Fazer uma boa gestão financeira está entre os desafios que todo líder tem em
sua agenda, não somente a da empresa, mas também a pessoal. Um item cada vez
mais urgente na lista de prioridades dos executivos que precisam fazer
verdadeiras ginásticas para administrar a carreira e vida pessoal, a gestão das
finanças é o tema desta edição do Você Pergunta.
Para responder as questões, o Portal HSM convida Gustavo Cerbasi,
sócio-diretor da Cerbasi & Associados Planejamento Financeiro e autor de
diversos livros em Finanças Pessoais, entre eles o best-seller “Casais
inteligentes enriquecem juntos”.
1 - Como fazer com que uma alta posição no mercado de trabalho, não
nos torne esbanjadores compulsivos dos valores recebidos, fazendo de nossas
vidas um verdadeiro inferno, onde as dividas se tornem motivo de insônia? (Jones
Pierre Zimmermann)
Gustavo Cerbasi: Minha sugestão é que você estabeleça metas de longo e
médio prazos, como aposentadoria, viagens em família, troca ou reforma da
moradia, carros e presentes, para que seu padrão de consumo não se torne
insustentável. Se sua remuneração permite levar um estilo de vida abastado e
confortável, parabéns, não se culpe por isso. O importante é poupar, com
eficiência nos investimentos, o mínimo necessário para assegurar a manutenção
desse padrão de consumo.
2 - Sou um pequeno empreendedor e gostaria de obter financiamentos
para fazer um dos meus projetos com mais chance de conseguir melhores lucros.
Gostaria também de saber o melhor procedimento para obter um microcrédito.
(Chico Querubim)
Gustavo Cerbasi: Antes de procurar crédito, o ideal é
desenvolver meios de convencer seus potenciais financiadores de que seu negócio
é ou será rentável e com risco bastante controlado. Isso se faz através da
elaboração de um bom plano de negócios, nos padrões internacionais de
detalhamento, algo ainda raro de se fazer no Brasil. Com um bom plano de
negócios, você reunirá os argumentos para que a análise de crédito seja a mais
vantajosa para você. Daí, será apenas uma questão de dedicação pessoal pesquisar
as linhas de crédito do governo, dos bancos (não deixe de pesquisar entre bancos
de segunda linha) e fundos de venture capital. Consulte uma unidade do Sebrae ou
uma encubadora de negócios próxima de você para obter mais informações a
respeito.
3 – Gustavo, acompanho seus livros e conselhos, mas em um mundo cada
vez mais competitivo e uma vida cada vez mais capitalista e consumista,
encontramos cada vez mais pessoas com dificuldade de administrar sua vida
pessoal em prol da administração de seu trabalho e vida profissional. Como ser
“forte e consistente” profissionalmente se não o for na vida pessoal, ou se ela
estiver fragmentada e desarrumada? Mas também, como dar prioridade a vida
pessoal se a profissional nos exige e cobra tanto, o tempo todo? (Anônimo)
Gustavo Cerbasi: Sua pergunta trata da perda dos valores pessoais e
familiares, que é consequência de um modelo educacional ineficiente e do
distanciamento das pessoas, em decorrência de um anseio exagerado em crescer na
vida e mudar de degrau na pirâmide social. Vivemos tentando provar a nós mesmos
que chegamos aonde nossos pais gostaríamos que chegássemos. Eu construí minha
vida pessoal com a força e consistência que você sugere, estabelecendo metas e
limitando radicalmente minha agenda disponível para atividades profissionais.
Obviamente, quando comecei a recusar trabalhos em função dessa escolha, meus
parceiros da época ficaram descontentes e eu deixei que algumas portas se
fechassem. Mas as escolhas que restaram para respeitar meus valores foram as
mais interessantes do ponto de vista do equilíbrio. Sendo bem objetivo, se você
quiser levar uma vida de valores, provavelmente será menos recompensado do ponto
de vista profissional. Porém, para sua vida como um todo, você sairá ganhando.
4 - Tenho possibilidade de guardar mensalmente cerca de R$ 300,00.
Planejo daqui a dois anos fazer um financiamento para um apartamento de cerca de
R$ 120mil.
No momento só possuo R$ 30 mil, sendo R$ 20 mil de FGTS. Qual a melhor forma de
acumular o maior montante possível para dar de entrada no apartamento daqui a
dois anos? Uma previdência, fundos de investimento, ações etc? (Ana Pereira)
Gustavo Cerbasi: Quanto maior seu comprometimento com o prazo (por
exemplo, se seu contrato de aluguel vence em determinada data), maior é a
certeza de que você não deve buscar outra modalidade de investimento além da
renda fixa. Nesse caso, o melhor produto de investimento, caso você possa
esperar completar 720 dias de aplicação, são os títulos públicos pós-fixados (LFTs),
que praticamente a isentam de riscos de juros e inflação. Porém, sua estratégia
parece-me equivocada. O ideal é entrar em um financiamento quando você pode
ofertar pelo menos de 30 a 40% do valor do imóvel de entrada, desde que não
comprometa sua liquidez. Em outras palavras, é preciso ter esse valor poupado,
mais uma reserva de emergências equivalente a pelo menos seis meses do seu
consumo. Creio que é cedo demais para partir para a compra do imóvel.
