- "Júlio? Atende o cliente lá para mim?" - apela Pedro, desesperado.
- "E o meu trabalho, quem vai fazer?" - retrucou o jovem, impaciente.
É normal. Somos seres humanos, não é? Para algumas pessoas, quando se fala em
comportamento humano, o máximo que o "ser humano normal" pode chegar é quase
atender a expectativa. Será isso mesmo? Bem, para os desbravadores do
aparentemente impossível, não. Mas para grande parte que decidiu "não ter dor de
cabeça", essa situação passou a ser totalmente aceitável, ou seja, "é normal".
As justificativas extrapolam o senso do descaso ao desenvolvimento de uma
nação. "Isso é o Brasil". Há até os que se comparam em uma analogia medíocre,
dizendo: "ainda estou melhor que muitos por aí". Engraçado? Para mim é
a exteriorização insensata da pobreza da cultura empresarial e pessoal. É
aceitar um pequeno inseto subindo em sua perna e dizer: "viu? ainda não é um
rato". Estufando o peito, com olhar imperial, o empresário "normal",
proclama: "eu conquistei tudo isso com o suor do meu trabalho".
Aplausos! Entretanto, doa a quem doer, isso hoje não serve mais para nada,
pois viver glorificando o passado não constrói uma equipe e muito menos
desenvolve uma cultura projetada no futuro. Mas, enquanto aceita-se o
colaborador que fala o dia inteiro de MSN e está feliz porque seu salário paga a
prestação da moto no final do mês, continuaremos a ouvir empresários dizendo "fazer
o quê né? Dando para pagar as contas já está de bom tamanho, né?".
Por esses dias tive o desprazer de ouvir de um empresário: "não fale
sobre paciência para o Paulão que ele não aceita, viu?". Eu estava pronto
para dizer algumas palavras, mas ele encerrou a conversa me entregando o
produto, dizendo: "ainda bem que eu já acostumei".
Quando eu falei em trabalho em equipe, eu quis ir mais longe, com a missão de
deixar um pensamento sobre "a construção de uma cultura focada no futuro". Para
isso é necessário primeiramente uma caminhada interessante na mudança da
filosofia da empresa, principalmente sobre capital humano.
A era "pescoço para baixo" sofre uma derrocada acelerada, que para muitos
visionários o Século XXI irá representar 20 mil anos de progresso. O escritor
irlandês George Bernard Shaw nos faz lembrar essa questão com seu célebre
pensamento: "Progresso sem mudança é impossível; aqueles que não conseguem
mudar sua mente não são capazes de mudar nada".
Algumas organizações ainda se desgastam com a pergunta: "como conquistar
os funcionários do pescoço para cima?" Esse processo passa pelo conceito de
espiritualidade. Isso significa reconhecer que podemos encontrar um significado
maior no que fazemos do que simplesmente operar uma máquina oito horas por dia.
E o líder tem um papel muito expressivo nesse contexto. Cabe a ele lembrar às
pessoas que o que elas fazem é muito importante, ajudá-las a ver sentido no seu
trabalho e a se desenvolver. Em resumo, cabe ao líder servir.
Quanto mais servimos, mais bem-sucedidos nós somos. E vice-versa. Já se sabe
no meio corporativo que dois terços dos funcionários que deixam seus empregos;
na verdade, estão se demitindo de seus chefes, e não das empresas. E a
espiritualidade está influenciando esse movimento. As pessoas param e pensam: "Há
algo mais do que trabalhar 40 anos para um chefe que não me entende nem
valoriza. Quero que minha vida seja mais do que isso".
A liderança baseada no poder está entrando em colapso e a consequência é uma
forte pressão nas corporações pela formação de líderes que atendam às novas
demandas dos profissionais. Eis aí, os grandes três mosqueteiros: "Cultura,
Equipe e Liderança".