Saiba como identificar um veículo em boas condições de uso e quais são os
automóveis que ninguém quer para negociar o maior desconto
Feirão de carros no Anhembi: comprar carro de pessoa física exige mais cuidado
Por mais que alguém tome todos os cuidados, comprar um carro usado sempre
envolve riscos. Às vezes é impossível prever que um veículo vai quebrar em breve
ou não atenderá suas expectativas no longo prazo. Outra armadilha constante é o
crédito. Com a maior flexibilidade dos bancos, muitos compradores se endividam
demais, não conseguem pagar as prestações mensais e acabam com o carro retomado
pelo banco. Para ajudá-lo a fazer a compra certa e reduzir o risco de surpresas
desagradáveis, o Portal EXAME conversou com mais de 20 especialistas. Veja
abaixo o que eles têm a ensinar:
1 - Teste um carro antes de comprá-lo. Fazer o test drive é
melhor do que nada, mas em geral não é suficiente para uma compra segura. Ao
rodar por um ou dois quilômetros, provavelmente o interessado em um veículo só
terá tempo de notar seus pontos positivos. No banco do passageiro, o vendedor se
encarregará de ressaltar as qualidades e esconder os defeitos do automóvel
escolhido. Para fazer um teste mais acurado, o ideal é alugar um carro do mesmo
modelo. Ao contrário do que você está acostumado a fazer, peça ao funcionário o
veículo mais velho disponível na locadora. Será esse automóvel que lhe mostrará
os efeitos do tempo e do uso sobre determinado modelo. Caso seu interesse seja
por um carro usado, saiba que algumas lojas permitem a realização de um test
drive prolongado com o próprio veículo. A rede de concessionárias Itavema, por
exemplo, permite que o interessado teste o carro que quer comprar durante três
dias antes de fechar o negócio. Já a locadora de veículos Avis oferece ao
comprador a oportunidade de alugar um automóvel por dois dias. Caso feche a
compra, o cliente não precisará pagar pela locação. Já se desistir, o consumidor
arcará só com o custo das duas diárias. Se tiver a oportunidade de realizar um
teste de longa duração, leve o carro para um mecânico de confiança que possa
avaliar seu estado de conservação. Circule por locais onde está acostumado a
dirigir. Verifique se o carro cabe na vaga do prédio ou se não raspa na entrada
do estacionamento. Certifique-se que o modelo agrada também a outros membros da
família.
2 - Saiba quais são os carros que ninguém quer. Alguns tipos
de veículo são muito difíceis de vender e só devem ser comprados mediante um
belo desconto. Os brasileiros preferem automóveis nas cores prata e preto.
Carros com cores extravagantes são bastante utilizados por montadoras que lançam
um modelo novo, mas costumam encalhar nas lojas. Já veículos brancos ou amarelos
sempre despertam a suspeita de que tenham sido usados como táxi no passado.
Outra regra que dita o comportamento do mercado é que quanto mais caro é um
carro, mais rápida é sua depreciação. A mesma regra vale para os importados.
Veículos fabricados no exterior que vendem pouco no Brasil muitas vezes não
possuem uma rede de assistência técnica adequada nem mercado secundário no país.
Também existe muito preconceito com carros oriundos de leilão, de locadora ou
com um histórico de acidentes graves. Então exija desconto. Já carros que saíram
de linha perdem valor porque a manutenção e a substituição de peças tendem a se
tornar cada vez mais difíceis. Como a primeira impressão é a que fica, veículos
com defeitos e riscos na pintura acabam sendo mais difíceis de vender.
Alterações estruturais como as de carros rebaixados ou turbinados também não são
bem-vistas no mercado. Praticamente ninguém vai pagar pelos acessórios
instalados no veículo, como som, DVD ou kit GNV.
3 - Informe-se em sites e revistas especializadas sobre os veículos
mais desejados. Nas redes sociais, há dezenas de comunidades que
discutem a qualidade de cada veículo. Notícias e rankings publicados na mídia
também ajudam muito. A revista Quatro Rodas, da Editora Abril, que também edita
EXAME, divulga a cada ano o ranking dos melhores carros para comprar em 17
categorias (clique
aqui e veja o ranking de 2009).
4 - Se possível, compre o carro de um amigo. Quanto mais
próximo for o dono do veículo, menor o risco. Se ocorrerem eventuais problemas
com o automóvel, você saberá a quem apresentar a reclamação. A dificuldade é
encontrar o modelo desejado em bom estado apenas dentro do universo de
conhecidos. A segunda opção mais segura são os carros de concessionárias. Além
de serem lojas grandes e com uma reputação a zelar, boa parte dessas empresas
ainda carrega junto o nome da montadora. Logo, o fabricante do veículo vai
exigir da concessionária qualidade nos serviços prestados aos clientes. O que
afugenta os consumidores das concessionárias é que os preços cobrados costumam
ser um pouco mais elevados que nas demais formas de compra. Na escala de maior
risco, em seguida aparecem os carros de lojas sem bandeira ou de locadoras.
