Se tem um mercado de trabalho que é promissor no Brasil é o de Tecnologia da
Informação. De acordo com a Abes (Associação Brasileira de Empresas de
Software), até 2013, devem faltar no País de 140 mil a 200 mil profissionais
qualificados que possam atuar na área. Hoje, a associação calcula que existe um
deficit de mais de 50 mil profissionais. Se o mercado parece ser tão promissor,
por que existem tantos profissionais reclamando de falta de oportunidades e de
uma remuneração ruim?
Para os especialistas ouvidos pelo InfoMoney, em alguns
casos, esses profissionais não estão preparados para suprir as exigências das
empresas, que buscam pessoas qualificadas. E, entre aqueles que conseguem
acompanhar as evoluções de um segmento que muda a cada segundo, a remuneração
está acima da média para um iniciante, considerando praticamente todas as áreas.
“Faltam profissionais porque falta formação em quantidade e qualidade”,
afirma o presidente da Abes, Gérson Schmitt. “Essa área é dinâmica e nossa
educação ainda é tradicional e está defasada”, acredita. Ele calcula que um
profissional de TI em início de carreira tenha uma remuneração entre R$ 1,5 mil
e R$ 3,5 mil. “Profissionais maduros ganham de R$ 4 mil a R$ 6 mil e os mais
especializados podem receber até R$ 10 mil”, comenta Schmitt.
De fato, levantamento feito pela Catho Online mostra que profissionais dessa
área de nível sênior podem receber mais de R$ 6 mil, em média, como é o caso de
um administrador de banco de dados. Aqueles que chegam a cargos de gerência
podem receber mais de R$ 10,7 mil, em média, como é o caso de um gerente de
redes/Telecom. “Profissionais dessa área são uns dos mais bem remunerados do
mercado, já recebem acima da média”, acredita o gerente de Atendimento da Catho
Online, Lucio Tezotto.
Para ele, esse mercado é um dos que mais crescem no País. “O mercado já é, há
cerca de 10 anos, muito promissor e tende a ser cada vez mais aquecido”,
acredita. De acordo com Tezotto, as empresas tendem a utilizar a tecnologia como
um fator cada vez maior de competitividade. “A competitividade exige mais
investimentos em tecnologia e mais pessoas para integrar essas equipes. Em
outras palavras, exige um upgrade constante e cada vez mais avançado”.
Nada vem sem sacrifício
Que faltam - e devem faltar mais - profissionais qualificados nessa área, os
especialistas concordam e os números mostram. Mas por que tantos profissionais
estão descontentes? Para os especialistas, o problema está na quantidade de
atualizações que eles devem fazer para permanecerem competitivos. Para Schmitt,
os que querem se dar bem nesse mercado precisam ter, no mínimo, uma graduação na
área, de três a cinco certificações em especialidades ou diferentes plataformas
e línguas, sendo inglês obrigatório e espanhol desejável. Tudo isso demanda
tempo e dinheiro que muitos não têm.
Além de todas essas habilidades técnicas, é preciso ter uma série de
competências, como o comprometimento. “Profissões de TI não estão vinculadas ao
conceito de entrar em uma hora e sair em outra”, reforça o presidente da Abes.
“Ele [profissional] deve estar comprometido não em cumprir um horário,
mas em entregar um resultado”, completa.
Jair Lorenzetti Filho, 42, conhece bem os caminhos da área. Ele começou a
atuar em TI quando a internet no Brasil ainda era uma novidade, em 1990. "Na
época, eu trabalhava com logística e passei para a informática, praticamente
empurrado", conta. Logo ele tomou gosto pela área e começou a estudar. Contudo,
como a área era incipiente no País, teve de se resolver no exterior. "Comecei a
atuar em consultorias de informática e software de gestão norte-americanas e
alemãs". Na área, ele ficou até 2002 e chegou ao topo - atuou como diretor de TI
da M.Officer, empresa onde hoje é diretor superintendente.
