Negócios / Empreendedorismo - Autoridade, mas sem cara feia!
Alguns executivos costumam confundir postura gerencial com sisudez e por isso
ostentam continuamente uma expressão fechada, dura e impassível como forma de
impor autoridade ou demonstrar competência.
Tais pessoas aparentam ser verdadeiros "rochedos": raramente sorriem, mal
cumprimentam os pares (muito menos os colaboradores) e quase nunca se permitem
instantes de descontração e informalismo. Mais do que respeitados, são temidos.
Essa atitude pode advir de características da personalidade, resultantes de uma
educação rígida e excessivamente formal, ou pode tratar-se simplesmente de uma
visão distorcida e ultrapassada da postura gerencial. Neste último caso - que é
o foco deste artigo - o problema situa-se na esfera cultural, interferindo na
esfera comportamental.
Trata-se de uma falha conceitual que traz dificuldades tanto para a pessoa como
para a empresa. Para o indivíduo, caracteriza um estado permanente de tensão. O
corpo é submetido continuamente a pressões antinaturais e desnecessárias
(rigidez, contração muscular, respiração irregular etc.,), o que acaba gerando
um real desconforto psicofísico, primeiro passo para o mau-humor, componente
freqüente da sisudez. E tudo isso porque a pessoa acredita que com essa fachada
irá impor autoridade ou demonstrar competência.
Para a empresa, o profissional enfezado tende a gerar alguns problemas, seja
pela dificuldade de interagir informalmente com os pares, seja pelo clima de
tensão e medo que sua presença cria para a equipe. Aliás, neste sentido, o
efeito às vezes é oposto ao pretendido e o sisudo pode se tornar alvo de gozação
dos colegas - claro que quando ele não está por perto. O que resulta dessa
postura? A perspectiva de um clima de insegurança, constrangimento ou ironia,
nenhum dos quais contribui para a motivação e a integração no trabalho. Por
extensão, a produtividade e os próprios resultados serão afetados de forma
negativa.
É interessante observar que em nenhum texto acadêmico sobre liderança
encontra-se apoio a essa crença de que "seriedade", no nível descrito, possa ser
associada à autoridade ou competência. Na verdade, tentar impor respeito com a
expressão fisionômica ("basta um olhar meu para que todos se enquadrem!") é uma
infantilização das relações hierárquicas, já abandonada, hoje em dia, até pelos
professores de escolas primárias.
A autoridade formal de um gerente é indiscutível porque nasce de um decreto. Sua
legitimidade e aceitação, contudo, dependem de certas atitudes, habilidades e
conhecimentos do profissional - mas, com certeza, nunca da sua cara. A
competência, então, nem se fala; está mais distante, ainda, de qualquer
vinculação facial. São os resultados positivos que qualificam o executivo, e, se
ele os obtém, só tem razões para mostrar-se serenamente realizado e satisfeito
consigo mesmo. Ou será que é possível imaginar-se um vencedor sisudo?
Em todas as áreas da atividade humana, ao longo dos séculos, pode-se citar
inúmeros personagens de enorme valor para a Humanidade e que ostentavam
humildade, apesar de tão próximos da genialidade.
Não estamos fazendo a apologia do populismo nem da informalidade descontrolada.
Sabemos que existe uma necessária postura gerencial, condicionada a certos
limites de discrição. Isso faz parte de todo papel profissional. O que queremos
concluir é que, quando o gerente tem pleno conhecimento dos requisitos do seu
papel profissional e quando associa esse conhecimento à consciência do seu
próprio valor, ele exterioriza, com serenidade, essa segurança interior. Mais ou
menos como ocorre com o "faixa-preta" nas artes marciais: é um indivíduo
pacífico e tolerante, justamente pela sua autoconfiança.
Acreditamos que assim deveria ser com os "faixas-pretas" gerenciais: seguros da
sua competência, eles não precisam impressionar ninguém com fachadas
ameaçadoras. Pelo contrário, sem recear perda de poder, podem permitir-se uma
postura tranqüila e bem-humorada. Afinal, se cara feia significasse autoridade e
competência, o buldogue - com todo o respeito - seria o símbolo universal da
liderança.
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