Nos dias atuais é comum encontrarmos manchetes como: “conheça as carreiras do
futuro”; “o ranking dos setores onde falta mão-de-obra qualificada no Brasil” ou
as profissões do futuro e assim por diante. Tais informações sobre as tendências
do mercado de trabalho tentam “nortear” ou “desnortear” o futuro do jovem
profissional para o caminho do “ter” e não do “ser”.
Uma das matérias que li numa revista de grande circulação mencionava que a
Tecnologia da Informação, Meio Ambiente e Responsabilidade Social estão em alta
e que “para se destacar neste novo cenário, é preciso batalhar para ser um
profissional global e, assim, atender às expectativas desse ambiente moderno e
competitivo”. Ainda dizia que um tiro certeiro para quem pensa grande é conhecer
as chamadas profissões do futuro - e investir nessas carreiras, que
tendem a ser bastante valorizadas em médio prazo.
E daí surge um questionamento: Em alta para quem? Por acaso quem fazia essa
análise de mercado era um especialista em Ensino Superior que oferecia cursos
nessas áreas, com a promessa de formar profissionais aptos a atuarem
globalmente.
O reflexo dessas chamadas tem efeitos profundos, pois ao invés de auxiliar o
jovem a direcionar seu futuro para aquilo de que realmente ele gosta ou tem
vocação, ela acaba despertando interesse para as profissões que lhe propiciem
mais vantagens financeiras. Isso faz com que o jovem profissional acabe
realizando muitas vezes atividades que não ama, simplesmente em prol do “ter”.
Quantos profissionais formados como advogados, engenheiros, arquitetos, dentre
outros, se formaram e não atuam na área? Provavelmente escolheram a profissão
errada e não conseguiram mudar o rumo da sua carreira em tempo.
Outro efeito desse desencontro está atrelado à dificuldade que as
organizações, de modo geral, se deparam quando da contratação de profissional
que, além de atender aos requisitos de competência inerentes à função, esteja
plenamente motivado. Um exemplo é o resultado da péssima qualidade de serviços e
de atendimentos com que, na maioria das vezes, nos deparamos, seja lá em que
segmento for.
Dia desses, lia outra reportagem sobre alto índice de evasão universitária.
Esse é outro aspecto que traz efeitos sociais perversos e, na maioria das vezes,
está correlacionado com as chamadas “carreiras do futuro”. Nesse contexto, o
jovem, precocemente e superficialmente escolhe sua profissão sem que ele conheça
de fato sua verdadeira atuação no mundo dessa carreira. Mais uma vez os jovens
são massacrados pelos interesses profissionalizantes, provocando, muitas vezes,
os chamados “profissionais infelizes” por não fazerem o de que gostam,
refletindo diretamente na sua qualidade de vida.
O que deve ficar patente para o jovem é que para se ter carreira consistente,
é necessário que ele tenha aptidão e vocação. A vida nos coloca à disposição
vários caminhos. A diferença básica entre os profissionais está em como cada um
decide realizar sua caminhada. Alguns a torna desinteressada e repetitiva;
outros caminham em um ritmo considerado normal – dentro do padrão, já àqueles
que dão sentido à sua vida, “voam” com altivez e motivação interior, fazendo
diferença não só no mundo do trabalho como para as pessoas que estão à sua
volta. É importante que o jovem perceba que viver é muito mais que estar vivo.
Por todo esse contexto, sugiro aos jovens que não se deixem iludir pelas
chamadas profissões do futuro, sem primeiro descobrir do que realmente
gostam. O ranking das profissões pode ajudar, mas não deve ser fator
decisivo de escolha. Para iniciar, procure eliminar as áreas com as quais não se
identifica – faça uma lista das suas vocações. Conversar com pessoas que
trabalham na área pode ajudar na decisão. Procure conhecer o futuro da
profissão, pois em quatro ou cinco anos podem ocorrer mudanças.
Enfim, em qualquer que seja o segmento da nossa vida, devemos sempre ir ao
encontro do “ser”, com certeza aumentará a chance de auto-realização e como
conseqüência - de sucesso pessoal.