Em primeiro lugar, sabemos que as empresas são constituídas por pessoas. Em
segundo, ninguém poderá negar que toda organização também desenvolve seus
diálogos internos através das crenças e dos valores que constroem sua cultura e,
consequentemente, sua autoimagem refletida na forma como os agentes internos e
externos a veem. Por sua vez, a autoimagem cria zonas de conforto que fortalecem
um conjunto de comportamentos (atitudes, práticas, políticas etc.)
organizacionais que realimentam e consolidam as crenças e os valores.
Seja como for, não entraremos no mérito de cada uma dessas questões, apenas
trataremos daquilo que podemos chamar de: zonas de conforto de muitas
organizações e, assim como acontece com os seres humanos, identificar e comentar
algumas delas.
Podemos dizer que as zonas de conforto dentro de uma empresa são representadas
por todas as circunstâncias que conduzem a manter tudo como está, sob a alegação
de que não é possível (ou não interessa) mudar pelas mais variadas razões.
Veja 11 possíveis zonas de conforto, a seguir.
Zona de conforto 1: A ética é praticada. Somente e quando
interessa.
Geralmente, o discurso interno é no sentido de incentivo às práticas éticas e
todos os gestores fazem questão de alardear tal conduta junto aos seus
funcionários. Porém, são comuns:
- Negociações realizadas com compradores (de clientes) de caráter e conduta
duvidosa e mediante o pagamento de comissão para obter alguma vantagem.
- Prática de preços abusivos para determinados clientes que não se interessam em
pesquisar o mercado ou porque confiam no vendedor.
- Pagamento de propina para obtenção de "facilidades" ou outros interesses da
empresa.
Zona de conforto 2: Tratamentos diferenciados com funcionários.
Sob a alegação de que os encargos sociais são muito elevados, a cada dia é maior
o número de situações criadas com funcionários, tais como:
- Trabalhadores sem registro.
- Somente parte do salário é registrada e o restante é pago "por fora".
- Contratação de funcionário condicionada à constituição de empresa (pessoa
jurídica).
- Departamentos que operam com funcionários próprios e terceirizados.
- Privilégios concedidos somente para determinados funcionários ou funções.
Zona de conforto 3: Sem a informalidade não sobrevivo!
As principais alegações são que "a carga tributária é muito alta" e/ou que "o
cliente só compra sem a competente documentação fiscal ou somente parte do valor
documentado". Essa é uma prática muito comum em vários segmentos de negócios.
Zona de conforto 4: Em nosso mercado o cliente só compra
"preço"!
Quantas vezes você já escutou alguém dizer: "no meu mercado, os clientes estão
preocupados com preço e não exigem qualidade. Assim, o nível e o controle que
temos em nossa fábrica está bem adequado. Além disso, nossos problemas com
qualidade são muito pequenos! Esta é uma área que não precisamos nos
preocupar!".
Zona de conforto 5: Responsabilidade social demagógica
Muito embora várias organizações pelo mundo afora apresentem todas as
características de empresas socialmente responsáveis há décadas, a verdade é que
os temas "ética e responsabilidade social" ganharam corpo e importância nos anos
90. A partir da crescente pressão exercida pela sociedade, pelos meios de
comunicação, pelas ONG´s e pela Igreja (principalmente a Católica). Com isso,
tornou-se cada vez mais crescente o número de empresas que sentiram a
necessidade de passar uma imagem corporativa positiva e socialmente responsável.
Assim, nos dias de hoje, independentemente da concepção do negócio, do produto
ou do serviço oferecido e da qualidade das relações mantidas, a propaganda
tornou-se o meio mais fácil de construir e oferecer ao mercado uma imagem
saudável e positiva.
Zona de conforto 6: Nossos níveis de desperdício são muito
baixos!
Mesmo não mantendo quaisquer controles mais eficientes nos processos, muitos
gestores estão convictos de que os níveis internos de desperdícios são
adequados.
Zona de conforto 7: Nossos produtos não precisam de atualização
e sempre serão desejados pelo mercado!
Muitas empresas que tiveram a competência de desenvolver produtos que estão
presentes no mercado há muitos anos geralmente acreditam (ou parecem acreditar)
que os mesmos são "eternos".
Zona de conforto 8: Base de fornecedores - tradicionais - de
matérias primas.
Empresas e negócios existentes há muitos anos geralmente possuem uma base de
fornecedores tradicionais de matérias primas, onde as relações estão
consolidadas e as práticas são inteiramente conhecidas.
Zona de conforto 9: Tratamento especial somente para os
melhores clientes.
Quantas são as empresas que constroem e/ou prosperam seus negócios numa base
limitada de clientes e para eles dispensam tratamentos diferenciados e
especiais.
Zona de conforto 10: Sabemos o que o nosso cliente quer!
Quantas empresas acreditam que conhecem as necessidades dos clientes em razão da
presença no mercado há muitos anos.
Zona de conforto 11: Aqui as coisas sempre foram assim e é por
isso que continuamos no mercado!
Diante de qualquer questionamento do por que não se muda determinada rotina ou
procedimento interno, é mais comum do que se imagina ouvir como resposta algo
parecido com a expressão acima.
É bem verdade que as zonas de conforto citadas não estão presentes em todas
as empresas, bem como também é verdadeiro afirmar que existem inúmeras outras
não mencionadas. Ao destacar somente essas onze, queremos chamar a atenção do
prezado leitor para o fato que todas as empresas, independentemente do porte, do
mercado de atuação, de sua cultura, de seus valores e de sua condição econômica
e financeira apresentam zonas de conforto que foram criadas ao longo do tempo.
Se elas existem (e acredite, na sua empresa também existem!), é preciso
insurgir-se contra elas ou ao menos tentar identificá-las e avaliar, com firmeza
e consistência, até que ponto podem estar beneficiando ou influenciando no
presente e como poderão ajudar ou prejudicar e comprometer o futuro da
organização.