Veja as taxas cobradas pelos principais bancos brasileiros para antecipar o
pagamento desses dois benefícios
Dinheiro na mão com antecipação do IR ou 13º: praticidade e baixas taxas de
jurosQuando o orçamento fica apertado ou aquela promoção parece simplesmente
imperdível, o adiantamento do 13º ou da restituição do Imposto de Renda parece
ser uma ótima pedida. Com juros que praticamente se equiparam aos ofertados pelo
empréstimo consignado, a antecipação destes benefícios está entre as linhas mais
baratas de crédito à pessoa física, com taxas que variam entre 2,5% e 3,5% ao
mês. O cheque especial e o cartão de crédito, por exemplo, costumam trabalhar
com taxas mensais que chegam a 10%.
Assim como acontece com o desconto em folha, a razão para essa vantagem se
assenta em apenas uma palavra: garantia. No caso do 13º, a quitação do
empréstimo é feita assim que o dinheiro é depositado. E como este é um direito
assegurado aos que têm carteira assinada, a chance dos trabalhadores terminarem
o ano com a conta recheada é quase infalível. Segundo Marcelo Segredo, diretor
da ABC (Associação Brasileira do Consumidor), nem mesmo o fantasma da demissão
representa um risco para as instituições financeiras. "Muitos bancos firmam
contratos com as empresas para assegurar que o dinheiro da rescisão cubra a
dívida que permanecer em aberto. A probabilidade do calote acontecer é mínima",
esclarece.
Contando com a baixa inadimplência como aliada, essa modalidade de crédito
embarca na maré de otimismo levantada pelo consumo interno e galga degraus cada
vez mais altos na conquista de clientes. Só no Banco do Brasil, o volume
emprestado com o adiantamento do 13º no primeiro semestre foi 65% maior do que
no mesmo período de 2009, chegando a 467 milhões de reais.
Para angariar interessados, os bancos costumam oferecer esta linha de crédito
logo no primeiro trimestre do ano. Em geral, os juros são descontados do
montante disponibilizado, levando em consideração a data em que o 13º será
liberado. Na Caixa, entretanto, o abatimento acontece no término do contrato,
direto na conta corrente do solicitante. De qualquer forma, só é possível
requerer o adiantamento se o salário já for recebido na instituição escolhida.
Confira as condições e taxas cobradas pelos cinco maiores bancos do país:
Antecipação do 13º
Banco |
Limite |
Juros (% ao mês) |
Quitação |
Banco do Brasil |
80% do salário para quem recebe em parcela única e 40% para os que
recebem em duas parcelas. Aposentados e pensionistas do INSS podem
antecipar até 50% da segunda parcela do 13º |
2,71% |
Na data de recebimento do benefício ou em 15 de janeiro de 2011 - o
que ocorrer primeiro. |
Bradesco |
80% do salário. Aposentados e beneficiários do INSS podem antecipar
50% do valor da segunda parcela do 13º salário |
2,55% a 2,90% |
Na data de recebimento do benefício |
Caixa Econômica Federal |
Valor mínimo de 500 reais e máximo de 20.000 reais, obedecendo ao
limite de 75% do salário |
2,52% |
Na data de recebimento do benefício |
Itaú Unibanco |
12.000 reais |
Até 3,95% |
Na data de recebimento do benefício |
Santander |
80% do salário |
A partir de 2,95% |
Na data de recebimento do benefício, com prazo máximo para 20 de
dezembro |
Imposto de renda
Aos olhos das instituições financeiras, a lógica da segurança
também se aplica ao adiantamento do IR. O dinheiro tem data prevista para voltar
ao bolso do contribuinte, já que as restituições são pagas em sete lotes
mensais, entre junho e dezembro de cada ano. É verdade que o governo pode
atrasar o processo, como já aconteceu em 2009. Na época, a manobra foi usada
para compensar a queda na arrecadação provocada pela crise. Se por um lado a
correção dos recursos retidos acompanha a Selic, por outro os bancos cobram até
quatro vezes mais que taxa básica de juros quando antecipam o recebimento desses
proventos. Em outras palavras, o atraso necessariamente implicará na cobrança de
mais encargos.
Caso o interessado caia na malha fina, o dinheiro também não
será descontado na data prevista. "Qualquer um desses fatores levará ao
pagamento de juros de mora, que costumam ser bem altos", alerta Marcelo Segredo,
da ABC. A própria Receita, no entanto, estima que apenas 1,5% dos contribuintes
tiveram a declaração barrada no ano passado. O baixo percentual demonstra que o
público para esse tipo de crédito é grande. E os bancos seguem experimentando o
lado prático desta fartura. Quase 140 mil clientes já anteciparam suas
restituições na
Caixa Econômica Federal neste ano. A expectativa é que essa base cresça 35%
em relação a 2009.