5 - Olá Gustavo Cerbasi, sou seu fã e admiro muito seu trabalho, já
li seu livro Dinheiro os segredos de quem tem e pretendo começar os
investimentos inteligentes. Tenho 19 anos, faço estágio de engenharia de
produção e ganho cerca de R$ 1.170,00 mensais. Tenho disponível para investir a
partir deste mês de junho o valor de R$ 600,00 reais todo mês. No fim deste ano
e início de janeiro tenho como objetivo profissional ter disponível em torno de
R$ 5.000 para fazer um intercâmbio social de 1 mês (somando com o 13º salário).
Depois quero continuar investindo os R$ 600 até o fim de meu contrato como
estagiário que vai até dezembro de 2011. Esse valor pode aumentar em caso de
efetivação. Se isso acontecer quero comprar um carro e ter um plano para
alcançar R$ 1 milhão. Já li sobre vários tipos de investimento como poupança ,
CDB , Fundos de Renda fixa e ações. Só que tenho dúvidas sobre qual escolher
para começar, pois pretendo continuar me informando cada vez mais e adquirindo o
máximo de conhecimento do mercado financeiro. Qual dicas você poderia me dar
referente ao meus planos, (se financio ou não o carro) e a melhor forma de
investimento para começar? (Matheus Chaves)
Gustavo Cerbasi: Matheus, seu prazo é curto para aproveitar as
vantagens de produtos mais complexos, por isso você não tem outra escolha além
da Caderneta de Poupança. Contando os sete meses de aplicação mais uma parte do
13º salário, você chegará a janeiro com o valor que previu. Como seu rendimento
será muito pequeno neste período, o melhor a fazer será começar a pagar seu
intercâmbio, já fechando as passagens e a hospedagem. Com isso, você se
protegerá contra uma possível variação cambial. Quanto a seus planos, eu
buscaria várias metas simultâneas, priorizando na seguinte ordem:
1) cursos para aprimorar o currículo e aumentar a renda;
2) um pequeno valor mensal em plano de previdência para
garantir uma aposentadoria segura a partir dos 60 anos;
3) verba para comprar o carro (prefira pagar um consórcio a
partir do momento que já tiver pelo menos 25% do valor do carro poupado);
4) se sobrar dinheiro, aumente suas reservas para a
aposentadoria, para encurtar o prazo ou aumentar seu objetivo.
6 - Preciso investir mensalmente um valor do meu salário. Recebo R$
3.200,00 líquidos. Qual quantia devo aplicar? Pensei na poupança, até mesmo
para aprender a juntar e posteriormente aplico uma parte em fundos ou CDB. O que
você acha? (Juliana Moreira)
Gustavo Cerbasi: Você deve aplicar algo entre 10 e 20% de sua renda.
10% se tiver menos de 30 anos, 20% se tiver mais de 45 e ainda não tiver
reservas. Se você não tem conhecimento nenhum, eu sugiro dividir as aplicações
iniciais entre um plano de previdência privada (consulte um corretor de seguros
para saber qual é o mais adequado para você) e a Caderneta de Poupança. Se
começar a estudar alternativas de investimento, perceberá que em raras situações
o CDB será mais rentável do que a poupança. Os fundos serão um segundo passo
importante em sua estratégia, mas sempre compare o desempenho dos fundos
oferecidos por seu banco com o de outros.
7- Tenho uma renda de R$ 800,00 líquidos, porém não estou conseguindo
administrar minhas finanças. Este mês ultrapassou o valor de R$ 28,00. Pretendo
fazer um investimento a longo prazo como a compra de um imóvel. Você poderia me
orientar nesta questão? (Ezaquias Santos)
Gustavo Cerbasi: Em primeiro lugar, você deve descartar a ideia de
comprar um imóvel. Se não consegue pagar as contas do mês, você deveria pensar
em equilibrar seu consumo. Seu objetivo maior deve ser investir em educação para
aumentar sua renda, ou seja, para deixar de administrar pobreza. Ao mesmo tempo,
deve reduzir os grandes gastos (por exemplo, alugando um imóvel mais barato) e
iniciar um processo de formação de reservas financeiras. Enquanto não encontrar
estabilidade na carreira, a melhor opção ainda é evitar grandes compromissos,
como a prestação da casa própria.
8 - Fiz uma economia e estou na dúvida: Compro uma casa ou invisto num
negócio próprio?
(Cristiane Yoshida)
Gustavo Cerbasi: Dois motivos para você não comprar a casa.
