O temor do desemprego é uma velha constante tanto para profissionais na ativa
quanto para aqueles que buscam novas oportunidades. A melhor receita para
driblar este temor: a adoção de uma nova atitude.
“O desemprego do homem deve ser tratado como tragédia e não
comoestatística econômica.”
(Papa João Paulo II)
Há exatos onze anos experimentei o sabor amargo do desemprego. Por opção, eu
deixava um cargo de gerência de filial numa empresa exportadora de café cru em
grão, onde desenvolvera ao longo de apenas dez meses um trabalho que a alçou da
45ª posição, no ranking das maiores exportadoras brasileiras dentro de seu
segmento, para a 21ª colocação.
Era o fim de um ciclo. Não havia mais espaço para crescimento dentro daquela
estrutura. Foi quando cunhei a expressão “bater com a cabeça no teto”.
Tomada a decisão, fui enfrentar a frialdade do mercado de trabalho. As
expectativas de uma rápida recolocação eram elevadas. Afinal, eu era jovem,
impetuoso, determinado e carregava na bagagem uma série de realizações
concretas.
O mundo real, no entanto, ensinou-me outras verdades. A tenra idade não era um
aspecto positivo, mas uma fragilidade, pois “garotos” de 21 anos de idade não
podiam ter a experiência exigida para cargos de supervisão e gerência – assim
como “velhos” de 45 anos simbolizavam arcaísmo e retrocesso.
Descobri também a existência de algumas regras para entrar no jogo. A formação
acadêmica sólida era a primeira delas. Isso significava não apenas uma faculdade
de renome, mas também algo óbvio: o curso superior concluído. E eu abandonara
meus estudos para assumir o cargo que me fora ofertado, pois seria exercido em
outro Estado da federação.
Aprendi, ainda, a irrelevância de dominar o idioma pátrio, na linguagem falada e
escrita, ante a fluência em inglês de outro candidato, o qual estaria sempre
anos-luz à frente mesmo escrevendo exceção com dois (ou quatro) “s” ou
pronunciando “poblema” (sic) a cada duas frases.
Em meio a tantas outras descobertas sobre como funciona o “sistema”, observei
sete longos meses passarem diante de meus olhos. Ao longo deste período, retomei
os estudos, fiz uma série de cursos práticos complementares, reduzi minha
pretensão salarial. Mas ao término destes sete meses, eu não recebera nenhuma
proposta concreta de trabalho, minhas reservas financeiras tinham se exaurido,
minha auto-estima estava em colapso.
Empreendedorismo de Necessidade
Dentro deste contexto, parti para a “carreira solo”. Era preciso fazer algo com
o pouco de orgulho-próprio que ainda me restava. Era preciso que eu me colocasse
à prova. Foi assim que abracei o auto-empreendedorismo como opção de vida. Mais
do que uma necessidade, foi minha tábua de salvação.
Uma década se passou desde então. E o mercado de trabalho continua muito próximo
da realidade que experienciei. As restrições quanto à idade persistem. A
formação acadêmica demanda atualmente, além do curso superior completo, um MBA
de qualquer coisa. O espanhol tem que acompanhar o inglês, permanecendo o
português em segundo plano.
O desemprego é um acontecimento medonho. Quanto mais ele se prolonga, mais afeta
negativamente o profissional. Quando atinge um pai ou um arrimo de família,
então, assume conotação sádica e perniciosa. Apenas quem vivenciou isso consegue
entender o porquê do olhar opaco e dos ombros arqueados daquele que não tem a
possibilidade de dizer ao mundo a que veio.
Por isso, quero convocá-los a uma campanha pelo desemprego zero. Mas não se
trata de uma moção de âmbito governamental. Trata-se de uma atitude, de um lema,
de uma profissão de fé. Trata-se de cada um de nós firmarmos compromisso pessoal
para buscarmos e permanecermos dignamente empregados, seja num negócio próprio
ou de terceiros. Trata-se de você descobrir com a máxima urgência, acima e a
despeito de tudo, qual sua vocação. E segui-la.
Isso abrange também os “empregados-desempregados”, uma categoria de pessoas que
vendem barato seus sonhos, exercendo atividades que não correspondem ao que seus
corações mandam, vagando pelo mundo corporativo como almas errantes.
Espero ver estas pessoas agraciadas pela autoconsciência, para despertarem para
quem são; presenteadas pela coragem, para fazerem o que desejam; estimuladas
pela ousadia, para empreenderem por oportunidade; e sensibilizadas pela emoção,
para levar este princípio adiante, ofertando, sempre que possível, um novo posto
de trabalho, industrializando a esperança.