A engenheira química Elizabete Rocha, de 47 anos, trabalhou 16 anos numa
única empresa do setor químico, em São Paulo. Aparentemente, seus chefes nunca
tiveram do que reclamar de seu desempenho como gestora de produto. Mas, em
agosto do ano passado, as portas se fecharam. 'Fui pega de surpresa', diz
Elizabete. 'Depois de ser demitida, perdi o chão.' A explicação do RH foi uma
reestruturação de cargos, mas a engenheira acha que isso foi mera 'desculpa'.
A advogada paulista Tatiana Lessa, de 28 anos, também foi demitida
repentinamente de um escritório especializado em direito empresarial, em São
Paulo. 'Como não me deram nenhuma justificativa, me senti uma incompetente',
afirma Tatiana. 'Eu tinha audiências agendadas, mas nem isso foi levado em
conta. Apenas me disseram a data para a assinatura da rescisão do contrato.'
Histórias como as de Elizabete e Tatiana ocorrem com uma freqüência maior do que
se imagina. Mesmo com avanços significativos na gestão de pessoas em
organizações no país, chefes e recursos humanos surpreendem funcionários com a
fatídica notícia. Mas de quem é a culpa quando isso acontece: do empregado, que
não percebeu que seu emprego estava em perigo e nem tentou reverter a situação?
Ou do chefe e do RH por não terem dado feedback adequado, indicando ao
profissional que ele corria o risco de ir para a rua?
Os especialistas em gestão de carreira explicam que o empregado tem
responsabilidade nessa situação, não é apenas vítima. 'Muitas vezes o chefe não
tem coragem de ser claro sobre os fatores que põem o emprego do subordinado em
risco, mas o funcionário também não tem coragem de perguntar se está tudo bem',
diz Paulo Kretly, diretor-geral da consultoria FranklinCovey no Brasil. 'Na
maioria dos casos, as falhas são conjuntas', completa Gutemberg de Macêdo,
presidente da Gutemberg Consultores, de São Paulo.
Mesmo admitindo a culpa da empresa e do funcionário, o estrago é maior na vida
da pessoa. A auto-estima é afetada. E, se o profissional tem problemas
financeiros, o desastre é maior. A diretora executiva da consultoria Lens &
Minarelli, Mariá Giuliese, explica que a pessoa fica insegura em relação à sua
capacidade profissional e tem dúvidas quanto à sua culpa no processo. 'Demissão
é uma forma de exclusão e dói muito, mesmo quando se está insatisfeito com o
emprego', diz Mariá. Por isso, os consultores recomendam ficar atento ao que
acontece ao se redor. Assim, você pode identificar alguns indícios de que o pior
está por vir. Em geral, seu emprego está em xeque quando:
...você não é chamado para reuniões e definições de novos projetos;
...seu chefe, de uma hora para outra, fica distante e se esquiva quando
você o procura;
...os colegas de trabalho também demonstram indiferença e passam a falar
apenas o necessário;
...há mudanças de cargos superiores e toda a equipe vive a eminência de
ser alterada;
...ocorre um processo de fusão ou de aquisição. Mesmo que você esteja na
empresa que efetuou a compra, seu emprego não é intocável;
...você está sofrendo com o emprego. Essa situação pode ser um sinal de
que seu chefe também está insatisfeito ao ponto de sua vida na empresa ter se
tornado um tremendo inconveniente para ambos.
Se ao perceber esses sinais ainda houver tempo de conversar com o chefe e o RH
para salvar seu emprego, não fique constrangido. Peça para receber esse
feedback. Esteja preparado para ouvir tudo de bom e de ruim e pergunte se há
algo a ser feito. Se a demissão for irreversível, prepare-se para dar a volta
por cima. Isso é sinal de maturidade pessoal e profissional. Elizabete, após a
demissão repentina, percebeu que poderia ter realizado mais mudanças na vida
profissional. Atualmente, a engenheira química avalia algumas propostas e não
quer saber de pegar o primeiro emprego que aparecer. Ela não ficou remoendo o
que aconteceu. Preferiu usar o tempo livre para se atualizar matriculando-se em
cursos e seminários. A advogada Tatiana, após seis meses de balanço e procura,
conseguiu uma nova colocação num escritório paulista e garante estar muito mais
satisfeita profissionalmente em comparação ao seu antigo emprego. Ambas
aprenderam que, apesar de repentina, a demissão não é o fim do mundo.
FUI DEMITIDO. E AGORA?
Veja o que consultores de carreira recomendam quando se é surpreendido com uma
demissão inesperada:
* Equilibre suas emoções em vez de gastar energia se lamentando.
* Se as finanças estão desorganizadas, cancele as férias e reduza os custos
mensais em até 40%.
* Aproveite o momento para verificar se vivia demais em função da empresa e
esquecia de dar atenção à família e aos amigos.
* O sentimento de culpa nessas horas é normal. Mas tente se perdoar pelo o que
aconteceu. Reconheça seus pontos fortes e reflita sobre como melhorar os pontos
fracos.
* Evite a tentação de pegar o primeiro emprego que aparecer. A nova colocação
precisa ser bem avaliada para evitar surpresas desagradáveis.