E como aprender com eles para controlar suas dívidas, fazer seu patrimônio
crescer e abrir um negócio de sucesso
Degustar um bom vinho e escolher uma roupa de grife já são hábitos
incorporados à rotina de muitos brasileiros. Aliás, comprar, gastar, consumir
parecem não ter qualquer mistério para a maioria. Mas, quando o assunto é
controlar e administrar com inteligência as próprias finanças, a situação muda
completamente.
Muita gente erra. E não é difícil entender por que isso acontece. Decisões
relacionadas a dinheiro geralmente são complexas e envolvem o lado emocional das
pessoas. Um grande passo mal dado ou uma sucessão de equívocos menores pode
colocar tudo a perder. "Seja nas bolsas de valores, no mercado imobiliário ou no
supermercado, nós sempre cometemos erros financeiros que nos causam enormes
perdas", afirma Thomas Gilovich, professor da Cornell University, nos Estados
Unidos, e autor do livro Why Smart People Make Big Money Mistakes and How to
Correct Them (Por que pessoas inteligentes cometem grandes erros financeiros e
como corrigi-los), ainda não traduzido no Brasil.
Os enganos podem começar pelas pequenas economias que deixam de ser feitas no
dia-a-dia, passar pela falta de informação na hora de aplicar o dinheiro que
sobra e chegar às grandes decisões, como a compra de um imóvel ou a abertura de
um negócio próprio. Mesmo o investimento em imóveis, tido como um negócio
incondicionalmente lucrativo, pode não trazer o retorno esperado.
Endividar-se além das possibilidades também está entre os maiores pecados
financeiros que se podem cometer. Você certamente deve conhecer alguém que tem
um bom carro, uma casa confortável, freqüenta os melhores restaurantes, mas vive
atolado em dívidas (ou será você mesmo?). Pessoas assim não poupam um centavo
sequer porque querem manter o status. Pagam altos juros no cartão de crédito e
no cheque especial e nem se dão conta de quanto isso é prejudicial para o seu
bolso. Outro engano comum é pensar mais no curto prazo do que em planejamentos
mais longos.
Muita gente ainda pensa como nos tempos de inflação alta - em que o
importante era a sobrevivência imediata - e acaba por tomar decisões erradas.
"Não há problema em cometer erros, isso acontece até com os especialistas", diz
a americana Ilyce R. Glink, consultora de finanças pessoais. "Mas você realmente
terá dificuldades se não aprender com eles ou se continuar a cometer os mesmos
erros um dia depois do outro." Melhor ainda do que aprender com os próprios
erros, como sugere Ilyce Glink, é poder antecipar-se e conhecer os erros dos
outros para não repeti-los.
Por isso, MEU DINHEIRO fez um levantamento com consultores, acadêmicos,
administradores de recursos e executivos de bancos de primeira linha para chegar
à lista dos nove principais erros cometidos na gestão do patrimônio, publicada a
seguir.
1 - Investir naquilo que você não conhece
É provável que você já tenha ouvido falar de alguém que perdeu grandes
quantias num negócio próprio que não deu certo ou num investimento exótico
oferecido por um vendedor mal-intencionado. Pode ser que você mesmo já tenha
passado por uma situação semelhante e, no final, vociferado contra o gerente do
banco ou qualquer outra pessoa que o tenha estimulado a tomar aquela decisão.
