Somos desafiados inúmeras vezes por dia. Matemática, economia, relacionamento
interpessoal, escrita, leitura e muitas outras atividades e ciências desafiam
nossa capacidade de raciocínio e ação. Nada mais natural que manter a mente
sempre ativa, fazendo contas e gerenciando o fluxo de atividades do dia-a-dia.
Faz bem exercitar o cérebro, mas faz mal sobrecarregá-lo.
Sempre que converso com pessoas endividadas ou que estão à beira do colapso
financeiro, noto um comportamento comum: elas adoram a contabilidade mental, o
controle feito apenas pela memória. Nada de papel, planilha ou sistema. Tudo
está (está mesmo?) registrado na cabeça, na memória, nos complexos lampejos dos
neurônios. Contabilidade mental funciona?
Li diversas obras que citam a contabilidade mental como um grande perigo para
as finanças cotidianas, mas os trechos que mais se aproximam da minha opinião
vêm do livro “A Dieta do Bolso”, escrito por Eliana Bussinger.
Concordamos que deixar o controle das finanças a cargo da mente é uma atitude
perigosa, desnecessária e ineficiente.
Não funciona e as razões disso são simples:
- As emoções influenciam os pequenos gastos e “escondem” a sua verdadeira
razão de ser. A memória não se lembra exatamente de onde foi que você gastou
aqueles R$ 5 porque eles foram usados para um prazer imediato;
- Qualquer evento que movimentar sua rotina pode facilmente mudar seu
comportamento diante do dinheiro, levando-o à presenciar o item anterior;
- Sem tomar nota das suas movimentações fica quase impossível determinar
mudanças de atitude e(ou) compromissos, já que a visibilidade futura é quase
nula.
Eliana lança luz ao tema, com uma afirmação simples, mas bastante profunda:
“Na contabilidade mental, não costumamos perceber a interação do mercado
e a correlação entre investimentos”
Em outras palavras, sem um controle formal das finanças fica muito difícil
traçar um paralelo entre a situação financeira da família, as oportunidades
vigentes e o comportamento do mercado. Sem base, vive-se apenas preocupado com o
dia-a-dia, com o pouco que resta na carteira, sem valorizar o planejamento
futuro.
Tome conta do seu dinheiro!
O erro não está em usar a cabeça para calcular, mas em confiar nela para gerir
seu fluxo de caixa. De novo, não funciona! Opte por anotar seus gastos diários
em um bloco de papel e transfira-os para a planilha mensal de orçamento. Preste
atenção à evolução dos gastos, categorizando-os sempre de forma bem detalhada. O
começo pode ser trabalhoso, mas logo a atitude se transformará em um hábito.
O documento formal permite que sejam realizadas análises críticas, mais
imparciais, desprovidas de emoção. Números absolutos, gráficos e percentuais de
correlação facilitam sua gestão microeconômica, permitindo fácil visualização da
relação entre receitas e despesas. Como em uma gestão profissional (você vai ter
que aprender durante sua carreira), subsídios, dados e comparações são passos
necessários para uma decisão acertada.
Pare de inventar desculpas!
É comum ouvir reclamações do tipo “planilhas e controles precisos tiram
minha liberdade, ceifam minhas chances de viver mais feliz gastando com coisas
que me satisfazem”. Soa como um comentário razóavel ou como uma desculpa
para manter a emoção em linha com os desejos de comprar e consumir? Os
endividados e amantes de um carnê costumam pensar assim. São da turma do
“mas a parcela cabe no meu salário”.
Uma ferramenta de gestão financeira não tolhe a liberdade, apenas evidencia
sua real capacidade de atingir a plena independência financeira. É quando o
auto-conhecimento encontra-se com a disciplina e a capacidade de controlar.
Enquanto confiarmos demais nos nossos sentimentos e os misturarmos com o corrido
dia-a-dia dos novos tempos, daremos à mente material suficiente para enganar a
razão.
Anote tudo, mantenha um rígido e documentado controle de seu fluxo de caixa.
Recomendo que cerque seus impulsos com fatos, estatísticas e não apenas com a
esperança. A disciplina necessária para manter o orçamento em dia transformará
sua rotina mais rápido do que você imagina. Experimente!