"Por mais que as pessoas queiram controlar ou negar, não tem jeito, todos nós
somos guiados pelas emoções. Por isso, em um processo seletivo, não é difícil
perceber que experiências anteriores do avaliador irão interferir na escolha do
profissional", afirma a psicóloga organizacional e diretora da Human Value
Consultoria, Meiry Kamia.
"Se o avaliador teve uma experiência positiva com um funcionário de descendência
japonesa, por exemplo, ao estar diante de um candidato à vaga que apresente
semelhanças físicas ou comportamentais com o funcionário anterior, seu cérebro
enviará mensagens de amizade e prazer, e ele terá a sensação de que já conhece
essa pessoa e terá poucos problemas com ela", explica ela.
O contrário também acontece. Se o avaliador já teve uma experiência ruim com uma
pessoa com pouca experiência, ou alguém com olhos claros, ou falador demais, ou
ainda um ruivo, quando conhece um candidato com tais semelhanças físicas e
comportamentais, seu cérebro envia mensagens de que ele trará problemas. A
tendência, por mais cruel que seja, é que o sujeito não seja admitido.
Empatia é fundamental
O sócio da consultoria de processos seletivos Steer Recursos Humanos, Ivan Witt,
opina que "ir com a cara" do candidato é fundamental para a empresa que está
contratando. "Nunca soube de empresas que contratassem alguém que não fosse com
a cara", diz ele.
Mas, para ele, não existem casos de antipatia gratuita e, muitas vezes, o
próprio candidato pode ter cometido um erro, em algum momento. "Algo não
funcionou. Houve um choque de personalidades, uma descompostura, uma aversão à
apresentação ou aos modos do candidato. É surpreendente a quantidade de
informação que passamos simplesmente com nossa presença. E o selecionador
experiente estará atento à linguagem corporal, à ansiedade, ao discernimento e à
conduta. Não há como prever, mas alguns cuidados por parte do candidato podem
ser tomados".
Ele enfatiza ainda que dificilmente a empatia é um fator decisório para as
empresas. O headhunter da Robert Wong, Renato Bagnolesi, concorda com essa
teoria. "O feeling do entrevistador pesa, mas, no fim do dia, o que importa são
os resultados. Logo, empatia é importante, mas a empresa não pode deixar de
olhar para outros aspectos muito importantes, como as referências, as
competências técnicas e o legado que esse profissional deixou nas empresas pelas
quais ele passou. Também é importante entender suas expectativas".
Bagnolesi ressalta que, independente de o entrevistador "ir com a cara" do
candidato, ele deve fazer perguntas pertinentes, com certa frieza, para
descobrir suas limitações e descortinar as chances de sucesso dessa pessoa na
empresa. "Acontece muito de o candidato ser tão agradável que o selecionador,
encantado, esquece de fazer uma entrevista adequada. É como aquela premissa de
que o amor é cego".
Dicas para o selecionador
Meiry diz que, se o avaliador não possui consciência do processo cerebral que
acontece durante processos seletivos, ele pode confundir essa sensação, tanto
favorável como desfavorável, com intuição, ou algo divino, e descartar um
profissional talentoso simplesmente por não "ter ido com a cara" dele.
"Decisões baseadas em experiências passadas e inconscientes podem levar o
avaliador a cometer graves erros de tomada de decisão, pois pode deixar de
contratar um bom funcionário, bem como pode se decepcionar ao contratar um
funcionário que não corresponderá às suas expectativas", afirma a psicóloga
organizacional.
"Por essa razão, o autoconhecimento é importante para o selecionador. O
conhecimento do funcionamento das próprias emoções e motivações ocultas que o
levam a agir de determinadas formas abrirá maiores possibilidades para que ele
seja mais justo não só com os outros, como também consigo mesmo e com a
empresa", finaliza ela.