Ao longo de sua carreira na área, contudo, Lorenzetti pouco desembolsou com
certificações ou especializações. "As empresas pelas quais passei bancaram. Não
lembro de ter pago nenhuma atualização", conta ele, que tem 40 certificações e
especializações (as chamadas academias da área). Esse cenário, de acordo
com Schmitt, é bem comum. Ele lembra que as empresas que querem se destacar no
mercado preparam os próprios profissionais. “A maioria das empresas proporciona
a certificação e a atualização dos profissionais. Então, os custos de todo esse
treinamento são, ao menos em parte, subsidiados pela empresa”, afirma.
A dificuldade de acompanhar tantas exigências não é o único fator de
frustração. Schmitt reconhece que o modelo adotado pelas empresas da área no
Brasil reduz a média salarial desses profissionais. De acordo com a Abes, a
maior parte das empresas desse segmento são de prestação de serviços. “Esse
modelo exige muitos profissionais e um aproveitamento baixo do know-how deles, o
que reduz o custo da hora”, afirma.
Para se ter uma ideia, no mercado brasileiro, existem quase 8,5 mil empresas
que se dedicam ao desenvolvimento, produção e distribuição de software e de
prestação de serviços. Das empresas que desenvolvem softwares, e que, por isso,
requerem profissionais altamente qualificados, 94% são MPEs (Micro e Pequenas
Empresas) – ou seja, elas contratam menos que uma empresa de médio ou grande
porte contratariam. O grande mercado mesmo está focado em serviços. Por isso, as
reclamações de baixos salários.
Para Marcos Muller, 40, a situação não é das melhores. Ele não entende como é
possível faltar profissional no mercado se, não raro, ele encontra colegas que
não conseguem recolocação adequada. Muller está há dezoito anos na área,
formou-se em Administração de Empresas, mas logo se especializou em Informática.
Hoje, ele é arquiteto de software em uma empresa no Rio de Janeiro e sua grande
crítica é quanto à remuneração. "O retorno que eu tenho não equivale aos gastos
que tive com atualização", reclama.
Segundo ele, por mês, os gastos com itens e cursos que visem sua
especialização ficam em torno de R$ 300. Sua remuneração líquida é de R$ 6,2 mil
- para ele, insuficientes para cumprir com as obrigações domésticas e ainda
manter-se atualizado. Muller tem hoje uma certificação e nove cursos - pagou
cerca de R$ 1,3 mil por cada um. Sem contar os cerca de R$ 2,6 mil que gasta por
ano com atualizações. Por outro lado, ele confessa que nunca teve dificuldades
de se recolocar no mercado. "Mas, se eu colocar uma pretensão salarial entre R$
8 mil e R$ 9 mil, não vou encontrar fácil", sustenta.
Profissões em destaque
A área de TI não se resume a algumas poucas profissões. Há uma gama enorme
das oportunidades – todas com boas previsões de crescimento. Para Tezotto, da
Catho Online, programadores, analistas, arquitetos de informação, gestores de
TI, administradores de banco de dados, webdesigner, gerente de projetos, entre
outros, devem ganhar cada vez mais destaque a médio prazo.