Infelizmente, nessas ocasiões, encontrar culpados não costuma ser recomendável
para a sua saúde física e mental nem alivia o tamanho da sua perda. O erro
maior, segundo os especialistas, não está em ouvir a opinião de fulano ou
beltrano, mas em deixar de conferir se o que se diz tem real fundamento antes de
entrar numa barca furada. "Se você não for capaz de compreender em que está
investindo, não o faça", afirma o americano Warren Buffet, um dos maiores
investidores do mundo, cuja fortuna alcança 32,3 bilhões de dólares, de acordo
com a revista americana Forbes. Muitas vezes, alguns investidores se empolgam
com o que acreditam ser um verdadeiro "negócio da China", aquele que vai
torná-los milionários em pouco tempo e sem grande esforço. Mas a verdade é que
mamatas assim não existem - ou são raras, raríssimas. "Já vi várias famílias
perderem muito dinheiro tentando fazer o negócio de suas vidas", diz Roy
Martelanc, professor de administração financeira da Faculdade de Economia,
Administração e Ciências Contábeis da USP. Por isso, antes de tomar uma decisão,
é aconselhável informar-se, primeiro, sobre as características do negócio ou da
aplicação nos quais você está interessado. Mergulhar em algo novo sem conhecer
as suas especificidades pode ser um convite ao fracasso. Em 1999, o advogado
Renato Ochman, de São Paulo, decidiu investir num negócio de bombas de gasolina
digitais, de tecnologia americana. Sua intenção era trazer o equipamento para
ser montado no Brasil. Só que a Petrobras, que seria o principal cliente da nova
empresa, não comprou a idéia. Resultado: Ochman e seus três sócios tiveram um
prejuízo master, de 1 milhão de reais. "Aprendi a lição", diz Ochman. "Nunca
mais aposto num negócio que não conheço." A promessa de lucros fabulosos também
pode, muitas vezes, não se concretizar. Se for possível, os consultores sugerem
que você procure saber com gente do ramo qual é o retorno histórico que o
negócio ou a aplicação costumam dar. Quem quiser investir em boi gordo, por
exemplo, deve pesquisar com as empresas do setor o rendimento que os clientes
receberam em diferentes períodos. E saber quais são os fatores que podem
influenciar o seu ganho (ou perda). Em tempo: não se esqueça de que o olho do
dono engorda a boiada. Quem deixa a cargo de um conhecido ou de um profissional
as decisões de sua empresa ou de todos seus investimentos pode abrir uma brecha
para surpresas indesejáveis. Os inventários e as heranças, muitas vezes, são
terreno fértil para aproveitadores. Mesmo que você acredite que um expert possa
trazer melhores resultados na gestão de seu patrimônio, você será sempre a
melhor pessoa para administrar o seu dinheiro. Não é à toa que o McDonald's só
aceita franquear suas lojas para empresários que irão ficar à frente do negócio.
2 - Concentrar seus investimentos em imóveis
A concentração de quase todo o patrimônio em imóveis é um dos principais
erros cometidos pelos investidores brasileiros. Nem poderia ser diferente.
Nossos avós costumavam dizer que um bem de raiz, como o imóvel, é o melhor
investimento do mundo. E, realmente, durante a era da superinflação, ter um
imóvel era uma forma eficiente e segura de proteger o dinheiro contra a
desvalorização da moeda e as bruxarias heterodoxas geradas pelos economistas do
governo. Ao contrário do dinheiro que está no banco, o imóvel é um bem palpável,
real. Você vê, os outros vêem. Além disso, viver num imóvel confortável e, de
preferência, luxuoso ainda é o maior sonho de muita gente - nem que isso custe
todas as suas economias. Uma família típica brasileira chega a ter 90% do
patrimônio em imóveis, segundo consultores de finanças pessoais. O ideal, no
entanto, de acordo com os especialistas, seria imobilizar de 35% a, no máximo,
60% do patrimônio, contando com a sua própria casa. "O brasileiro precisa da
percepção de segurança que o imóvel dá", diz Ronaldo Magalhães, diretor
executivo da Sul América Investimentos, empresa de gestão de recursos ligada à
seguradora do mesmo nome. "Mas a compra de imóveis nem sempre compensa." É claro
