Estímulo e competição são duas palavras que passeiam de mãos dadas pelos
corredores das grandes e das pequenas companhias. Na hora de incentivar o
cumprimento das metas, as estratégias usadas pelas empresas já contêm a semente
da competição.
Segundo consultores, isso exige um cuidado especial ao traçar os planos para
estimular a equipe. Como nem todas as firmas seguem o conselho, sobra para o
funcionário o exercício de encontrar a medida certa da superação e evitar a
concorrência predatória.
Quando a empresa erra a mão na receita do estímulo, sobreviver ao plano de metas
pode se tornar o principal desafio do profissional. Para o empregado, que busca
oportunidades de crescer e quer, claro, engordar o salário, é preciso atingir os
objetivos sem se esquecer da ética e do coleguismo.
As maiores dificuldades surgem quando a empresa, sem dinheiro para recompensar
como gostaria o esforço de todos os que atingiram as metas estipuladas,
dificulta o plano para que alguns fracassem ou cria programas em que a regra é
premiar só os melhores, que ganham boas recompensas. De um jeito ou de outro,
quem sai vencedora é a competição.
Para os especialistas, o erro é bastante comum no mercado, embora não seja
difícil de ser corrigido. O prêmio só se torna inviável quando o plano não é
autogerenciável, ou seja, quando já não prevê a verba uma porcentagem das metas
atingidas a ser dividida entre os participantes.
Mesmo nas estratégias simples e saudáveis há sempre uma pontinha de competição,
o que, segundo consultores, é positivo. "O brasileiro é competidor por
excelência, ele gosta do jogo. Se encontra regras claras, há uma competição
legal. Se o trabalho [da empresa] for feito de forma profissional, os resultados
serão positivos", ressalta José Carlos Figueiredo, consultor do Grupo Catho.
Peixe
Na IT Mídia, por exemplo, uma pescaria em um tanque de areia, como nas
festas juninas, foi a tática para motivar a equipe de vendas. Cada peixe trazia
um prêmio.
"Pesquei R$ 100. Não é um valor alto, mas o interessante foi que todo mundo que
atingiu a meta pescou. A empresa nos estimulou e conseguiu administrar o custo
da brincadeira", conta Alberto Leite, 29, que trabalha no departamento de
marketing e vendas. Em cada pescaria, a equipe "esticava" os olhos para não
perder nada. "Todo mundo queria saber qual o prêmio que o outro iria ganhar."
O direito à pescaria era restrito à equipe comercial, mas cada premiado podia
escolher alguém de outro departamento para pescar também. "Chamei o
guarda-noturno. Foi divertido", diz Leite.
Seleção
A maneira como o profissional reage a situações de competitividade elevada
pode ser determinante nos processos seletivos.
"Há os dois lados, o bom e o ruim. Em geral, a competitividade é um ponto
positivo na seleção. Isso é observado na entrevista, nas dinâmicas e na
aplicação de testes", explica a consultora Erika Migliano, da Manager Assessoria
em Recursos Humanos.
Nas entrevistas por competência, os candidatos costumam ser testados pelo futuro
empregador. A partir da simulação de situações normais ao cargo pretendido, os
especialistas avaliam se o profissional é capaz de deixar de lado a ética. O
resultado pode ser o adeus às chances de contratação.