Não agüenta mais seu emprego? Você não está sozinho. Estudo divulgado nos
Estados Unidos mostra que 87% da força de trabalho não está nada satisfeita com
seu ganha-pão. No site de relacionamentos Orkut, também não falta gente
reclamando da empresa, do chefe e dos colegas de escritório (veja o quadro Eu
Odeio Meu Emprego!). O motivo de tanta frustração é, principalmente, a falta de
autonomia e reconhecimento.
Foi a essa conclusão que chegou a consultora norte-americana Jane Boucher,
autora do livro How to Love the Job You Hate ('Como amar o emprego que você
odeia', sem tradução no Brasil). Segundo ela, o que os profissionais mais querem
é ter liberdade para trabalhar e sentir que o que fazem é importante. Quando
isso não acontece, vem o desânimo e, em alguns casos, a revolta. Se esse é o seu
caso, nem pense em sair por aí xingando tudo e todos. Nessas horas, o ideal é
fazer exatamente o contrário: assumir sua parcela de responsabilidade pelo que
está acontecendo. ' Não adianta esbravejar contra o mundo e se considerar
injustiçado. Nenhum emprego fica tão ruim da noite para o dia', diz o headhunter
Francisco Britto, da Boyden,multinacional da área de recolocação.
Segundo o consultor José Augusto Minarelli, presidente da Lens&Minarelli, em São
Paulo, é normal se sentir desmotivado quando você passa alguns anos no mesmo
cargo, sem novidades significativas na carreira. O problema é quando você só
consegue enxergar o que existe de ruim e se acomoda nessa situação. 'O
sentimento de frustração com o trabalho pode se tornar tão destruidor que muita
gente procura uma válvula de escape no álcool ou nas drogas', diz o consultor
Luiz Fernando Garcia, da Render Capacitação, também de São Paulo.
Essa postura negativa e acomodada também traz prejuízos para as empresas: a
produtividade cai, aumenta o índice de absenteísmo e a frustração contamina
outras pessoas da equipe. Demitir um profissional nesse estado também não é bom,
porque envolve custos com o desligamento, além da seleção, treinamento e
adaptação de um novo funcionário. Para evitar que a situação chegue a esse
ponto, as melhores empresas para trabalhar vêm desenvolvendo estratégias para
identificar e corrigir problemas de motivação — como avaliação 360 graus e
canais de denúncia ao RH. Se você trabalha numa organização assim, vale a pena
dar um voto de confiança e insistir mais um pouco, com a expectativa de que os
motivos de sua insatisfação sejam resolvidos.
Mas, para que isso dê certo, você também precisa fazer sua parte e tentar
solucionar o que anda lhe incomodando. No quadro ao lado você confere algumas
das principais queixas do mundo corporativo e as orientações da consultora Rosa
Bernhoeft, da Alba Consultoria, em São Paulo, para resolver cada problema. Se
nem assim você passar a gostar do seu emprego, é hora de procurar vaga em outra
empresa ou avaliar se você foi feito para o mundo corporativo. Talvez acabe
descobrindo outras oportunidades de realização profissional, como a
possibilidade de abrir seu próprio negócio. O importante é fazer algo que
efetivamente possa trazer resultados positivos. E parar de reclamar!
Eu odeio meu emprego!
Veja se você se identifica com os depoimentos extraídos do Orkut e confira as
soluções propostas por Rosa Bernhoeft, da Alba Consultoria
Meu chefe é um desastre
A queixa: 'Meu chefe fica com todos os méritos quando a equipe faz um bom
trabalho e detona todo mundo para a diretoria quando há problemas.'
A solução: Deixe explícito para outros setores o quanto você participa
dos projetos. Se todos fizerem o mesmo, o chefe se sentirá pressionado e agirá
de outra forma.
A queixa: 'O chefe vive controlando meus horários.'
A solução: Pergunte a ele se os seus atrasos o incomodam ou se é apenas
impressão. E chegue na hora!
Ninguém reconhece meu valor
A queixa: 'Dediquei anos à empresa sem ser reconhecido. Daí chegou um
sujeito no meu setor que nem é essas coisas, mas todo mundo o trata como gênio.'
A solução: Você não deve entrar em competição com os outros, mas se guiar
pelos seus próprios critérios de eficiência. Se alguém novo está sendo
valorizado, é porque trouxe atributos que faziam falta.
A queixa: 'Faz três anos que não recebo aumento de salário, enquanto o
volume de trabalho não pára de crescer.'
A solução: Se você realmente tem motivos para solicitar um aumento, é
hora de ter uma conversa com o chefe sobre esse assunto. Mas prepare bons
argumentos. Não adianta nada dizer apenas que o salário está congelado há um bom
tempo. Ele sabe disso.
Meus colegas são perigosos
A queixa: 'O pessoal que trabalha comigo deveria fornecer soro para o
Instituto Butantã. Eta gente falsa e fofoqueira!'
A solução: Faça como Tancredo Neves. Certa vez, alguém disse que lhe
contaria um segredo e ele respondeu: 'Não me conte, por favor. Se o segredo é
seu e você não consegue guardá-lo, que dirá eu'. Normalmente, só quem participa
da 'rádio-peão' acaba sendo atingido pelas fofocas.
A queixa: 'Só quem é puxa-saco do chefe consegue subir na empresa. Quem
não entra nesse jogo perde o lugar.'
A solução: Se você adota os mesmos critérios para elogiar os chefes, os
colegas e os subordinados quando eles merecem, não precisa ter medo de parecer
puxa-saco. Se um colega age de outra forma, quem se expõe ao ridículo é ele.
Sou muito bom para fazer isso
A queixa: 'Estudei seis anos da minha vida para passar o dia na frente do
Excel.'
A solução: Até em ações repetitivas é possível implementar melhorias.
Faça isso para sua satisfação — e você ainda pode se surpreender com o
reconhecimento de alguém que está de olho no seu trabalho.
A queixa: 'Trabalho 12 horas por dia porque todo mundo no escritório faz
isso. Mas, como não recebo hora extra, mato um bom tempo navegando pela internet
e no Messenger.'
A solução: Se você consegue dar conta das tarefas em menos horas, reduza
gradativamente o seu expediente, ainda que os colegas o olhem com espanto quando
você sair.