que, do ponto de vista do investimento, tudo depende do tipo de imóvel do qual
se está falando, da região, do bairro e até do trecho da rua em que ele se
localiza. Lojas, escritórios, flats, residências, sítios e fazendas são mercados
muito diferentes entre si e cada um deles possui dinâmica própria. Investir num
flat, por exemplo, numa determinada região do país, em certo momento pode ser um
bom negócio, enquanto comprar um apartamento no mesmo local, uma péssima
decisão. Mas, num mercado tão diversificado, existem alguns inconvenientes
comuns à concentração do patrimônio em imóveis. Talvez a principal desvantagem
seja a falta de liquidez. Você coloca o imóvel à venda, mas entra mês, sai mês e
o negócio simplesmente não acontece. Se estiver precisando do dinheiro com
urgência, você, provavelmente, terá de baixar o preço. Conseguir o valor que
você acredita ser justo leva tempo, às vezes, anos. E, no final, é possível que
você se dê conta de que aquele imóvel ao qual se afeiçoou tanto pode não valer a
quantia imaginada. É preciso considerar também o impacto negativo da depreciação
do imóvel, normalmente negligenciado pelos investidores na hora da compra. É
fácil entender isso. Imagine duas casas exatamente iguais, só que uma nova e
outra construída há dez anos. A mais antiga estará, obviamente, mais propensa a
ter problemas de encanamento, pintura, eletricidade etc. Essas coisas todas
provocam uma queda progressiva no preço ao longo dos anos. Outro ponto
importante: a mudança do tipo de construção e das necessidades das famílias dos
profissionais liberais e das empresas. Por exemplo: um apartamento de alto
padrão, há 20 anos, tinha, em geral, três dormitórios espaçosos, um banheiro com
azulejos verdes, um lavabo com piso lilás e apenas uma vaga na garagem. Hoje,
mesmo apartamentos menores têm três dormitórios, uma suíte e, no mínimo, duas
garagens, além de um amplo espaço de lazer na área comum. Além disso, a rua ou a
região na qual o imóvel se localiza pode se desvalorizar e o proprietário ainda
pode ter a surpresa desagradável de, um dia, descobrir que no terreno ao lado
haverá uma escola, um hospital ou... uma discoteca. Quem pode prever? Ninguém
está dizendo que a casa ou o apartamento em que você mora com a família não
precisa ser seu. Mas, uma vez realizado o sonho da casa própria, comprar outro
imóvel nem sempre está entre as melhores opções de investimento. O empresário
carioca Luis José Ramalho, de 45 anos, espelhou-se no exemplo de parentes que
viviam da renda proveniente de aluguéis e decidiu seguir o mesmo caminho. "Tenho
11 imóveis, mas o rendimento de cada um deles é muito inferior às minhas
expectativas", diz. Segundo ele, 70% de seu patrimônio estão imobilizados, e os
30% restantes, aplicados em fundos de renda fixa. "Se tivesse de investir meu
dinheiro hoje, não concentraria tanto o patrimônio em imóveis", afirma. Com o
dinheiro "empatado" em imóveis, o investidor deixa de ganhar com sua aplicação
no mercado financeiro. Pode parecer algo desprezível, mas não é. Historicamente
os aluguéis residenciais rendem cerca de 1%. Mas, como o mercado não está
aquecido, o preço do aluguel mensal de uma residência varia hoje, em média, de
0,6% a 0,8% do valor do imóvel. No caso de um apartamento de 100000 reais, por
exemplo, a renda anual do proprietário ficaria entre 7 200 e 9 600 reais por
ano. Isso é mais ou menos o que o investidor ganharia se aplicasse os mesmos
100000 reais no mercado financeiro, sem correr risco algum. Num imóvel alugado,
pode acontecer de o inquilino não cuidar bem da propriedade, atrasar o pagamento
ou até mesmo ficar inadimplente. Há também a possibilidade de o imóvel ficar
desocupado por um longo período. Nesse caso, em vez de uma fonte de renda, o
imóvel torna-se uma torneira de despesas. O proprietário precisa arcar com os
custos do condomínio (no caso de um apartamento), de manutenção (se for uma
casa) e do imposto predial. O total de despesas pode chegar a milhares de reais
por ano a fundo perdido.
