No passado, quando alguém queria insinuar que outra pessoa fez algo de errado
ou descabido, se dizia que ela estava “com um parafuso frouxo” ou que estava
“com um parafuso a menos”. Não sei se essa expressão ainda é usada hoje em dia,
mas é adequada para a mensagem que quero passar neste artigo. Primeiramente,
convido o leitor a compartilhar de algumas premissas, algumas das quais,
desculpem, considero incontestáveis:
Ninguém é perfeito
O ser humano, com todas as suas vulnerabilidades e limitações físicas,
culturais, mentais, emocionais e outras – e ainda que atuando no trabalho com o
melhor dos esforços e intenções – está sempre sujeito a fazer obras incompletas,
incorretas ou equivocadas. Basta lembrarmos da grande quantidade de recalls que
têm sido anunciados. Certamente todas as pessoas têm potencial para constantes
aperfeiçoamentos, minimizando o risco de erros – e é justamente a busca
incessante desse crescimento, com esforço, persistência e comprometimento que
constitui uma das mais valiosas competências humanas e, ao mesmo tempo, um dos
mais estimulantes desafios da vida.
Ninguém erra porque quer
Pelo menos no que se refere a profissionais de verdade, precisamos acreditar
que nenhum erro eventual é voluntário e consciente. Quase sempre o erro eventual
acontece quando se busca o acerto – e, neste caso, não merece punição, mas
orientação. Também de pouco resolve “chorar sobre o leite derramado”. Uma vez
ocorrida a falha, a busca de culpados é uma inútil e improdutiva perda de tempo,
geradora de enormes desgastes emocionais, que, além de não trazer soluções
práticas para a correção, ainda compromete seriamente a qualidade das relações
interpessoais dos envolvidos. Nessas circunstâncias, seria injusto atribuir a
causa do erro eventual à “falta de um parafuso” em algum colega.
Também se aprende com os erros
A maioria dos erros no trabalho traz consigo prejuízos de várias naturezas e
valores, causando à empresa perdas significativas e preocupantes, para as quais
devem ser encontrados e adotados procedimentos corretivos e preventivos. Mas
também é importante não perder de vista as lições que tais erros trazem.
Qualquer que tenha sido sua causa, muito provavelmente o erro só aconteceu
porque algum procedimento preventivo deixou de ser adotado. Muita reflexão
resultará dessa inconveniente, mas “eficaz” lição. Aliás, lições aprendidas com
os erros quase sempre representam bons “apertos em parafusos”...
Ninguém vence sozinho
Sobretudo nos dias de hoje, não faz mais sentido falar-se em resultados sem
pensarmos em equipe. O resultado de qualquer trabalho é conseqüência de uma
sucessão de ações e procedimentos coletivos e em cadeia. Se um desses elos se
rompe, o sucesso ou o fracasso deve ser atribuído ao coletivo, não ao
individual. Por isso, vitórias e derrotas devem sempre ser compartilhadas. Ao
profissional que ainda acredita poder vencer o “jogo” sozinho – a este, sim,
deve faltar um monte de parafusos ou bons apertos neles...
Ninguém tem o monopólio da verdade
Não existe “sabe-tudo”. Existem competentes especialistas em determinados
assuntos, que possuem profundos conhecimentos sobre determinadas atividades, mas
estes conhecimentos, isoladamente, não são suficientes para atingir os objetivos
da corporação. Eles só se tornam verdadeiramente úteis e produtivos quando
complementados por outros conhecimentos, experiências e habilidades. Portanto,
sem a humildade de saber compartilhar, nenhum especialista está qualificado para
integrar uma equipe de verdade. Desculpem a brincadeira, mas na minha modesta
opinião, quem se supõe “dono da verdade” revela-se um “desparafusado”.
Resumo da ópera: todos nós temos parafusos frouxos que necessitam
de ajustes. Ou até mesmo, em cada um de nós, pode faltar um ou mais parafusos
que precisam ser repostos – porque o ser humano, apesar de maravilhoso, tem
limitações e imperfeições. Entender e aceitar essa simples e óbvia premissa é
confessar-se humilde e realista o suficiente para entender e praticar um
verdadeiro e maduro profissionalismo.
Por fim: se a analogia do parafuso não ficou clara para algum
leitor, sugiro substituir essa expressão por competência, habilidade ou
conhecimento. Dá no mesmo. O importante é que, qualquer que seja o nome que se
dê a essa necessidade, ela poderá ser diária e mutuamente trocada, ajustada,
complementada ou doada – se houver boa vontade e humildade.