Recessão, como o nome já nos convida a refletir, significa declínio da
atividade econômica e algum problema para manter a economia aquecida. A
definição é simples, mas ao longo do texto tratarei de aprofundá-la e deixá-la
mais técnica, ainda que sem o difícil “economês”. Observar a recessão apenas
como um fator isolado não nos dá a dimensão exata desta afirmação, portanto peço
licença para um breve discurso teórico sobre ciclos econômicos.
De ciclo em ciclo
Precisamos entender e procurar observar que, historicamente, a economia é
formada por ciclos. Na prática, isso significa analisar o desempenho econômico
atual e compará-lo a diferentes situações vividas - tanto no passado recente,
quanto no mais remoto. Isso significa pautar as análises em indicadores, como o
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) por exemplo, que é justamente a
tarefa de muitos economistas e analistas de mercado.
Os ciclos, normalmente caracterizados ou pela
contração da economia ou pela sua expansão, apresentam indícios fundamentais
para que o momento seja bem avaliado, com destaque para:
- A bonança: trata-se do ápice econômico de uma nação.
Níveis de desemprego muito baixos, ofertas de melhores salários, maior
demanda, lucros crescentes e mercados imobiliário e de capitais (bolsa de
valores) atingindo incríveis patamares são aspectos que caracterizam esta
fase. Em resumo, tudo vai bem e todos ganham dinheiro;
- A recessão: momento de correção, normalmente decorrente
de um forte momento de bonança. Juros e salários ainda altos contrastam com
a queda da demanda por produtos e escassez de crédito. As empresas auferem
menos ganhos, perdem dinheiro com contratos futuros e tendem a vender seus
produtos a preços mais baixos - o que nem sempre funciona, já que a
população sente a falta de dinheiro e crédito para comprá-los. Hoje vamos
tratar somente deste aspecto;
- A depressão: é o fundo do poço de uma economia. Preços
muito baixos, nível de desemprego altíssimo, salários reduzidos, ociosidade
de plantas e fábricas, prejuízos freqüentes, poucos empréstimos e
financiamentos são alguns indícios de que uma depressão pode estar em curso.
Lembrando que tais indicadores precisam ser avaliados em um contexto
histórico e com bons fundamentos comparativos. Há certa confusão entre
recessão e depressão;
- A recuperação: as coisas começam a se ajustar, o
dinheiro passa a circular novamente entre os cidadãos e empresas gerenciam
suas operações de forma mais coerente. Normalmente, aqui se percebe uma
mudança no mercado, com empresas e trabalhadores ineficientes de fora, o que
coloca a economia novamente em ritmo capaz de inovar e criar novos produtos
a preços interessantes. Entra em cena a esperança, força capaz de fazer as
pessoas consumirem mais e confiarem mais no sistema financeiro.
Vale ressaltar que os ciclos nem sempre obedecem uma ordem lógica. Contudo, é
fácil perceber que os fatores e fases que os caracterizam explicam o conceito
sempre abordado de que “crises são cíclicas”. Elas começam, se agravam ou se
dissipam. São trabalhadas e as economias voltam a crescer. E começa tudo outra
vez. Enfim, entendidos os principais momentos econômicos a que uma nação
geralmente se submete, finalmente tratamos do que muito se comenta na imprensa:
existem economias em recessão?
A chamada recessão técnica
Como já vimos, para se definir em que fase uma economia está é preciso avaliar
determinados indicadores e compará-los aos seus valores passados. Neste aspecto,
surge o importante conceito de recessão técnica, explicada aqui
de forma muito objetiva: a economia de um país entra em recessão técnica quando
há crescimento negativo do Produto Interno Bruto em pelo menos dois trimestres
consecutivos. Vamos entender isso através dos exemplos atuais?
- A Alemanha, maior economia da Europa, apresentou queda de 0,5% no PIB do
terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre, o que não ocorria desde
2003.
- A Itália também viu seu PIB recuar 0,5% no terceiro trimestre quando
comparado com percentual do segundo trimestre.
- O Japão, segunda maior economia do mundo, viu seu Produto Interno Bruto
retroceder 0,1% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre do
ano.
Compreendido o aspecto técnico, cabe uma observação: entender essas variações
de cenário e definir como elas influenciam o dia-a-dia dos cidadãos não são
tarefas triviais. No entanto, é preciso que haja algum compromisso por parte de
todos no sentido de absorver a mensagem e imprimi-la em forma de atos e ações
dentro de casa e com as finanças da família. Começar com a leitura de um artigo
como esse já facilita a interpretação de notícias encontradas em jornais e
revistas especializadas.
Afinal, recessão significa risco de futura depressão, mas também oportunidade
de se acertar e voltar ao período de bonança, passando por um convincente
momento de recuperação. Na vida pessoal, no ambiente corporativo ou na economia
nacional, não importa, seja bem-vindo ao mundo real dos ciclos econômicos.