Ao contrário do que acontece com o 13º, o adiantamento da
restituição chega a ser integral quando os clientes já recebem o salário no
banco escolhido. Do contrário, esse limite costuma ser de 80%. Nas duas
situações, o único pré-requisito é ser correntista da instituição. Saiba mais
sobre as regras dos grandes bancos para a concessão deste crédito:
Antecipação da restituição do IR
Banco |
Limite |
Juros (% ao mês) |
Quitação |
Banco do Brasil |
Mínimo de 100 reais e máximo de 10.000 reais, desde que o valor
corresponda a no máximo 80% da restituição. Para quem já recebe o
salário no banco, a antecipação pode chegar a 100% |
2,71% |
No dia de recebimento da restituição ou em 26 de fevereiro de 2011 -
o que ocorrer primeiro |
Bradesco |
Máximo de 20.000 reais. Quem recebe o salário no banco pode
antecipar até 100% da restituição. Os demais podem antecipar de 65% a
80% do valor devido |
2,25% a 2,95% |
No dia de recebimento da restituição, com vencimento máximo em
dezembro |
Caixa Econômica Federal |
Mínimo de 500 reais e máximo de 30.000 reais, com limite de até 75%
da restituição |
A partir de 2,35% |
No dia de recebimento da restituição ou em 30 de dezembro - o que
ocorrer primeiro |
Itaú Unibanco |
12.000 reais |
Até 3,45% |
No dia de recebimento da restituição ou até 23 de dezembro - o que
ocorrer primeiro |
Santander |
Até 100% do valor da restituição, com limite mínimo de 100 reais |
A partir de 2,75% |
No dia de recebimento da restituição |
Cuidados
Quando comparado com o crédito consignado, a antecipação do
13º ou da restituição do IR canaliza um dinheiro extra para a conta do
beneficiário sem comprometer sua renda mensal. Reside aí uma grande vantagem
para quem já colocou as dívidas na ponta do lápis e está disposto a liquidá-las
de uma só vez. Apesar das duas modalidades baterem os outros tipos de crédito na
oferta de taxas mais em conta, o desconto em folha compromete até 30% do salário
e, por isso, pode bagunçar ainda mais o orçamento dos endividados. "A
antecipação é um tiro curto. Por outro lado, a consignação pode se arrastar por
anos", sustenta o educador financeiro Reinaldo Domingos. "Se o sujeito já não
consegue manter o equilíbrio com 100% do que recebe, imagine depois de
comprometer esse dinheiro por 36 meses."
Especialistas concordam que trocar uma dívida cara por outra
mais barata deve ser a maior motivação de quem decide queimar o recebimento dos
futuros proventos. Se este for o caso, Marcelo Segredo, diretor da ABC,
aconselha o consumidor a se impor na hora de liquidar as pendências, tirando o
melhor proveito do pagamento à vista. "As dívidas costumam estar inchadas de
juros abusivos. Quem sabe negociar descontos consegue reduzir até 40% do valor
devido", conta.
Mas se as taxas dos benefícios antecipados parecem atrativas o
suficiente para incentivar a compra de todos os tipos de bens, é preciso ter
cuidado antes de contar com esse dinheiro para trocar de televisão ou renovar o
guardar-roupa. O argumento é especialmente válido para o uso do 13º, comumente
consumido com a miríade de despesas que batem às portas dos brasileiros na
virada do ano. "É muito difícil uma pessoa não se render aos apelos do consumo
nessa época, seja com presentes, férias ou até com uma ceia mais caprichada",
afirma o consultor financeiro Maurício Galhardo. "E os gastos não param por aí.
Já no começo do ano, arcamos com IPVA do carro, matrículas, compra de material
escolar e IPTU", completa. Se a pessoa já tiver antecipado o 13º e acabar
recorrendo ao cheque especial, por exemplo, para quitar esses impostos, vai
acabar perdendo muito dinheiro.
"Em 98% dos casos, a antecipação não é feita de uma forma
pensada. Toma-se dinheiro combatendo o efeito e não a causa do endividamento,
que é a falta de controle financeiro", afirma Reinaldo Domingos. Por isso, não
adiante os benefícios se você tiver compromissos pendentes e não for usar os
recursos para saldá-los. Quem está livre de dívidas também não tem carta branca.
Antes de tudo, é preciso avaliar se há urgência no desembolso de um montante que
certamente fará diferença lá na frente, no caso do 13º. Para a restituição do
IR, há de se considerar que o consumidor pagará aos bancos por um dinheiro que,
recebido no seu devido prazo, renderia um pouco mais que a taxa Selic - o que
não deixa de ser uma vantagem no país das mais altas taxas de juros do mundo.