3 - Não ter uma reserva para emergências
Você gasta tudo o que ganha mensalmente e não tem uma reserva, por menor que
seja, no banco? Se a resposta for positiva, cuidado! Você pode estar no fio da
navalha. O que você faria se precisasse de um dinheiro extra para cobrir
acidentes de percurso: uma doença, um falecimento na família, uma demissão ou um
período de entressafra no seu negócio? Provavelmente, ficaria na mão ou teria de
recorrer a parentes ou amigos. Ou pediria um empréstimo no banco a juros
estratosféricos. Portanto, se você faz parte do time dos sem-reserva, talvez
seja conveniente começar a formá-la. Em princípio, essa poupança deve ser feita
para não ser usada. Mas, se for preciso, ela estará lá. Segundo os
especialistas, essa reserva não deve ser misturada com a sua poupança de longo
prazo. Deve ficar numa conta à parte. Como ela pode ser necessária quando você
menos espera, é recomendável que esteja investida em aplicações de alta
liquidez, ou seja, que permitam resgate a qualquer hora, como a velha caderneta
de poupança ou um fundo de renda fixa. O objetivo aqui não é conseguir a melhor
rentabilidade do mercado. Apenas preservar o valor do dinheiro. "Para a pessoa
física, manter uma reserva para emergências é uma obrigação, assim como uma
empresa não pode viver sem capital de giro", afirma Reinaldo Zakalski,
ex-Deutsche Bank e hoje responsável pela Boutique de Investimentos, com
escritórios em São Paulo, Ribeirão Preto e Brasília. E qual é o valor que você
deve poupar para cobrir gastos inesperados? Os consultores geralmente dizem que
é preciso guardar o equivalente a, no mínimo, seis meses de despesas familiares.
Ou seja, se sua família gasta 3 000 reais por mês com alimentação, moradia e
serviços essenciais - como água, luz e telefone -, a reserva deveria somar, ao
menos, 18 000 reais. Mas, na vida real, a conta nem sempre é igual para todos.
Quem não possui um seguro de vida, por exemplo, precisará poupar um capital
adicional para cobrir as necessidades de sua família se acontecer um imprevisto.
Nesse caso, a reserva deve ser suficiente para garantir o sustento da família
por um período que gira em torno de dois anos. E a renda mensal usada como base
do cálculo deve levar em conta que as despesas serão menores, caso você lhes
falte. Se o desemprego lhe parecer uma situação remota, é possível reduzir o
valor da reserva. Quem está em ascensão na carreira, faz cursos de atualização
na sua área profissional e acredita que, no caso de ser demitido, não ficaria
sem trabalho por mais de três meses, pode pensar em diminuir o valor citado
acima para 9000 reais. "O emprego é uma questão de mercado e de quanto você
aceita ganhar", diz Martelanc, da USP. No caso do profissional autônomo, é
preciso levar em conta que qualquer lesão que o impossibilite de trabalhar
provocará uma redução imediata na renda da família. Se um dentista machucar a
mão, certamente recorrerá ao fundo emergencial da família para cobrir suas
despesas básicas habituais.
