A crise trouxe às empresas brasileiras muitas dificuldades, que acarretaram
demissões. Mas uma indústria em particular foi muito afetada: a financeira.
Segundo o consultor sênior da Transearch Brasil, Cláudio Takao, que por 20 anos
atuou na indústria financeira, o canal de comunicação entre quem tem dinheiro e
quem não tem, que é o setor financeiro, sofreu com o colapso do mercado
imobiliário norte-americano, bem como das operações dele derivadas.
Por exemplo, com as bolsas de valores em baixa, os bancos de investimentos que
dependiam de operações de IPO e de fusões e aquisições sentiram a paralisação do
mercado e muitas demissões foram inevitáveis.
Com a crise, profissionais qualificados perderam o emprego, não por uma questão
de performance, mas "por excesso de contingente" e, enquanto o mercado não se
reaquecer, com a retomada dos negócios e a chegada de novos players, essas vagas
ficarão congeladas.
Manual de sobrevivência
O consultor deu dicas de como sobreviver no mercado financeiro. Para ele, apesar
de o setor ser altamente especializado - com exceção das operações bancárias de
varejo -, porque oferece produtos estruturados e, não raro, complexos, em tempos
de crise, o profissional com visão mais generalista, capaz de migrar entre as
várias áreas da empresa, pode acabar sendo valorizado.
"Ser generalista, entretanto, não é conhecer superficialmente as coisas. É
desenvolver competências que permitam transitar entre as várias operações e
especializações de acordo com o que o momento do mercado está pedindo. Assim, um
profissional que domine uma gama maior de conhecimento e estruturas tem mais
chances de se manter empregado do que um outro que é especialista em apenas uma
delas", explica.
Janela de oportunidade
Para um profissional que procura uma recolocação, é necessário avaliar em que
tipo de instituição ele gostaria de trabalhar, em qual nível hierárquico e a
remuneração que estaria disposto a aceitar até que o mercado retome seu ritmo
normal e ele possa voltar a ter os rendimentos que tinha antes da crise, de
acordo com o especialista.
Segundo ele, em meio a essa situação, é criada uma janela de oportunidade às
empresas, que podem contratar profissionais talentosos por salários mais baixos.
Por outro lado, justamente esses profissionais costumam usar a empresa como um
trampolim, algo temporário. Eles esperam a retomada da economia para mudar de
emprego.
"Mas também é no bojo da crise que aparecem alternativas. Numa fase de mercado
difícil, as funções de controle tendem a ser mais valorizadas, assim como as
relacionadas à gestão de custos. Da mesma forma, a questão de derivativos e de
operações complexas pode provocar uma nova demanda de especialistas, não para
executar, mas para evitar riscos".
Não fique parado!
Ele lembra ainda que, para quem busca uma recolocação, existe a opção de
investir na carreira e turbinar o currículo, corrigindo possíveis gaps, como a
falta de fluência em um idioma. É possível ainda se dedicar a um MBA no
exterior, para retornar ao mercado quando este estiver mais aquecido.
Por fim, aos profissionais experientes que acreditam que o mercado não irá
remunerar mais nos níveis de antes, resta a opção de fazer uma carreira solo,
nas palavras de Takao.
"Não são poucos os casos de especialistas que se associam para criar uma gestora
de fundos ou uma butique de IPO, M&A e/ou assessoria financeira a empresas. Mas
não se trata de uma tarefa para principiantes, já que o sucesso do negócio
depende, geralmente, de um bom volume inicial de recursos, de um excelente
networking e do amplo domínio das operações e do mercado de atuação", completa.