O cinema é pródigo em ilustrar situações sobre o comportamento humano. Nem
sempre é um bom filme. Mas, às vezes, uma frase se aproveita e diz muito. No
filme “O Núcleo”, que por sinal é bem ruim, em dado momento surge uma frase que
ilustra bem uma dimensão determinante em liderança.
Uma das personagens teima com o comandante da nave que quer assumir o controle e
liderar a missão.
O comandante diz que não. Ela diz que já sabe tudo o que é necessário para
comandar. Ao que ele responde: “No momento correto você entenderá que liderar
tem mais a ver com responsabilidade do que com saber pilotar uma nave”.
O conceito é simples, mas não é simplista. Liderar impõe responsabilidades
agudas, e raras são as pessoas que estão capacitadas a assumi-las. Reunir
saberes técnicos não garante competência de liderança. Atitudes e percepções são
determinantes.
Outro conceito que se impõe à liderança é o de respeito. Diz o mestre Aurélio
que a palavra “respeito” deriva do latim “respectare”, por sua vez significando
“olhar muitas vezes para trás”. Ou seja, contemplar e saborear experiências.
Entender, considerar, aceitar, ponderar e tolerar são componentes do significado
de respeito. Isso está longe de ser comum.
Numa simples frase, todo fundamento da liderança é exposto. De fato, nem sempre
o domínio técnico elege um líder. Há imperativos maiores e o principal deles diz
respeito aos outros. No caso do filme, vidas que podem ser perdidas.
Há momentos em que o líder deve tomar decisões difíceis e de alto custo
emocional. Decidir quem deve ser deixado para trás num campo de batalha, por
exemplo, é uma decisão que salva muitas vidas, mas sacrifica outras que pesam
sobre quem lidera; e é preciso saber decidir.
Somos diariamente assolados pelas pressões do ambiente a tomar decisões de alto
custo humano, seja o próprio ou de outros. Equilíbrio e responsabilidade são
imperativos que devem nortear nossas ações. Mas será que estamos preparados para
o ônus de liderar?
Estaremos aptos a decidir quem deve perecer no caminho e ainda assim nos
sentirmos dignos de nós mesmos?
Eu, aos quase 50, imagino que decisões agudas têm muito a ver com cabelos
brancos. Parafraseando Vinícius: os jovens que me perdoem, mas experiência é
fundamental.
No mundo corporativo, a questão é crítica; posturas e decisões do líder afetam
vidas, e o peso da decisão será dele exclusivamente, do ponto de vista ético e
moral.