4 - Perder o controle das dívidas
Ficar no vermelho por causa de uma emergência ou de um descuido eventual não
é demérito para ninguém. O crédito bancário existe exatamente para isso. Mas
pagar juros no cartão de crédito ou no cheque especial com freqüência é,
obviamente, um erro drástico. Seja simplesmente pelo fato de se gastar mais do
que se ganha, seja por não querer sacar o dinheiro aplicado no banco. Não há
investimento que compense os juros exorbitantes do cheque especial e do cartão
de crédito, os maiores do mercado, hoje na faixa de 9% ao mês. A essas taxas,
uma dívida dobra de valor em apenas apenas oito meses. Imagine, por exemplo, que
você pagaria, em média, 450 reais de juros por mês ao banco se tivesse com um
saldo devedor no cheque especial de 5 000 reais durante o mês inteiro. Se a sua
renda líquida mensal fosse de 3 000 reais, isso representaria 15% do seu ganho
total. Trata-se de um dinheiro que poderia ir para a poupança ou custear os
prazeres da vida. Num ano, numa conta grosseira, isso representaria 5400 reais,
ou seja, o equivalente a quase dois meses de salário! Segundo especialistas do
mercado, muita gente incorpora o limite de crédito dado por bancos e
administradoras de cartões como parte da renda familiar. Às vezes, ao juntar
todas essas facilidades, a capacidade de compra pode até dobrar. O cliente fica
com a sensação equivocada de poder consumir mais, sem se dar conta de que, na
prática, ao usar boa parte de sua renda para o pagamento de juros, estará dimi-
nuido o seu padrão de vida. Algumas famílias, ao perceber que ultrapassaram seus
limites de crédito, vão além: decidem vender terrenos, imóveis, carros e outros
bens para solucionar seus problemas financeiros. Isso pode até ajudá-las a sair
do sufoco. E é mesmo preferível usar esse capital para pagar dívidas com taxas
de juro elevadas a continuar no vermelho. Mas de nada adiantará vender os bens
para liquidar as dívidas se não houver um corte nos gastos, pois o problema
reaparecerá a médio prazo. Há cerca de um ano, o consultor Erasmo Vieira, da
Planner Finanças Pessoais, de Belo Horizonte, diz ter sido procurado por um
médico de uma tradicional família mineira. Segundo o consultor, a renda mensal
de seu cliente era de 39 000 reais, valor mais do que suficiente para qualquer
mortal levar uma vida extravagante. No entanto, diz ele, a família do médico,
cujos gastos chegavam a 46 000 reais por mês, vivia endividada. Eles atrasavam
até o pagamento da conta de luz e, dos nove cartões de crédito que tinham,
apenas um era pago em dia. Só de juros a conta somava na época 6 000 reais
mensais, de acordo com o consultor. Durante cinco anos, a família contou ter
vendido imóveis e outros bens para tentar sanear suas finanças. Até perceber
que, se não decidisse fazer alguns cortes nas despesas, acabaria dilapidando
todo seu patrimônio sem conseguir equilibrar o orçamento. Dá para acreditar?
5 - Dar importância às grandes decisões e menosprezar as pequenas
Quase todo mundo costuma se preocupar com os grandes gastos, como a compra de
um carro ou de um imóvel, mas acaba se esquecendo das pequenas despesas do
dia-a-dia. Não há dúvida de que um negócio de 20 000, 50 000 ou 100 000 reais
pode afetar o orçamento de qualquer um. Mas quantas operações desse porte alguém
fará no ano ou na vida? Uma? Talvez duas? Três? Certamente, para a maioria, não
muitas vezes mais. Mas, quando o que está em pauta são as compras no
supermercado, a coisa muda de figura. Como as compras, em geral, são semanais ou
mensais, cada ida ao supermercado oferece uma infinidade de possibilidades de
economizar preciosos trocados. Quem conseguir economizar 10 reais uma vez por
semana a cada ida ao supermercado terá acumulado no final de um ano 540 reais, o
suficiente para passar, no mínimo, dois fins de semana com a família na praia. O
mesmo princípio vale para as idas ao restaurante, à padaria, a consultas médicas
e a outras atividades corriqueiras. "O importante não é poupar muito, mas poupar
sempre", afirma Vieira, da Planner. É claro que ninguém vai quebrar porque paga
uma tarifa de 20 reais por um pacote de serviços de um banco, enquanto poderia
estar gastando apenas 5 reais em outra instituição. Ou até na mesma, muitas
vezes, dependendo do pacote de serviços que contratar. Mas, ao longo de um ano,
esses 15 reais de diferença se transformarão em 180 reais. E se você somar os
180 reais que poderiam ser economizados em tarifas bancárias com os 540 reais do
supermercado, já seriam 720 reais num ano. Isso para ficar em apenas dois
exemplos banais. A compulsão pelas compras com cheque pré-datado, essa
instituição nacional que se popularizou na era da superinflação, é mais uma
armadilha que consome valiosos reais que poderiam estar reforçando sua poupança.