Para não ter dúvidas sobre qual profissão escolher, confira no box abaixo o
que fazem e quanto ganham, em média, alguns profissionais dessa área:
Profissionais de TI |
Profissão |
O que faz |
Média salarial |
Gerente de banco de dados |
Responde pela administração de banco de dados existentes na empresa
e projeta estruturas
de novos bancos de dados, além de desenvolver programas utilitários,
orientando os usuários
na utilização do sistema |
R$ 7.219 |
Gerente de TI |
Gere atividades da área de TI, elabora projetos de implantação,
racionaliza e redesenha
processos, incluindo desenvolvimento e integração de sistemas, com
utilização de alta tecnologia |
R$ 9.320 |
Desenvolvedor (programador sênior) |
Codifica, desenvolve e testa programas de grande complexidade para
processamento de dados no computador com base nos trabalhos
desenvolvidos pelos analistas de sistemas |
R$ 3.393 |
Administrador de Redes (Sênior) |
Administra ambientes computacionais de alta complexidade, definindo
parâmetros de utilização de sistemas, implantando e documentando rotinas
e projetos, controlando os níveis de
serviço de sistemas operacionais, banco de dados e redes |
R$ 4.294 |
Analista de sistemas (Sênior) |
Atua no planejamento e coleta das informações junto aos usuários, a
fim de implantar sistemas de processamentos de dados, desenvolve
sistemas a partir da análise de coleta de informações,
estudando fluxos de trabalho, necessidade de recursos, a fim de propor
alterações |
R$ 5.861 |
Suporte técnico em Informática (consultor) |
Responde pelas atividades de consultoria, em assuntos referentes à
área de Suporte Técnico, compreendendo diagnósticos, planejamento
estratégico de atuação, desenvolvimento dos trabalhos, propondo
alternativas e soluções à direção da empresa |
R$ 4.406 |
Gerente de Administração de redes |
Gerencia o funcionamento de equipamentos e o perfeito funcionamento
de sistemas operacionais na segurança das informações, auxilia todos os
usuários no acesso à internet e à rede interna,
cadastra os usuários, suas senhas e códigos que lhes permitem trabalhar
na rede |
R$ 10.741 |
Gerente de redes/Telecom |
Gerencia e acompanha o planejamento e execução das atividades de
planejamento, instalação ou reparação de rede aérea e rede subterrânea
das linhas telefônicas, organizando processos,
orientando e alocando equipes/áreas de trabalho e acompanhando o
cumprimento de prazos
qualidade dos serviços |
R$ 7.877 |
Webdesigners (Sênior) |
Responsável pela elaboração de projetos visuais das páginas de
sites.
Efetua revisões constantes, aplicando testes de funcionamento nas
criações de sites,
com a finalidade de corrigir eventuais problemas |
R$ 3.067 |
Administrador de banco de dados (Sênior) |
Administra ambientes computacionais de alta complexidade, define
parâmetros de
utilização de sistemas, implanta e documenta rotinas e projetos e
controla os níveis
de serviço de sistemas operacionais, banco de dados e redes, além de
outras tarefas |
R$ 6.529 |
Como se dar bem nesse mercado?
De acordo com a consultoria IDC, as receitas do mercado de TI podem subir
15% neste ano, na comparação com 2009. E, até 2014, o País deverá criar pelo
menos mais US$ 18 bilhões de novas receitas nesse mercado. Se as novas projeções
se confirmarem, o Brasil passa a fazer parte da lista dos 10 países que mais
investem em Tecnologia da Informação no mundo, ficando na nona colocação.
Segundo a Abes, no ano passado, o Brasil manteve a 12ª posição no cenário
mundial, tendo movimentado US$ 15,3 bilhões. O montante equivale a 1,02% do PIB
(Produto Interno Bruto) brasileiro daquele ano. Tudo isso indica que ainda há
muito espaço para que esse mercado cresça. E, por consequência, há ainda mais
espaço para os profissionais. Contudo, como indicam os números, não é fácil
permanecer nesse mercado.
A consultora de Recursos Humanos do Grupo Soma Desenvolvimento Corporativo
Jane Souza lembra que é preciso manter-se atualizado. "Aquele profissional que
investir em especializações vai se dar bem nesse mercado", afirma. Para ela, o
primeiro passo é gostar da área, ler bastante, estar atualizado com o tema de
atuação específica. "É preciso estar globalizado e investir em línguas", afirma.
Contudo, Schmitt, presidente da Abes, lembra que não é impossível acompanhar
esse mercado. "As empresas têm de 10% a 20% de vagas em aberto nessa área. Quem
está fora está despreparado", conclui.