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Carreira / Emprego - O braço direito 

Data: 15/12/2008

 
 

'Eu nunca desconfiei do que estava por vir. Pensei que um dia nós nos sentaríamos para um drinque e encontraríamos um modo de contornar os problemas.'
James Dimon, sobre sua demissão por seu mentor, Sandy Weill

Comum é, nas empresas, encontrar um elemento que representa o braço direito do chefe: aquela pessoa que, quando vai ao médico, alguém sempre liga no celular dela para saber o que fazer. Quando ela se ausenta por alguns minutos da empresa no horário do expediente (um detalhe importante é que ela costuma ficar além do horário do expediente sem reclamar, apenas para deixar o serviço em dia) ou quando ela tira férias, é chamada para vir desempenhar suas funções, pois ninguém sabe fazer como ela faz. Ou ainda, ninguém sabe fazer o que ela faz. Outra característica: ela representa o chefe, ou grande rei, principalmente quando ele não está; recebe apelidos sugestivos, do tipo Carlos II ou Carla, se for uma mulher, se o chefe se chama Carlos.

O braço direito, não se sabe quando nem como (às vezes se sabe!) recebeu este status, este título informal e o introjetou na sua performance corporativa de tal maneira que um bocado de energia acaba sendo gasto para se manter nesta posição.

Ensinar o que sabe acaba sendo um sofrimento para esta pessoa; detectar colegas que podem ameaçar sua posição é outro sofrimento. Qualquer pessoa próxima ao grande rei é um perigo para ela; boicotes, na tentativa de exercer um controle sobre quem se aproxima do trono, é sua especialidade. A energia que poderia ser utilizada para produzir e trabalhar é drenada dia a dia.

Mas quem ousa questionar sua produção? Ou qualquer das suas atitudes? Ninguém. Há um código de ética nos corredores da empresa que impede qualquer comentário deste tipo.

O braço direito se distrai, preocupado em servir ao grande rei que está sentado no trono, porque o braço direito trabalha para o rei, não para a empresa; e erra, erra muito mesmo, mas nunca erra com o rei; para ele, tudo! Para os outros, nada! O braço direito, na concepção do rei, não erra nunca, ou se erra, coitado, ele o faz sempre sem perceber; o atrevido que ousar apontar alguma coisa de negativo sobre o braço direito vai se ferrar, vai perder pontos com o rei, vai ser chamado de invejoso, maldoso, ingrato ou qualquer coisa deste tipo, porque o braço direito está definitivamente garantido na empresa para sempre; suas falhas são todas justificáveis, e sabem por quem?

Ah! Aí é que está o X da questão! Pelo grande rei cotó, que só tem o braço esquerdo, porque o direito... É este ser a quem ele está simbioticamente preso, ligado e envolvido emocionalmente pelo cordão umbilical; é aquela pessoa que o grande rei cotó cegamente elegeu como seu braço direito, instruído, orientado, formado e diplomado pelo próprio rei.

Acreditem, não existe em nenhuma empresa, um braço direito que se eleja sozinho. Não, não! Isso só acontece quando alguma autoridade superior lhe concede este título, e ai de quem discorde disso. É um título honorário!

Segundo a analista transacional Jacques Schiff, simbiose “é o fenômeno que ocorre quando duas ou mais pessoas se conduzem na vida como se fosse uma só”. É a metade da laranja, a tampa da panela, ½ + ½ = 1. No relacionamento conjugal isso até é confundido com o conceito de amor.

Nas relações interpessoais corporativas, o resultado disso é a dependência que pode parecer confortável numa visão simplista; quando o chefe se sente representado pelo braço direito, ele dorme tranqüilo, porque tem uma pessoa de confiança, que cuida da sua empresa impecavelmente, na sua ausência principalmente. Se o braço direito cuida do caixa, melhor ainda, pois o chefe fica aliviado com a idéia de que o seu braço direito sabe cuidar do dinheiro da empresa com muito, muito zelo. E às vezes sabe mesmo! Não é isso que está em questão. Até porque, se ele assim o faz, está fazendo o que tem que ser feito!

O que está em questão, é o estrago que uma pessoa dessas acaba provocando na equipe, respaldada pelo grande rei cotó. Este título delegado a um ser imaturo, arrogante e principalmente ambicioso é um convite ao assédio moral nas suas facetas mais sutis. E caso o braço direito não tenha estas características, é grande a probabilidade de ter um dia, mesmo que disfarçadas por uma humildade teatral. Nunca o grande rei cotó ficará sabendo de nada, e se souber, ele não vai acreditar. Porque esta face nunca será mostrada para o grande rei cotó. Conheci um rei que era especialista nisso; ele ministrava MBA sobre este assunto ou pagava para seu braço direito o MBA. Depois de muito tempo eu soube que este rei era movido pelo desejo de ter um filho sucessor; e na impossibilidade disso, ele inconscientemente elegia vários braços direitos dentro da empresa que ficavam todos disputando quem era o predileto.

Só tem uma chance de salvar o clima da empresa quando isso acontece: é o rei deixar de ser cotó e enxergar sua empresa como um todo, com seus vários colaboradores ou sócio-investidores, como eu prefiro chamar a todos que fazem parte de uma empresa; uma verdadeira equipe, onde o poder é equalizado de tal forma que todos se sentem importantes e realmente são importantes; todos cuidam da empresa porque a empresa é de todos.

Isso acontece quando o grande rei se fortalece emocionalmente e muda a fórmula para 1 + 1 = 2, simbolizando a ausência de dependência e a presença da interdependência entre todos da equipe. O braço direito perde seu status patológico quando seu poder é do tamanho que tem que ser, sem maximizações idealizadoras respaldadas pelo grande rei que corajosa e inteligentemente deixou de ser cotó.

A equipe, sorrindo, aplaude e agradece!



 
Referência: curriculum.com.br
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