Primeiro, se você tem em mãos a oportunidade de montar um negócio que lhe
proporcione renda (bem planejado, com os pés no chão), a renda a ser obtida com
ele pode viabilizar a compra da casa. Se comprar antes, o negócio estará
inviabilizado. Segundo motivo: se você pensa em ter um negócio, é porque sua
vida ainda não se estabilizou, e você está buscando mudanças. Não há obstáculo
maior para suas buscas do que ter grandes compromissos financeiros a pagar e
estar geograficamente imobilizada. Deixe a casa para mais tarde, quando quiser
fincar raízes e não desejar mais grandes aventuras profissionais. Enquanto isso,
alugue um imóvel conveniente próximo ao seu negócio.
9 - Primeiramente parabéns pelo trabalho e pela clareza que imprime
em seu trabalho. Gostaria da tua opinião: qual a melhor forma de equilibrar as
contas em um relacionamento, quando o marido administra as finanças do casal, e
a esposa por ter tido problemas familiares com o dinheiro, reclama do controle
financeiro? E ainda, a esposa ao conversar com os amigos valoriza a postura do
marido. (Ricardo Limongi)
Gustavo Cerbasi: Quando há um conflito de ideias, o problema não é
financeiro. Este é um caso típico para uma terapia de casal. Provavelmente, o
casal chegará à conclusão de que o controle é saudável, desde que seja simples e
não se torne foco das conversas dos dois.
10 - Estou com uma dúvida já há algum tempo. Tenho uma planilha muito
completa, com sessões divididas por "tipos" de gastos. Hoje, após eu gastar
qualquer real comprando qualquer coisa, eu coloco esse gasto na minha planilha.
Minha dúvida é, esta maneira de qualificar e quantificar as dívidas é a melhor
maneira de melhorar minha saúde financeira? Existe algum outro método que vem
antes disso?(Guilherme Zanoni)
Gustavo Cerbasi: Não é. Se você apenas controla e não adota
nenhuma iniciativa em decorrência desse controle, continuará com os mesmos
problemas, apenas com mais consciência deles. O objetivo do orçamento doméstico
é o mesmo do exame de sangue: mapear sua realidade para que você identifique
furos e os corrija. Quanto mais detalhamento, mais fácil será identificar
oportunidades de mudança. A melhor maneira de melhorar sua saúde financeira é
ranquear seus objetivos de consumo, priorizar o que lhe traz mais prazer e
cortar o que é meramente burocrático. Eu prefiro, por exemplo, trocar meu carro
por outro 10% mais barato do que deixar de ir ao cinema. Isso é qualidade de
consumo, pois eu continuo com meio de transporte e não corto lazer. Além disso,
você deve fazer as contas e começar a poupar o mínimo necessário para garantir
sustentabilidade a seu prazeroso padrão de consumo.
11 - Melhor comprar um imóvel financiado hoje (dando 40% de entrada)
ou alugar um imovel e ao mesmo tempo economizar para comprar a
vista?
Gustavo Cerbasi: Se você tem 40% para dar de entrada, provavelmente
fará melhor negócio adquirindo um consórcio e oferecendo sua reserva como lance
para ser contemplado logo. Mas, a questão não é comprar ou alugar, mas sim
comprar ou enriquecer. Neste mesmo fórum, já discuti essa ideia em outras duas
perguntas. Eu não estabeleceria como objetivo ter dinheiro para comprar à vista,
mas sim garantir que meu plano de independência financeira esteja encaminhado e
que minha renda não esteja submetida ao risco do desemprego ou da perda de
negócios. A regra é simples: se você busca mudanças em sua vida profissional,
não compre imóvel. Alugue-o próximo a seu trabalho, e mantenha-se flexível para
aproveitar oportunidades. Quando seu foco for a rotina familiar e social, já com
a evolução da carreira se estabilizando e não o preocupando mais, será a hora de
fincar raízes e procurar estabelecer seu cantinho pessoal.
12 – Hoje, todos encontram dificuldades quando se trata de controlar
você mesmo as finanças, e principalmente quando tratamos de interesses pessoais
e financeiros. Um dos meios ao quais recorremos é separar o dinheiro por
necessidades colocando os por centos em seus lugares, seja para viagens,
despesas médicas, liberdade financeira, entre outros. Mas quando vemos na
teoria, achamos muito prático, mas na ação esta forma é complicada. Às vezes não
pela falta de controle e sim por imprevistos e despesas extras, onde se
desequilibra totalmente o orçamento. Qual a melhor forma para não perder o foco
e continuar em busca dos resultados, equilibrando vontade, imprevistos e
oportunidades? (Thiago Henrique Cordeiro)
Gustavo Cerbasi: O ideal é que você tenha uma vida mais
simples, do ponto de vista dos compromissos financeiros fixos, para que ela seja
mais rica. Uma casa menor, um carro mais simples e um plano de saúde com menos
luxos deixam mais verba para lazer, caprichos e manias. É destes itens flexíveis
que sai a verba para cobrir pequenos imprevistos. Se você tem uma vida
financeira equilibrada e um bom orçamento, provavelmente passará o mês
substituindo a verba de alguns gastos pela de outros. Por outro lado, se sua
vida financeira se traduz em apenas contas fixas a pagar em datas conhecidas,
não há como manobrar os imprevistos.