A decisão de comprar um imóvel não é das mais fáceis. Embora o crédito
imobiliário tenha registrado números recordes nos últimos tempos, entrar em um
financiamento que o acompanhará por anos exige pensar duas vezes. Será que
alugar não é uma opção melhor?
Para a gestora de investimentos Claudia Kodja, a decisão de compra da casa
própria não pode considerar o cálculo, pois envolve também aspectos emocionais.
“O que é importante entender que, ao financiar um automóvel, troca-se uma
relação comercial com um locador, cujo aviso de possível desistência não passa
de 30 ou 90 dias, para uma relação com a mesma instituição financeira por 15 ou
30 anos”, afirma. “É preciso prudência, porque nesse tempo muitas coisas podem
mudar, inclusive sua renda”.
Porém, se o consumidor conseguir se livrar do aspecto emocional trazido pelo
ideal da casa própria, pode se surpreender ao perceber que pagar aluguel por um
pouco mais de tempo é uma alternativa a se pensar.
O que é mais caro?
O professor de Análise de Cenários Econômicos da Fipecafi (Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Silvio Paixão, tem um forma bem
objetiva para ajudar no raciocínio: “Digamos que estou pagando R$ 1.000 de
aluguel e quero tomar dinheiro emprestado para financiar a compra do imóvel. Se
a parcela do financiamento for menor que a parcela da locação, vale a pena
financiar”, disse ele.
Já no caso em que a pessoa tem dinheiro para pagar o imóvel à vista, ele apenas
precisa calcular se este dinheiro, aplicado, teria um rendimento líquido (após
subtrair os impostos, taxas e encargos) maior que o valor do aluguel.
“Eu pago R$ 2.000 de aluguel. Quando eu aplicar meu dinheiro, receberei mais de
R$ 2.000 (de rentabilidade)? Então, vou deixá-lo aplicado e continuar no
aluguel”, disse Paixão.
Metade do tempo
Para Cláudia, na maioria dos casos, permanecer mais tempo pagando aluguel é
financeiramente mais vantajoso. “Se você parcela por 20 anos um imóvel de R$ 100
mil com prestações de R$ 1.400, você poderia continuar morando de aluguel,
pagando R$ 750 por mês, que, juntando a diferença, acumularia o montante
suficiente para comprar o imóvel à vista em 10 anos – a metade do tempo”,
exemplificou a gestora. “E a aplicação pode ser em uma renda fixa, na taxa de
rentabilidade média do mercado. Nada impossível de se obter”, declarou.
Claudia acrescenta que, mesmo a taxa de juros dos financiamentos imobiliários
sendo uma das menores entre os demais produtos financeiros, o peso ainda é muito
alto, porque a dívida leva muito tempo para ser quitada. “O aluguel não é uma
coisa ruim nem um bicho de sete cabeças. É muito possível que, investindo a
diferença entre a parcela do financiamento e o aluguel, você consiga comprar o
mesmo imóvel na metade do tempo”, alertou.
Outras coisas a observar
Paixão observa um aspecto importante a ser analisado antes de tomar a decisão: o
potencial de valorização do imóvel. “O financiamento que vou fazer deve me
permitir obter um imóvel que será apreciado daqui alguns anos. Não faz sentido
parar R$ 1 milhão em uma casa que valerá R$ 800 mil daqui cinco anos. Terei
perdido dinheiro”, disse.
A recomendação final de Cláudia é permanecer no aluguel, pelo menos o tempo
suficiente para acumular um montante necessário para dar uma boa entrada no
financiamento, reduzindo assim o prazo do endividamento.
“O aluguel compromete menos a renda que o financiamento. E o lado emocional deve
ser deixado de lado, afinal, até você quitar totalmente as parcelas, a casa
continua sendo do financiador, e não sua, e ele pode tomar o imóvel de volta com
muita facilidade, em caso de inadimplência”, declarou a consultora.