A reclamação número um de profissionais é a falta de clareza com relação às
suas metas. Isto significa que todos sabem o que precisam fazer hoje, mas poucos
sabem ao certo o porquê e aonde a empresa pretende chegar. Como consequência, os
funcionários se empenham menos e, com o tempo, acabam desmotivados.
A verdade é que ninguém gosta de ser um mero "robô". Participar da tomada de
decisões, bem como saber o sentido do seu trabalho, é essencial. Uma pesquisa
realizada pelo PMI (Project Management Institute), com 400 empresas, corrobora
com esses pressupostos. Uma pergunta foi feita aos profissionais participantes:
"Quais habilidades faltam a seus gestores?". A resposta mais dada foi: "a
habilidade de se comunicar".
Como a empresa perde tempo [e dinheiro]
"Se os funcionários não conhecem os objetivos maiores da empresa e as
estratégias adotadas, eles não fazem mais do que olhar para o próprio umbigo, de
forma que agregam pouco à organização. Esta, por sua vez, perde tempo e
dinheiro, ao não disseminar informações importantes", explica o coordenador da
pesquisa de Benchmarking do PMI, Américo Pinto.
Quando falta clareza ao profissional com relação a suas próprias metas, os
projetos não dão certo, ou o resultado obtido não é o esperado pela direção da
empresa. E não é uma questão de incompetência. Ao desconhecer seus objetivos de
longo prazo, o funcionário pode muito bem andar para a direção oposta para a
qual estão caminhando os gestores. Enquanto uns vão para a direita, outros
escolhem ir para a esquerda. A empresa não é bem-sucedida e perde recursos.
Situações como a descrita não são raras.
"Os atuais gestores não atendem mais àquilo que as empresas precisam, que é
clareza e capacidade de se comunicar, antes de mais nada. Muitos deles retêm
informações, porque acreditam que informação é poder. No final, acabam se
prejudicando, porque seus subordinados não trabalham o todo, não realizam suas
atividades dentro de um contexto", explica o diretor executivo do Insadi, Dieter
Kelber.
"O pior é que há líderes que gostam de ter funcionários robôs, que cumprem
ordens sem pensar muito. São gestores à moda antiga, atrasados no novo cenário
de competitividade acirrada entre as empresas", acrescenta.
Falha começa na alta gestão
É possível que, em uma empresa na qual a retenção de informações é parte da
cultura corporativa, a culpa seja da média gerência, que não quer dar espaço
para ninguém crescer. "O que esse tipo de gestor não entende é que, se seus
subordinados não crescerem, ele próprio nunca sairá do mesmo lugar", diz Kelber.
Porém, para Américo Pinto, do PMI, a principal responsabilidade pela comunicação
da empresa é a alta gerência. "Se o principal gestor não faz questão de
disseminar informações estratégicas, a comunicação não flui para as demais
partes da pirâmide. O resultado é que cada um acaba fazendo o que bem entende",
diz.
Mas ele acrescenta que isso é mais comum em médias e pequenas empresas, porque
as grandes já estão avançadas no quesito comunicação. "Boa parte das grandes
utilizam ferramentas tecnológicas, como softwares criados justamente para isso e
intranet, para que a comunicação flua tanto verticalmente (do gestor para os
subordinados) quanto horizontalmente (entre departamentos, de forma que estes
trabalhem juntos em torno de um mesmo objetivo)".
Reunião não é perda de tempo!
Algumas empresas evitam ao máximo as reuniões, por conta do clichê disseminado
no mundo corporativo de que elas são perda de tempo. A verdade, entretanto, é
que reuniões são necessárias e é possível torná-las produtivas. "Porque alguns
profissionais se utilizam desse canal de comunicação [a reunião] de forma
equivocada, muitos desmoralizaram o papel desses encontros", diz o coordenador
da pesquisa do PMI. "Mas, muitas vezes, as reuniões são absolutamente
necessárias".
Ele lembra ainda que as reuniões não são a única forma de a empresa se comunicar
com seus funcionários. "É possível promover algumas discussões por e-mail, por
exemplo".
Por que gestores retêm informações?
Alguns dos motivos para a retenção de informações são: a ilusão de poder que
elas proporcionam; o medo de os subordinados crescerem; a insegurança, por parte
do gestor de médio escalão, de que os subordinados utilizem aquelas informações
melhor do que ele próprio; a dificuldade de se comunicar com clareza, o que é
uma competência ao mesmo tempo técnica e comportamental cada vez mais essencial
aos líderes; e a facilidade de manipular funcionários "robôs", que não pensam.
Porém, a transparência nas empresas é importante porque: a rádio peão é muito
mais rápida (o problema é que, muitas vezes, as informações divulgadas no
corredor são completamente equivocadas); ao saber aonde a empresa quer chegar, o
funcionário se dedica muito mais e os projetos têm mais chances de serem
bem-sucedidos; os diversos departamentos podem tornar-se aliados, no lugar de
inimigos, como costuma acontecer; a satisfação do público atendido aumenta; e a
liderança informal é enfraquecida.
"É bom promover conversas e debates com os funcionários sistematicamente, de
forma que informações úteis sejam disseminadas no dia a dia do trabalho. Assim,
os profissionais vestem a camisa da empresa e do cliente", finaliza Kelber.