Muita gente pensa que um desconto de 5% nas compras à vista é desprezível. Mas é
preciso levar em conta que, num cenário de economia relativamente estável como o
atual, representa muito. A maioria das aplicações financeiras hoje em dia não
rende nem 1% ao mês. O mesmo vale para os pagamentos em três, quatro, cinco ou
até dez vezes "sem juros" oferecidos por muitas lojas. O dinheiro, como qualquer
outra mercadoria, tem um custo, e ne- nhum comerciante, absolutamente nenhum,
vai cobri-lo para você de graça. Na verdade, o que costuma acontecer nesses
casos é que o lojista, que deveria viver da venda de suas mercadorias, acaba
atuando como se fosse um banqueiro. Com a diferença de que você acha que ele
está sendo "bonzinho".
6 - Não seguir os objetivos financeiros que você mesmo definiu
Você decide economizar para comprar um apartamento. No meio do caminho, não
resiste a uma promoção tentadora e desvia aquele suado dinheiro para a compra de
um carro. Resultado: tem de recomeçar do zero a poupança para o apartamento. E
sejamos sinceros: se a cada novo impulso consumista você deixar de lado o
apartamento, dificilmente vai conseguir comprá-lo. O mesmo raciocínio vale para
a simples compra de um computador, a tão sonhada temporada no exterior ou aquela
renda complementar para aproveitar tranqüilamente a aposentadoria. Por falta de
disciplina, muita gente não estabelece prioridades em seus objetivos e acaba
desviando seu foco de atenção daquilo que realmente importa. A maioria das
pessoas não traça planos nem sequer controla seus hábitos de consumo.
Simplesmente sai gastando sem se planejar, endivida-se além da conta e depois
reclama que não ganha o suficiente. A culpa, como sempre, sobra para o patrão.
De acordo com os consultores, a palavra-chave para se ater às suas prioridades é
disciplina. Sem ela, fica difícil conseguir realizar qualquer um de seus sonhos.
E disciplina significa, quase sempre, poupar, fazer uma reserva para alcançar
seus objetivos, separar uma parte da sua renda mensal, de 10% a 20%, para
aplicar e esquecer que esse dinheiro existe. Os especialistas recomendam ter uma
conta para o dia-a-dia, outra para objetivos de médio prazo, como uma viagem, e
uma terceira para metas de prazo mais longo, como a aposentadoria e a poupança
para a faculdade de seus filhos. Embora muita gente acredite que é preciso estar
bem de vida para conseguir economizar alguma coisa, o hábito de poupar,
independe da sua renda. É muito mais uma questão de atitude, que pode ser
incorporada ao cotidiano de qualquer um. Tem gente que ganha pouco e consegue
guardar seu rico dinheirinho. Outras pessoas, que recebem verdadeiras fortunas,
gastam absolutamente tudo. Isso quando não entram no cheque especial. "Um dos
grandes erros do brasileiro é investir apenas o que sobra no final do mês e não
ter disciplina de guardar um pouco de seu dinheiro com regularidade", diz Fábio
Garcia, responsável pela área de produtos de investimento do BankBoston.
7 - Usar mais a emoção do que a razão na hora de investir
Eis aqui outro erro clássico do brasileiro. É difícil, mas é fundamental
deixar a emoção de lado na hora de aplicar seu dinheiro. "O investimento deve
ser racional", afirma o investidor americano Warren Buffet. Em razão do sucesso
de Buffet, o segundo homem mais rico dos Estados Unidos, sua afirmação pode e
deve ser vista como uma espécie de mantra por qualquer aplicador do planeta. Em
geral, por medo ou desconhecimento, as pessoas agem precipitadamente e acabam
perdendo dinheiro por isso. "Para se sentir livre em relação ao dinheiro, é
essencial perder o medo que se tem dele", diz Suze Orman, uma das consultoras
financeiras americanas de maior prestígio atualmente, autora de diversos livros,
entre eles A Coragem para Ser Rico, a ser lançado no ano que vem pela editora
Rocco (leia um trecho do livro na pág. 76). O mercado acionário costuma ser um
dos melhores testes para avaliar o lado emocional dos investidores. O
sobe-e-desce faz parte da dinâmica das bolsas, sujeitas a turbulências
provocadas pela variação de resultado das empresas e pelas expectativas de
investidores em relação ao desempenho econômico do Brasil e de outros países.
