruns de discussão do mercado financeiro. Ao segui-los de perto, as "sardinhas", ou pequenos operadores de bolsa, também terão sua recompensa.

Para ter sucesso, no entanto, os adeptos dessa corrente se resguardam contra os revezes do mercado por meio de ordens conhecidas como "stop loss", que permitem ao investidor limitar as perdas caso uma tendência se reverta rapidamente. Operar usando um "stop" não é exclusividade de quem se baseia nos gráficos, mas os analistas técnicos são seus mais ardorosos defensores. "Não existe análise 100% confiável. Algo inesperado pode ocorrer, e o mercado pode virar. O 'stop' serve como um paraquedas para o investidor não ter um grande prejuízo", explica Fábio Franchini, analista gráfico da corretora Link.

"É isso que diferencia as pessoas que defendem suas posições daquelas que operam segundo a estratégia do 'buy and hold' (comprar e segurar), achando que, no longo prazo, mesmo ações em queda livre vão voltar a subir", explica Fausto Botelho, presidente da Associação Nacional dos Analistas Técnicos (ANAT) e um dos gurus da análise gráfica no Brasil. Segundo ele, como não existe uma definição precisa do que seja longo prazo, o melhor é sempre se proteger. O economista usa como exemplo as ações do mercado imobiliário japonês que ainda não viram recuperação desde o estouro da bolha de 1990. "Infelizmente, no longo prazo pode ter investimento errado sim", diz.

Por ter como foco a descoberta dos melhores pontos de entrada e saída do mercado, a análise técnica geralmente é a preferida dos investidores mais imediatistas: os "day traders" (que compram e vendem uma ação no mesmo dia), os "swing traders" (que fazem operações curtas de alguns dias ou semanas, mas em geral de menos de um mês) e os "position", que buscam surfar tendências maiores, de dois ou três meses, podendo ultrapassar um semestre.

Críticas

Porém, esse viés imediatista e a falta de comprovações rigorosas quanto à eficácia dos seus métodos fazem com que a análise técnica seja alvo de duras críticas de grande parte dos economistas adeptos de outra vertente de análise, a fundamentalista. Esses profissionais, em geral, desconfiam da possibilidade de se deduzir o comportamento futuro do mercado a partir de oscilações passadas e acreditam que as melhores chances de rentabilidade estão na compra de ativos com valor abaixo de seu "preço justo", desde que as expectativas em relação à empresa sejam positivas. Ou seja, surfar a favor da maré não seria, a rigor, a melhor estratégia para o sucesso. Como esses profissionais determinam o preço justo? A partir de uma análise rigorosa dos fundamentos da empresa, das perspectivas para o seu setor e do cenário macroeconômico.

"Os analistas técnicos acertam suas previsões de maneira aleatória. Os 'stops' são eficientes. Mas a análise técnica, de maneira geral, vai contra qualquer teoria de finanças", afirma Samy Dana, professor de finanças da FGV-SP. Para ele, a única exceção seriam as operações de curtíssimo prazo, realizadas em alta velocidade por computadores, como o que acontece nos fundos quantitativos. "Nesse caso, basear-se no preço muito recente do ativo operado traz sucesso à operação", complementa.

Apesar de rejeitada no meio acadêmico, a análise gráfica vem se tornando cada vez mais popular entre os investidores, principalmente os que buscam maior rentabilidade num prazo mais curto. O fato de serem mais simples de entender também favorece os gráficos. Hoje em dia, muitas corretoras já contam com departamentos de análise técnica que disparam relatórios diários. Algumas inclusive vêm conseguindo aliar o estudo dos gráficos à análise fundamentalista. "As corretoras amam os analistas técnicos, pois as operações de curto prazo tornam-se mais frequentes e, consequentemente, pagam-se mais corretagens", diz Fausto Botelho.

Embora ainda lute por um reconhecimento mais formal, a análise técnica já conseguiu tornar famosos alguns de seus principais representantes no Brasil. Além de Botelho, é o caso de nomes como Márcio Noronha, um dos pioneiros dessa vertente no país, autor de um dos mais importantes livros em português sobre o tema; Eduardo Matsura, que participou do desenvolvimento dos primeiros softwares de análise técnica do Brasil; o matemático Luiz Antonio Pinto, o Parddal, que também faz parte da diretoria da ANAT; ou ainda o "sem-papas-na-língua" Didi Aguiar, autor do modelo gráfico "Agulhada do Didi" e ex-apresentador de um reality show sobre a Bolsa no extinto canal a cabo Ideal.

O presidente da ANAT admite que a análise técnica ainda não é completamente aceita entre os economistas, mas defende que o assunto seja lecionado em universidades, a exemplo de alguns países europeus e dos Estados Unidos. "A análise fundamentalista é muito mais difícil de ser elaborada do que a técnica, que só depende da interpretação do gráfico. Além disso, tem uma parte da análise gráfica que compara os comportamentos de massa a figuras, que receberam nomes peculiares. Isso confere uma certa aura de 'misticismo' que não condiz absolutamente com a matéria, mas que causa aversão aos analistas fundamentalistas. Acaba sendo muito mais fácil para esses profissionais dizer que aquilo não funciona do que penetrar naquele universo", avalia o economista.

Análise integrada

Mas de ambos os lados já existem profissionais que acreditam que as duas vertentes são, na realidade, complementares. Embora defendam que os analistas devam escolher um lado, os "grafistas" acreditam que os investidores podem combinar as duas correntes para ter mais segurança. Para Fábio Franchini, da Link, a análise técnica é mais voltada para o especulador, ou seja, o investidor que opera no curto prazo para aproveitar a onda do mercado. A fundamentalista, por outro lado, é mais para quem tem uma visão de longo prazo. Fausto Botelho vai além: "A análise fundamentalista pode ser usada para fazer a escolha das ações, o chamado 'stock picking', e a técnica para definir o momento certo de fazer as operações", diz.

Mesmo entre os fundamentalistas também já existem os "integrados". Flávio Conde é um deles. Ao lado do "grafista" Rodolfo Cavina, seu colega na corretora Gradual, Conde apresenta uma palestra, nascida na Expo Money 2009, justamente sobre essa complementaridade entre as duas escolas. "Essa rivalidade é uma coisa mais antiga, de um mercado financeiro menos sofisticado. Agora que existem mais analistas no mercado e que os fundamentalistas estão mais bem preparados, descobriu-se que as duas linhas não são antagônicas, mas podem se ajudar", opina Conde.



 
Referência: Portal Exame
Autor: Julia Wiltgen
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