Desde que foi lançado em 1943, o livro "O Pequeno Príncipe", do jornalista e
piloto francês Antoine de Saint-Exupéry já vendeu mais de 80 milhões de
exemplares e foi traduzido para, pelo menos, 160 idiomas, atravessando gerações.
Apesar desse sucesso fenomenal, ainda hoje encontramos pessoas pedantes e
insensíveis que desqualificam essa extraordinária obra - que, aliás, é um dos
meus livros de cabeceira - há décadas. Essas pessoas: não sabem o que dizem e
nem o que estão perdendo. Aliás, a explicação para essa atitude está no próprio
livro: "só se vê (ou se lê) bem com o coração". Lóóógo...
Há algum tempo visitei a exposição do Pequeno Príncipe na OCA, no Parque do
Ibirapuera, em São Paulo. Uma festa para os olhos e para a alma. Havia magia e
emoção no ar. Havia ternura e empatia entre os presentes - quase uma
cumplicidade. E eu não pude deixar de pensar que tudo aquilo era exatamente o
que está faltando à maioria dos dirigentes e gestores das organizações. Como o
leitor deve saber, o atual ambiente hostil e cruel de muitas empresas está
preocupando estudiosos, profissionais da saúde, entidades ligadas aos direitos
humanos e à qualidade vida - e até autoridades governamentais. A disseminação
das mensagens humanas, pacíficas e sensíveis do Pequeno Príncipe certamente
ajudariam muito a transformar o local de trabalho em centro de lucros e
realizações e não de ameaças e sofrimentos.
Mas se nem os suicídios anunciados, nem o mortal estresse que assola as
empresas, na forma do terrível burnout, nem o aumento dos processos
trabalhistas por assédio moral - se nem esses dramas, prejuízos e ameaças estão
sensibilizando aquelas organizações para a necessidade de uma urgente revisão da
qualidade das relações no trabalho e das formas de pressão para aumento de
produtividade, é difícil imaginar o que poderá ser feito para mudar o quadro.
Pela mesma razão é fácil imaginar porque o Pequeno Príncipe não tem acesso a
essas empresas. E, no entanto, há tantas boas lições de liderança descritas pelo
principezinho...
- "Cativar é criar laços. Se tu me cativas, teremos necessidade um do
outro".
Haverá melhor maneira de se obter o espírito de equipe, a lealdade, a parceria e
o comprometimento? Bastará ao gestor cativar seus colaboradores. Simples assim.
- "O essencial é invisível para os olhos".
Não seria esta a melhor forma de conduzir os processos de seleção de pessoal?
Buscando descobrir a essência dos candidatos ao invés dos seus títulos
acadêmicos?
No livro, quando um desenho é mostrado às pessoas com a pergunta: "este
desenho te dá medo?", a resposta dos adultos sempre é: "por que o
desenho de um chapéu me daria medo?" O pessoal que anda tão interessado em
criatividade e inovação deveria ler pelo menos esse trecho para descobrir que
não se trata de um chapéu. Como se pode falar de inovação e criatividade quando
se vê teimosamente um chapéu num desenho que mostra, no seu significado, toda a
capacidade da fantasia e da imaginação?
A maioria das empresas hoje parece povoada por "cogumelos" - que, na
sua indignação, é como o Pequeno Príncipe chama as pessoas que só pensam em
coisas "sérias", como números, contas e resultados... - pessoas que "nunca
cheiraram flores, olharam estrelas e nunca amaram ninguém".
Enfim, certamente não será este artigo que fará as empresas darem crachá ao
Pequeno Príncipe. Nem será por causa dele que alguma empresa designará um dia e
hora para que todos os seus funcionários visitem a exposição. Ou, quem sabe,
aproveitando o Natal, distribuam o livro para suas equipes. Não creio. Se isso
acontecer (e eu gostaria de ser informado), prefiro acreditar que será um
milagre de Natal. De qualquer maneira, fica aqui a sugestão.
Enquanto isso, O Pequeno Príncipe continuará sua jornada de encantar pessoas
de 8 a 80 anos. Diante desse continuo sucesso do livro, só resta aos resistentes
e críticos torcerem os próprios narizes. Ou tentarem a experiência de cativar
alguém. Penso que não há muito que hesitar entre ficar de nariz torto ou ganhar
uma legião de amigos e de colaboradores felizes.