Coaching - Improviso, técnica e talendo individual
Numa "jam session" o fim de um improviso imprevisível e vitorioso, incita
sempre aplausos calorosos. É como se o músico, no final de sua performance
individual, tivesse marcado um gol de placa. Deu a volta ao mundo, passeou
aleatoriamente dentro da sua própria lógica, por várias notas da harmonia e
voltou com sucesso para a melodia inicial. Entusiasmou a platéia. Assim, cumpriu
sua missão e lançou o desafio para os outros integrantes da banda. Atentos, os
músicos aproveitam a deixa e começam sua própria improvisação. Este é o espírito
do jazz. Uma mistura de groove, sensibilidade e talento em uma estrutura, ao
mesmo tempo, imperfeita e vibrante.
Assim como no jazz, as atividades de improvisação nas organizações são
responsáveis por boa parte das inovações. Portanto, é possível traçar um
paralelo entre o trabalho no mundo corporativo moderno e esta modalidade de
performance musical. Não é a toa, que usar a metáfora do grupo jazzístico para
falar sobre estratégia e atuação em equipe, é uma prática que está cada vez mais
sendo usada por consultorias em todo o mundo. "A tradicional comparação com a
orquestra sinfônica, onde o maestro (líder) comanda os músicos responsáveis por
vários instrumentos (departamentos) que, por sua vez, seguem partituras
(planejamento), já não se adequa mais à realidade das organizações atuais", diz
Luis Felipe Cortoni, diretor da LCZ , que promoveu na última semana um workshop
para 32 funcionários da Nivea, com a participação do grupo de jazz, Zimbo Trio.
Ele explica: "Diante da velocidade das mudanças e da urgência em tomar decisões,
não é mais possível possuir uma estrutura de trabalho definida e planejada com
muita antecedência, que segue uma partitura pré-existente, e que é comandada por
um líder sempre presente".
O sucesso das empresas, para o consultor, hoje depende muito mais da capacidade
de improvisação e da criação autônoma dos funcionários, como acontece em um
grupo de jazz. A integração e o trabalho em equipe é algo que o Zimbo Trio
conhece bem. Afinal, são 38 anos de estrada musical. Em todo esse tempo, apenas
uma substituição, o baixista. "Foi fácil encontrar o substituto porque
procuramos alguém que dominasse o instrumento e tivesse uma boa empatia com os
demais", diz o pianista Amilton Godoy. "O resto ficou por conta do que aconteceu
na hora de tocar, do improviso, da química".
No jazz, qualquer instrumentista é avaliado quase que exclusivamente por sua
capacidade como solista. É o total domínio técnico e de possibilidades do
instrumento, que permitirá ao artista alçar vôos mais ousados em sua
performance. Em tempos de alta competição nas companhias, o talento individual e
a excelência no conhecimento da sua área de atuação, farão o profissional
brilhar como um Charlie Parker, no mundo do jazz.
O supervisor de logística Carlos Eduardo Pinheiro, tirou suas próprias
conclusões depois do treinamento. "No jazz o senso coletivo é o que importa",
diz. "Todos entendem a regra, trabalham juntos para atingir um objetivo comum,
que é executar a música, mas irão fazer isso adicionando o seu próprio brilho
pessoal, que será reconhecido com mais facilidade".
Para o trainee, Leonardo Pelloso, o que chamou a atenção nessa analogia entre o
mundo corporativo e o jazz, foi o fato de o erro poder ser transformado em algo
positivo. O músico Amilton Godoy endossa a tese. "Quando estamos tocando, às
vezes um erro, uma nota desafinada, provoca uma nova estrutura, uma nova
possibilidade musical", explica.
Outro aspecto intrínseco do jazz, é que ele é uma atividade performática, feita
por impulso, que foge da narrativa linear, o que nas empresas pode simbolizar a
rotina e a estruturação rígida.
A forma de trabalhar e atuar do músico de jazz também é quase tão importante
quanto a obra final. O perigo é que os músicos, assim como os homens de negócio,
podem se apegar a clichês para chegar ao resultado. E o melhor jazzísta, ensina
Godoy, é aquele que gosta de correr riscos.
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