Ao longo das últimas décadas, o modelo de administração adotado nas empresas
do Brasil mudou completamente. Se antes existia uma relação paternalista entre
organização e funcionário e era possível passar anos a fio no mesmo emprego,
hoje a palavra de ordem é competitividade e isso implica reduzir gastos,
trabalhar com uma equipe enxuta, pressionar por resultados.
As mudanças devem continuar nos próximos anos e influenciar fortemente o mercado
de trabalho. Pensando nisso, o portal InfoMoney perguntou a dois especialistas
em Carreira como eles vislumbram o cenário futuro. Isto é, o que irá mudar para
quando nossos filhos e netos ingressarem no mercado? O que estará esperando por
eles?
Fim da hierarquia
Para o sócio-diretor do Grupo Bridge, Celso Braga, para início de conversa, a
relação paternalista entre empresa e funcionário deve desaparecer por completo,
restando em seu lugar a autonomia cada vez maior dos profissionais.
Ele prevê também o fim das hierarquias, uma vez que o modelo participativo, que
valoriza o trabalho em equipe, está ocupando cada vez mais espaço nas empresas
modernas. Assim, no lugar de serem organizados por hierarquias, os profissionais
deverão ser divididos por projetos.
"Percebeu-se que culturas hierarquizadas são mais difíceis de serem geridas. A
tendência é que as empresas priorizem a fluidez das relações entre os
colaboradores", afirma Braga, ao lembrar que a palavra de ordem não será mais
"cargo" ou "subordinação", e sim "time".
As cobranças irão aumentar...
Além disso, em sua opinião, os profissionais serão ainda mais cobrados no
futuro, no que se refere a competências comportamentais, como facilidade de
trabalho em equipe, de comunicação, de relacionamento interpessoal, liderança e
flexibilidade.
"Hoje, a maioria das universidades formam intelectuais e não pessoas preparadas
para o mundo prático. Os recém-formados saem para o mercado de trabalho e se
deparam com a necessidade de enfrentar competição, de suportar a pressão, de se
socializar e lidar com as pessoas. Essa cobrança deve aumentar
progressivamente", garante Braga.
Especialista ou generalista?
O sócio-diretor do Grupo Bridge lembra que o mercado de trabalho passou por dois
momentos distintos. Havia uma época em que os especialistas eram considerados os
profissionais "top de linha". Mais recentemente, passaram a ser valorizados os
generalistas, que não somente são bons naquilo que fazem, mas que também
entendem um pouco de tudo.
O futuro será dos profissionais "meio-termo", segundo ele. "É preciso dominar o
que faz e compreender mais duas ou três áreas. Por exemplo, o profissional de
TI, cada vez mais, terá de entender de gente, e não apenas de máquinas. De
repente, ele terá de discutir projetos com o departamento de Recursos Humanos ou
de Marketing", explica.
A revolução da geração Y
Na opinião do diretor de Vendas e Operações do Monster Brasil, Rodolfo Ohl, a
geração Y [composta dos jovens nascidos nas décadas de 80 e 90] está
revolucionando o mercado de trabalho e este tende a acompanhá-la.
"A geração Y trouxe às empresas tecnologias como as redes sociais, a web 2.0, a
comunicação instantânea. São profissionais que interagem mais e sabem usar a
internet de forma colaborativa, trazendo ganhos às empresas", explica Ohl.
Segundo ele, essa geração está impactando o mercado de trabalho em vários
sentidos. "Muitos jovens da geração Y enxergam a empresa como fonte temporária
de recursos e um pedaço de sua carreira, um trampolim ou um meio de desenvolver
determinadas competências. É comum eles não desejarem ficar mais de três anos em
um mesmo lugar e estarem sempre em busca de algo melhor".
Qualificação será crucial
Ohl prevê a escassez ainda maior de profissionais qualificados no mercado de
trabalho brasileiro. "Futuramente, haverá uma competição acirrada entre as
empresas por profissionais qualificados e competentes". Por outro lado, as
oportunidades para aqueles não-qualificados devem diminuir nas próximas duas
décadas.
Por fim, o especialista do Monster Brasil concorda com Ohl com relação ao
aumento da cobrança por competências comportamentais. "As interações humanas no
mundo corporativo se tornarão ainda mais complexas, com o choque de gerações e o
acesso cada vez mais facilitado a informações. Saber interagir e lidar com as
pessoas será um imperativo".