O mundo corporativo é rico em lugares-comuns ou frases feitas que ajudam a
justificar cargas de trabalho além do aceitável. Alguns exemplos são: "Não ter
tempo é sinal de importância", "estresse é sinal de estatus", "tempo é dinheiro,
e dinheiro é sucesso, e sucesso é felicidade (exatamente nesta seqüência)",
"fazer muitas coisas ao mesmo tempo é sinal de inteligência e sucesso (e não de
falta de foco)", "para ter sucesso é necessário estar absolutamente informado
sobre tudo o tempo todo".
"Esses paradigmas precisam ser desconstruídos e reinterpretados", diz a
consultora Carla Zanna, da Fator Consultoria, especialista em Psicologia
Organizacional. "Precisamos gastar as nossas energias conscientemente, de acordo
com nossas escolhas, objetivos, forças e competências. Esse é um dos caminhos
para o bom gerenciamento do tempo e também da vida. Afinal, mais que dinheiro,
tempo é vida."
No final do dia, é freqüente o profissional perceber que deixou de cumprir uma
ou outra tarefa por absoluta falta de tempo. Isso sem falar de não conseguir
conviver mais com os familiares e os amigos, ou fazer ginástica, ler, ir ao
cinema e várias outras atividades, que acabam sempre colocadas em segundo plano.
Reverter essa loucura é possível, acredita Carla. "O primeiro passo é
conscientizar-se de que o tempo já está definido e que não temos como interferir
sobre isso. Por outro lado, cada um é livre para manejar sua própria vida,
mudando hábitos, por exemplo".
Para tornar o trabalho mais produtivo, ensina ela, podemos utilizar estratégias,
desde as mais simples, como diminuir pequenos vícios (cafezinhos, papos de
corredor, preciosismos), adquirir novos hábitos (registrar compromissos em uma
agenda, concentrar reuniões mais curtas para uma mesma tarde), até mesmo reduzir
ou eliminar atitudes que são válvula de escape para problemas reais e que
consomem tempo excessivo (internet, celular, compras, reuniões intermináveis).
Para Carla, o ideal é desenvolver uma visão mais ampla da gestão do tempo, para
termos mais poder sobre o tempo e sobre a nossa própria vida. "Se o dia tem 24
horas para todos e isso não vai mudar, a combinação de plena consciência e
determinação reflete-se no poder pessoal e por meio dele é possível realizar
quantas mudanças forem necessárias para uma vida plena", diz.
Baseada na sua experiência profissional ela dá seis dicas que, na sua opinião,
podem garantir uma melhor gestão do tempo. "A primeira diz respeito ao
autoconhecimento. As pessoas precisam se conhecer melhor. Um bom exercício é
perguntar a si mesmo o que faria se pudesse mudar algo em sua vida para aumentar
significativamente sua felicidade".
A segunda questão enfatiza a identificação de prioridades e dica, aqui, é
estabelecer metas relevantes ao invés de uma longa e inatingível lista, traçar
objetivos e estabelecer prazos para cumpri-los. Depois de definir metas com
clareza, o objetivo é dar foco.
"Às vezes, é necessário fazer uma coisa de cada vez", ela avisa. Outro ponto
importante é identificar com clareza os desperdiçadores de tempo e livrar-se
deles. Para ganhar tempo é fundamental também saber dizer "não", mas com
assertividade. "A última dica diz respeito à determinação. É necessário
manter-se determinado para conseguir gerenciar melhor o tempo. Não há como
prever todos os contratempos ou fatos inesperados. Entretanto, é mais fácil
lidar com essas variáveis quando se controla o que já estava programado".