Quem investe em ações sabe (ou deveria saber) que bolsa não é o lugar apropriado
para cardíacos. Mesmo assim, é comum encontrar investidores que se desesperam
nos piores momentos do mercado. Agem de forma emocional e tiram o dinheiro
justamente quando a ação chega ao seu nível mais baixo, teoricamente o melhor
momento para comprar. Se agissem racionalmente, provavelmente manteriam seus
investimentos até que passasse o pânico e o cenário clareasse (faça o teste da
pág. 28 para medir sua tolerância ao risco). "As reações emocionais causadas
pela perda são enormes e muitos investidores comuns não conseguem suportá-las",
diz William Eid Jr., professor de finanças da FGV de São Paulo e coordenador do
Centro de Estudos de Finanças da instituição. Pular de galho em galho na
tentativa de sempre acertar o melhor alvo também é uma atitude emocional. A
probabilidade de ser bem-sucedido é mínima - nem os experts costumam conseguir
essa proeza. De acordo com um estudo feito pela Corretora Souza Barros, uma das
mais tradicionais de São Paulo, o investidor assíduo, que aplica sempre, com
consciência e sob o império da razão, tem mais chance de se dar bem do que
aquele que está sempre em busca do melhor momento para entrar e sair do mercado.
O levantamento da corretora mostra que quem tivesse investido mensalmente numa
carteira semelhante à do índice Bovespa, que reflete o desempenho médio dos
papéis mais negociados na Bolsa de São Paulo, teria ganho 384,6% nos últimos 20
anos (em dólar). No mesmo período, de acordo com o estudo, os investidores que
tivessem procurado acertar os momentos de baixa para comprar e de alta para
vender teriam obtido um lucro bem menor, de 284,9%. Obviamente, ser racional não
significa ser omisso. Quem fica parado é poste. Mas muita gente acaba por
avaliar seus investimentos pelo que eles eram quando foram feitos, e não pelo
que valem hoje ou pelo seu potencial futuro de valorização. E isso vale para
tudo, não apenas para o mercado financeiro. Um prédio no centro de São Paulo,
por exemplo, poderia ser muito valioso nos anos 30, mas hoje, com a
desvalorização da região, é quase um mico. Mesmo assim, muitos proprietários de
escritórios na região central da cidade não se desfazem do imóvel por uma
questão sentimental, seja porque o receberam de herança, seja porque passaram
boa parte de suas vidas por lá. "As pessoas casam com o mau resultado para não
admitir que erraram", diz Ronaldo Magalhães, da Sul América Investimentos.
8 - Não correr riscos
Desde pequeno, todo mundo aprendeu a evitar riscos. "Cuidado com o
escorregador, não brinque perto do carro", diziam e dizem as mamães. A lição
começou em casa, continuou na escola e entrou na vida das pessoas - a
insegurança, o medo de trocar o certo pelo duvidoso, ainda é muito forte para a
maioria, principalmente na carreira e nos assuntos relacionados a dinheiro. Não
é raro encontrar quem se acomode numa posição na qual o salário não parece bom e
o trabalho não satisfaz. Afinal, para que arriscar? "É difícil evoluir
profissionalmente sem correr riscos", afirma o headhunter Guilherme Velloso,
diretor da PMC Amrop, uma das principais empresas de recrutamento do país. "Na
carreira, assim como nos investimentos, as grandes oportunidades embutem risco,
por isso as recompensas são maiores", diz Velloso. Com as aplicações financeiras
não é diferente. A maioria não suporta a idéia de investir suas economias e não
tê-las de volta integralmente. Uma máxima do mercado financeiro, no entanto, diz
justamente que, quanto maior for o risco de uma aplicação, maior a possibilidade
de ganho. "Essencialmente, toda decisão que nós tomamos é um risco, de uma forma
ou de outra", afirma o consultor econômico americano Peter L. Bernstein, autor
do livro Desafio aos Deuses: A Fascinante História do Risco (editora Campus),
considerado o livro de negócios mais inovador e criativo dos Estados Unidos em
1996. Em razão do que diz Bernstein, talvez convenha aprender a gerenciar o
risco, em vez de evitá-lo. No dia-a-dia, já fazemos isso sem nos dar conta.