Ambas oferecem garantia de 90 dias para motor e câmbio. No entanto, a qualidade
dos carros ofertados nessas lojas nem sempre será tão boa quanto nas
concessionárias. As lojas sem bandeira são as principais compradoras de carros
com alta quilometragem ou bem desgastados. Já as locadoras trabalham com muitos
carros multiusuário. São, portanto, veículos em que o motorista muitas vezes não
toma o devido cuidado para a conservação. Além disso, há veículos que são
utilizados em condições mais severas. A pessoa aluga o carro justamente para não
submeter o próprio automóvel ao desgaste de carregar carga pesada ou rodar em
estrada de terra, por exemplo. Com risco maior que o carro de locadoras, estão
os veículos comprados de desconhecidos. Negócios fechados entre pessoas físicas
não estão sujeitos às regras do Código de Defesa do Consumidor nem tem garantia
obrigatória de câmbio e motor. Também é necessário verificar você mesmo se o
carro é roubado ou foi danificado por colisão ou enchente. Ao comprar um carro
em lojas, essa triagem já terá sido feita pelo próprio estabelecimento
comercial. Entre os desconhecidos, o mais arriscado é comprar um carro em outra
cidade que você encontrou na internet. Muitas vezes o vendedor exige um
pagamento antecipado do comprador mesmo que ele ainda não tenha tido a
oportunidade de verificar se o veículo se encontra nas condições prometidas.
Algumas vezes o anúncio é uma fraude: só se descobre que o carro e o vendedor
não existem quando já é tarde. Então a dica é tomar cuidados redobrados. Peça
para algum conhecido que mora na cidade do vendedor fazer uma vistoria no
veículo antes de realizar qualquer pagamento antecipado. Por último, a forma
mais arriscada de comprar um veículo é por meio de leilão. O comprador não
poderá ligar o veículo nem rodar por alguns quilômetros. A abertura do capô é o
máximo que se permite aos interessados. Muitos dos veículos que vão para leilão
foram vendidos por seguradoras após sinistros graves. Não é à toa que os
compradores muitas vezes apresentam lances com 30% de desconto e conseguem
arrematar o veículo desejado.
5 - Pesquise preços em outras cidades. Muita gente não sabe,
mas pode valer a pena viajar para comprar um carro em outra cidade. O principal
diferencial é o preço. Segundo a tabela da Molicar, utilizada como referência de
preços de veículos nas concessionárias, comprar o mesmo carro 0 km em São Paulo
custa em média 5,2% menos do que no Pará, por exemplo. Também há diferenças nos
preços dos carros usados. Os mais caros estão no Rio Grande do Sul e em Santa
Catarina, onde os valores cobrados são em média 3,7% superiores aos pagos pelos
paulistas. Já os preços no Centro-Oeste são 2% mais baixos que em São Paulo. Em
geral, o carro paulista é muito bem-aceito em todos os estados do país porque as
estradas são boas e a manutenção tem melhor qualidade. Já carros usados do
Nordeste e do Norte sofrem com estradas ruins e salinidade. Os usados da região
Sul são os mais valorizados porque a população possui uma cultura de conservação
do veículo. Para comprar um carro em outra cidade por um preço interessante, no
entanto, são necessários vários cuidados. Encontre um veículo pela internet e
negocie preços com o vendedor, mas nunca faça um depósito em sua conta antes de
confirmar que o automóvel realmente existe e está em boas condições. Se
possível, peça para algum amigo que vive na cidade do vendedor para vistoriar o
automóvel. E só pague pelo carro no momento da transferência do documento.
6 - Tome o crédito certo. Nos últimos anos, os bancos se
tornaram muito mais flexíveis na concessão de empréstimos para a compra de
veículos. Não é por esse motivo que o consumidor deve se endividar até o
pescoço. Os prazos para o pagamento de empréstimos chegam a até 80 meses. No
entanto, especialistas recomendam que nenhum bem seja pago durante um prazo
maior que o de sua utilização média. O consumidor também deve sempre insistir
que a loja lhe forneça o custo total de um empréstimo. Muitas vezes os juros que
parecem baixos se tornam bastante salgados quando são incluídos outros encargos,
como taxas de cadastro, seguro, IOF (Imposto sobre Operações Financeiras),
serviço de despachante e registro no Detran. O custo total do empréstimo serve
tanto para o comprador do veículo analisar se a prestação realmente caberá no
seu bolso quanto para ele comparar a taxa cobrada por uma instituição com a
oferecida pelas demais. Por último, o custo total é importante para mostrar as
promessas que muitas montadoras e concessionárias fazem de vender veículos com
juro zero nem sempre são verdadeiras. Especialistas também recomendam que os
compradores economizem para dar a maior entrada possível no financiamento. Dessa
forma, o gasto com juros será menor e ainda será possível ganhar algum dinheiro
com a aplicação das economias no banco. Ao analisar se uma prestação cabe em seu
bolso, lembre-se que um carro também tem gastos de manutenção, combustível,
IPVA, licenciamento e seguro, entre outros. Rodar com um veículo custa por mês
cerca de 3% de seu valor de mercado. Portanto, não é recomendável se endividar
sem levar em conta a existência desses gastos.
