No auge da minha impetuosidade juvenil, eu era conhecido no mundo corporativo
como “general”, em virtude do meu jeito autoritário, arbitrário e muitas vezes
rude de exigir o cumprimento das normas e procedimentos da empresa. Por mais que
eu estivesse tentando cumprir a política, e sob o meu ponto de vista eu estava
sempre certo, a imposição das idéias a qualquer preço não contribuíram em nada
para o meu crescimento profissional.
Por conta disso eu arranjei desafetos ao longo do caminho e nunca compreendi
muito bem o motivo, afinal, eu estava simplesmente cumprindo o papel que me foi
atribuído na condição de responsável pela coordenação do setor. Quando você é
líder e tem a “chave do cofre” na mão, é fácil migrar de querido a odiado numa
fração de segundos, principalmente se você ocupava um cargo de mesmo nível
hierárquico e, na seqüência, se viu obrigado a mudar de postura pelo fato de ter
se tornado líder dos seus próprios colegas.
No início, as pessoas cumprimentam, elogiam e são capazes de jurar que torcem
por você, além de despejar uma série de chavões do tipo “eu já sabia”, “você
merece” ou “que bom que foi você”. A gente custa a acreditar em palavras nobres
e solidárias, afinal, a concorrência, a necessidade premente de reconhecimento e
a valorização são inerentes ao ser humano. Qualquer promoção que não seja a de
si mesmo causa as mais variadas reações.
Esse comportamento está presente nas diferentes camadas e segmentos da
sociedade moderna. O mais vil dos políticos, reis ou imperadores consegue
amealhar bajuladores. Imagine um profissional autoritário, mas popular entre os
seus seguidores e carregado de boas intenções. Era assim que eu me sentia na
época e por conta disso havia sempre alguém querendo “puxar o meu tapete”.
Poder é algo que fascina as pessoas e independe do nível de instrução ou
hierárquico. Quando você está revestido de poder e autoridade, em que ambos
caminham lado a lado, o comportamento tende a fugir ao seu controle.
Invariavelmente, você é dominado pela empáfia e pelas imposições do ego que o
transformam numa criatura amarga, inacessível e, por vezes, intransigente,
principalmente se você não está preparado para o cargo. O falso poder é capaz de
produzir aberrações corporativas irremediáveis em sã consciência.
O fato é que a gente demora a reconhecer a necessidade de mudança, pois, num
primeiro momento, tem tudo a ver com o orgulho e a necessidade de auto-afirmação
perante o grupo. Geralmente, a modificação vem precedida de demissão,
advertência ou mesmo de uma rejeição em equipe em virtudes dos excessos, o que
não é simples de aceitar, tampouco fácil de reverter.
A despeito de todos os acontecimentos, eu demorei a captar a essência do
ambiente corporativo. As pessoas não estão muito preocupadas com as normas,
procedimentos e políticas de maneira geral. Embora isso seja importante, o que
lhes interessa inicialmente é a própria condição dentro da organização. Se as
prioridades da empresa estão em consonância com as suas necessidades, ótimo;
caso contrário, meras formalidades são apenas condições transitórias que podem
ser atropeladas até o próximo “puxão de orelha” ou o próximo emprego.
Ao longo do tempo eu fui percebendo também que o universo alheio estava a
quilômetros de distância do meu mundinho real. Embora eu imaginasse que minhas
atitudes traduziam o desejo da empresa, as pessoas ao meu redor queriam de fato
um cumpridor de normas mais flexível e atento às necessidades do grupo.
Penso que, para o nosso próprio bem, nada acontece exatamente como desejamos,
pensamos e planejamos na vida. No meu caso, foram necessários muitos embates
acalorados, ameaças, críticas, vários empregos e livros e mais livros para
provocar uma transformação de ordem pessoal na minha maneira de ver o mundo e
administrar os meus próprios conflitos.
Tudo muda quando você muda. Ser flexível e mais aberto aos pontos de vista
alheios não significa deixar de lado os valores e os princípios consolidados
ainda na infância. Não importa quanto tempo leva para descobrirmos o quanto
somos ricos e ponderados, mas quanto tempo ainda nos resta para mudar de
atitude, de postura e de ponto de vista, a fim de nos tornamos mais humanos e
dispostos a reconstruir uma carreira profissional, um relacionamento pessoal,
uma vida.
Apesar de tudo, tenho muito chão pela frente. Somos produtos do meio e
demoramos a entender as duras mensagens da vida, embora isso não justifique as
atitudes tomadas no calor da emoção. No fundo, queremos todos sobreviver,
crescer, provar a nós mesmos que somos capazes de dar a volta por cima e tirar
de letra essa sucessão de privações e provações ao longo do caminho. E a vida
não faz distinção de ambientes, mas cobra muito e exige que você cresça o tempo
todo.
Durante o caminho aprendi que existem coisas essenciais e pessoas especiais
que devem ser preservadas até o fim da vida. O relacionamento saudável é uma
delas e você não precisa abrir mão de convicções para mantê-los. Entretanto,
existem acontecimentos banais que podem ser solucionados de maneira bem mais
simples quando mente e coração se mantêm abertos ao diálogo e ao respeito mútuo
entre as partes. O que eu aprendi com tudo isso?
1. A melhor maneira de ganhar uma discussão é evitá-la. Pontos de
vista pessoais interessam única e exclusivamente a você;
2. Pontos de vista profissionais são objetos de negociação e análise
conjunta, pois estão atrelados ao cumprimento de um objetivo maior que não
depende exclusivamente de você;
3. As pessoas em geral possuem muito mais coisas boas do que ruins,
portanto, exercite o hábito de procurar o que elas realmente têm de bom, em vez
de procurar apenas defeitos;
4. Encare cada situação de maneira positiva e as coisas tendem a fluir da
forma como deve ser, não como você imagina que deve ser;
5. Ainda que você não consiga mudar uma situação, mantenha uma boa
atitude, seja íntegro, dê tempo ao tempo;
6. Cargos, empregos, status e sucesso são transitórios em qualquer
parte do mundo; cultive a consciência do momento presente e ela definirá a sua
importância no momento futuro.
Reconheço que as coisas ficaram muito mais fáceis e simples a partir do
momento em que eu decidi mudar radicalmente a maneira de pensar e agir. É óbvio
que as mudanças não acontecem da noite para o dia, mas a decisão é que conta. O
restante vem naturalmente. Segundo Hal Urban, autor de “As Grandes Lições da
Vida”, “quanto mais completos e integrados nos tornamos, melhor nos sentimos
em relação a nós mesmos e à vida em geral”. Pense nisso e seja feliz.