Quando deixamos de ir a um caixa eletrônico à noite, num lugar escuro, por
exemplo, estamos minimizando o risco de ser assaltados. Se não fizermos esportes
radicais, também teremos menor probabilidade de morrer ou de nos acidentar (toc,
toc, toc). Que tal aplicar esse princípio para fazer a gestão de risco de seus
investimentos? Ao diversificar as suas aplicações, por exemplo, você poderá
diminuir o risco de ver o seu patrimônio minguar. "A idéia do gerenciamento de
riscos é não ser surpreendido", diz Bernstein. "Se estiver errado, não quero ser
eliminado, quero estar seguro de que vou sobreviver."
9 - Não levar em conta a inflação, por menor que ela seja
Quando se fala em investimento, um dos maiores erros que se podem cometer é
desprezar a inflação, independentemente de ela ser alta ou baixa. A inflação
pode anular parte ou todo o ganho que o investidor acredita estar obtendo com
uma aplicação financeira. Principalmente quando o que está em pauta é uma
poupança de longo prazo, seja para custear a sua aposentadoria, seja para pagar
a faculdade das crianças dentro de alguns anos. É certo que, hoje em dia, com a
estabilidade trazida pelo Plano Real, implementado em 1994, esse problema já não
é tão grave quanto alguns anos atrás. Afinal, desde então, o salário deixou de
ser corroído diariamente pela inflação e as pessoas puderam organizar seus
gastos. Muita gente tem conseguido até se planejar para realizar objetivos
futuros. Mas nem por isso a inflação deve ser desprezada por qualquer investidor
digno do nome. Mesmo nos Estados Unidos, onde a inflação está hoje na casa dos
2% ou 3% ao ano, essa é uma questão que merece atenção dos consultores mais
respeitados do mercado. Aqui, desde que a super inflação foi domada, muitos
investidores praticamente a esqueceram. Só que, mesmo em patamares civilizados,
ela continua presente. E é melhor contar com ela na hora de aplicar o seu
dinheiro do que ignorar sua existência. Basta ir à padaria ou ao supermercado e
conferir. Desde o começo deste ano, por exemplo, a inflação acumulada chega a
2,41%, segundo dados do IPCA, calculado pelo IBGE. No ano passado, em dois
meses, a poupança chegou a render menos que a inflação (1,61% de inflação contra
0,66% de rendimento da poupança, em julho, e 1,31% de inflação contra 0,70% da
poupança, em agosto). Em dezembro, os dois índices praticamente empataram. A
longo prazo, se isso se repetir muitas vezes, pode ser algo fatal para suas
economias. A tendência é que a inflação continue sob controle. Ao menos é o que
se espera. Mas a recente desvalorização cambial mostra que nem tudo pode ser
previsto. Para se garantir, é importante, sempre, levar em conta o rendimento
real, ou seja, descontado da inflação, de seus investimentos. Muitas vezes, ao
descontar os impostos e a inflação, os ganhos que você julgava extraordinários
são mínimos e, em alguns casos, até inexistentes. Isso significa que, em termos
reais, o investidor está perdendo dinheiro ou diminuindo o seu patrimônio. "A
única maneira realmente efetiva para resguardar o valor das aplicações é obter
um rendimento maior do que a taxa inflacionária do período em que você está
aplicando seu capital", afirma Louis Frankenberg, consultor de finanças
pessoais, no livro Seu Futuro Financeiro, editora Campus. l