7 - Descubra se o carro não é roubado. As concessionárias já
realizam essa checagem e garantem a procedência dos veículos vendidos aos
clientes. Ao comprar um veículo de pessoa física, no entanto, é necessário fazer
uma vistoria. Cheque os número do chassi, dos vidros e da placa. Veja se são os
mesmos que estão no documento. Verifique no site do Detran se a placa do carro é
verdadeira e se não há pendências - como multas - a serem pagas. Analise também
se o documento do veículo não é adulterado. Os verdadeiros possuem um
alto-relevo em toda a sua volta. É importantíssimo que a vistoria seja feita com
o documento original - e não por cópias enviadas por fax. Se alguém comprar um
carro e, numa blitz policial, descobrir que ele foi furtado no passado, vai
perder todo o dinheiro que desembolsou. Na dúvida, o mais recomendado é
contratar empresas especializadas em vistorias de veículos, que podem realizar
esse serviço por menos de 100 reais.
8 - Cheque se o veículo não foi danificado em uma colisão grave.
Acidentes costumam causar avarias capazes de desvalorizar - e muito - o preço
justo de um veículo. Mas também costumam deixar cicatrizes que alertam o
comprador de que ele poderá ter problemas futuros. Para identificar a ocorrência
de acidentes, faça uma vistoria na pintura com o carro seco e limpo. Ao
observá-lo em algum lugar bem claro, de preferência durante do dia, será
possível enxergar pequenas diferenças na pintura que denunciam acidentes no
passado. Verifique se há simetria entre as portas, os parachoques e o teto.
Ondulações, pequenos amassados na lataria ou diferenças nas quinas do capô são
outras indicações de colisão. Dê "pancadinhas" com os dedos na lataria para
verificar se o barulho é diferente em algum ponto - o que indicaria a colocação
de massa plástica. O ideal é verificar se a própria estrutura do carro não foi
avariada. Uma colisão severa costuma exigir reparos no monobloco. Nos casos mais
graves, o Detran determina que seja grafada a palavra "sinistrado" no documento
- o que nem sempre acontece. Se mesmo após a inspeção você tiver dúvidas sobre o
passado do veículo, o ideal é contratar uma empresa especializada. No site
www.checkauto.com.br , é possível saber se um carro foi furtado, se sofreu danos
em algum acidente grave, se a contagem da quilometragem foi adulterada, se está
alienado ao banco, se foi comprado de locadora ou se foi adquirido em leilão,
entre outras informações. O serviço custa 25 reais por carro, mas costuma
compensar.
9 - Identifique carros danificados por enchente. O jeito
mais fácil de detectar se um carro ficou alagado na enxurrada é pelo cheiro.
Sachês que perfumam o interior do veículo costumam ser usados para disfarçar o
odor. Mesmo após uma higienização, ainda é possível achar barro e impurezas
depositadas em lugares pouco expostos. Verifique também o estado do estofamento
dos bancos e do carpete. Se o tecido estiver estragado, desconfie. O carro pode
ter sido vítima de enchente ou está com problemas de vedação.
10 - Analise o estado de conservação geral do veículo. Mesmo
que não tenha passado por uma acidente grave ou por uma enchente, muitas vezes
um veículo não está em bom estado por descuido do dono. A primeira coisa que
deve ser observada é o manual do automóvel. Lá está registrado se o proprietário
realizou todas as revisões indicadas pela montadora. Pode parecer um detalhe,
mas isso é um sinal de quão cuidadoso o dono foi com o veículo. Procure também
pontos de ferrugem em cantinhos e debaixo das guarnições ou do assoalho. Pode
ser um sinal de problemas na vedação. Verifique se o carro tem extintor, macaco,
triângulo, chave de rodas e estepe em condições de uso. Veja se há vazamento de
óleo embaixo do carro, se há queima excessiva de óleo no motor ou se há presença
de manchas escuras no escapamento. Verifique se o motor não é turbinado. A
legislação brasileira não permite a adulteração de suspensão ou do motor. Se o
carro demora para ligar, há folgas no motor. Para testar a suspensão, dê uma
volta em terrenos de terra ou razoavelmente irregulares. Ruídos e estalos vão
denunciar eventuais problemas. Outra forma de verificar o estado da suspensão é
balançar o carro para baixo segurando pelo parachoque. Se, ao largá-lo, o
veículo balançar duas ou mais vezes, o amortecedor está em más condições.
Confira o estado dos pneus. Desgastes irregulares podem indicar problemas com a
suspensão ou a falta de alinhamento das rodas. Já pneus carecas ou com mais de
60.000 quilômetros rodados precisarão ser substituídos porque trazem risco à
segurança. Para verificar o estado dos freios, ouça se há ruídos metálicos no
momento da utilização. Esse será um indício de que as pastilhas estão gastas.
Para os compradores que não se sentem seguros com os resultados da própria
vistoria, é recomendável levar o carro a um mecânico de confiança ou à oficina
de uma empresa especializada.