Há muitas maneiras de se mentir no mundo das organizações, como, de resto, na
vida em geral. Você pode fazer afirmações que não são verdadeiras, superestimar
ou subestimar circunstâncias e situações, reter informações que deveriam ser
compartilhadas, distorcer fatos de seu interesse, contar meias verdades que
redundam em mentiras dissimuladas com aparência de verdade.
Mas há uma só maneira de se dizer a verdade. A prática da ética das
organizações requer convicção, vontade política e competências adequadas para
tornar as ações empresariais concretas e objetivas, minimizando as resistências
e as incompreensões.
Freqüentemente, o mundo dos negócios ressente-se das referidas convicções, de
vontade política e das adequadas competências. A atividade empresarial
reconhece, valoriza e recompensa os resultados, e não as convicções.
Suborno, espionagem industrial ou caixa 2 são práticas aéticas e ilegais, mas
o que dizer da prática de embutir custos por fora nos preços anunciados ou das
letras deliberadamente diminutas constantes nos contratos, para induzir o
incauto à desinformação? São essas práticas éticas? Se os concorrentes as
utilizam, você também está plenamente justificado por fazer o mesmo? Ou, na
verdade, são apenas desculpas esfarrapadas para as mesmas práticas aéticas?
É quase um lugar-comum a afirmativa de que se pode muito bem mentir com as
estatísticas, pois, dependendo da forma como os números e gráficos são
apresentados, causam percepções inteiramente diversas. Como você se comporta
quando instado por sua gerência a fazer isso?
Você já vendeu um carro sem apresentar ao novo dono os defeitos que o fizeram
vender? Ou o seu comportamento varia ao vendê-lo para um comprador particular ou
para uma agência de automóveis? A sua ética é relativizada em função do
interlocutor?
As organizações, assim como, individualmente, as pessoas que as integram,
precisam estabelecer e seguir diretrizes e parâmetros de comportamentos e de
atividades como referências para as suas ações. Abandonar a busca pela promoção
do lucro a qualquer custo e o uso das justificativas trapaceiras de que os fins
justificam os meios, certamente balizarão desempenhos organizacionais e
individuais bem mais éticos.
Em geral, as pessoas de forma inconsciente convivem com duas éticas,
simultaneamente – a ética individual, como pessoa física, e a ética empresarial,
no desempenho de papéis e funções organizacionais.
As pessoas compartilham e seguem idéias quando há um clima de confiança mútua
e de franqueza que as permite prosperar. No entanto, muitos dos mais caros
fundamentos de confiança e de credibilidade têm sido desgastados pelo alucinante
processo de mudanças econômica e social a que somos todos submetidos nestes
turbulentos tempos de globalização.
Organizações sólidas e tradicionais, consagradas por décadas e décadas de
sucesso e de credibilidade, também sofrem verdadeiros abalos sísmicos, quando
não profundas crises de confiança e de imagem junto à opinião pública.
O sistema político, então, nem se fala. É generalizadamente tratado com
descrença e cinismo.
Tudo isto nos conduz inelutavelmente à necessidade imperiosa do
desenvolvimento de uma verdadeira onda de transformação nas instituições
públicas e privadas, com vistas a dotá-las de um maior nível de confiabilidade e
de credibilidade no conjunto da sociedade.
Na medida em que o caráter da economia continuar a evoluir em direção a uma
produção crescentemente globalizada e à valorização exponencial do comércio de
serviços, mais necessidades terão as organizações de ostentar confiabilidade e
credibilidade junto aos seus mais diferentes interlocutores.
Quanto mais a divisão internacional do trabalho expandir-se, mais
dependeremos de bens e produtos que sequer compreendemos como são produzidos,
cujas origens vêm de longínquas fábricas estrangeiras, localizadas em países que
mal conseguimos identificar nos mapas.
O empreendedorismo, viés moderno e inovador da nova economia, somente
floresce quando protegido por altas taxas de tolerância e compreensão para o
fracasso não desejado, quando há confiança nas pessoas para que elas possam
aprender com o erro, incorporar aprendizagens por meio da experiência, sentir-se
livres para começar de novo, tentar mais uma, duas ou mais vezes.