Qual é o seu problema? Por que fazer o dinheiro sobrar e trabalhar para você?
Estas são algumas perguntas que comumente faço em apresentações e consultorias.
A primeira, incisiva e objetiva, gera as mais diversas reações. A segunda, mais
profunda e que envolve objetivos e metas pessoais, sempre vem acompanhada de um
breve silêncio. Como você reagiria diante destas perguntas?
O texto de hoje discute o instinto de defesa que criamos diante de uma
realidade adversa. Este instinto transforma-se na negação. Uma
reflexão simples é capaz de explicar meu ponto de vista sobre a questão: quando
procuramos, por livre e espontânea vontade, um pronto-socorro ou um médico,
estamos aceitando (e assumindo) que temos um problema de saúde. Com o dinheiro,
nem sempre somos tão sinceros e inteligentes. Por que?
Em casa, sempre aprendi que problemas sempre têm solução. Mais, aprendi que
para resolvê-los é preciso enxergá-los, encará-los. Isso soa como simples
obviedade, hipocrisia ou moralismo para você? Cuidado com as conclusões sobre
sua própria capacidade de sanar seus problemas financeiros, pois é justamente a
negação o maior perigo das famílias endividadas.
A negação é invisível e gradual
É muito mais fácil disfarçar um problema financeiro que um importante sintoma de
saúde deficiente, não acha? Transformar o tema “dinheiro” em algo único e
exclusivo de seus momentos em frente ao espelho pode ser muito perigoso. Quando
estamos sozinhos, fica fácil criar justificativas para nossos recentes atos,
além de falsas metas, esquecidas quando agimos em sociedade ou junto da família.
A negação tem outra característica ainda mais nociva: sozinhos, raramente
percebemos que nossas decisões são capazes (e muitas vezes responsáveis) de
atrapalhar nossos planos de longo prazo. O efeito gradual do “está tudo bem” nos
impede de atacar as questões que colocam em risco a saúde financeira da família.
O dia passa, a semana termina, o mês finalmente avança. Parece estar “tudo bem”.
Parece.
Dave Ramsey, especialista norte-americano em finanças
pessoais e criador da metodologia My Total Money Makeover, sempre faz o seguinte
comentário em seus programas semanais, veiculados em diversas rádios de lá:
“É comum perdermos gradualmente nossa saúde física,
mental e financeira. Soa como um cliché, mas isso acontece porque o inimigo
do ‘melhor’ não é ‘o pior’. O inimigo do ‘melhor’ é o ‘está tudo bem’. Negar
impede que possamos realmente enxergar os problemas”
Notou o uso da palavra gradualmente? É cômodo aceitar as coisas como elas
estão, sem discutir as possibilidades de transformá-las. Inúmeros indivíduos
encontram-se acomodados em sua zona de conforto, mesmo reconhecendo que ela não
é confortável o bastante. Será que decidir mudar é tão mais difícil do que
desistir de mudar? Infelizmente, sim!
Obstáculos e objetivos
Desistir de mudar! Acredite, este é o primeiro obstáculo de quem realmente
precisa melhorar sua vida financeira. Qualquer tentativa de ajustar o orçamento
doméstico, de investir melhor seu dinheiro serão meros modismos se não há razão
para o esforço contínuo. Quando a questão não é apenas a quantidade de dívidas,
mas também sua reação diante delas, a coisa fica mais séria.
Caímos, agora sim, na segunda pergunta lá do primeiro parágrafo. Por que
fazer o dinheiro sobrar? Porque vale a pena. Porque criar oportunidades é uma
opção disponível para todos. Porque é interessante. Porque é gostoso. Porque faz
bem.
Preencher uma planilha de controle de gastos é uma tarefa fácil, embora
trabalhosa. O verdadeiro obstáculo não está na complexidade das variáveis
financeiras disponíveis no mercado ou nas ferramentas cada vez mais completas,
mas no desinteresse pelo tema, vivido por grande parte da população. Ter razões
suficientemente fortes para investir e poupar significa pensar no futuro da
família. Sobreviver diante da frustração, causada por aquele desejo ainda não
realizado, é sinal de maturidade.
Nenhuma ferramenta de apoio financeiro funciona sem que existam objetivos,
metas e alguma maturidade. Minha experiência acrescenta ainda que coragem e
acompanhamento constante evitam que a negação volte a assolar sua mente. Se tudo
que escrevi parece óbvio, cuidado! Há muito mais psicologia na economia do que
podemos acreditar. Ignorar isso é, de novo, dar abrigo à negação.