A profissão “herdada” ocorre quando filhos seguem o que são os pais, e é
natural que estes sejam tomados como modelos por aqueles. Ademais, a convivência
diária com gente exercendo suas profissões pode levar a um interesse, exista ou
não a admiração por quem as exercem. Há também a motivação econômica, pois a
herança pode vir junto com um bom negócio, seja na forma de uma empresa ou de
uma clientela profissional.
E mais: as vocações e aptidões profissionais podem vir de parentes ou
mesmo de antepassados muito remotos. Nessa linha, um caso interessante é o de
etnias que têm grande tradição no comércio ou como profissionais especializados.
Como no caso geral da escolha de profissões, o ideal é que não seja forçada nem
por quem deixará o legado nem por herdeiros preocupados em agradar aos pais ou
em seguir a lei do menor esforço. Caso contrário, a herança poderá ser maldita,
por significar algo indesejado ou um profissional sem efetivo compromisso com o
que faz.
Entretanto, também pode acontecer que tanto o gosto pela profissão como o
empenho venham com seu próprio exercício. Na teoria tradicional da Psicologia,
nossas crenças condicionam nosso comportamento. Contudo, pode acontecer que por
alguma razão uma pessoa venha a exercer uma profissão “herdada’ sem que seja a
de sua preferência. Nesse caso, outra teoria, a da dissonância, argumenta que o
exercício da profissão, ou seja, o comportamento da pessoa, pode levá-la a
repensar suas crenças e passar a gostar do que faz.
Não se herda tudo...
Há entretanto sempre o risco de que , mesmo gostando da herança profissional, os
herdeiros não sejam bem-sucedidos como seus pais, pois algumas das
características destes e as mesmas oportunidades que tiveram não são
transmitidas aos filhos.
Aliás, há empresas familiares em que os herdeiros são acomodados como executivos
também por vontade própria, mas fracassam como empresários.
Não sem razão, é comum que na fase sucessória sejam recrutados profissionais
fora das famílias controladoras para tocar seus empreendimentos, separando-se a
gestão da propriedade. Com isso, há muitos casos em que os herdeiros
patrimoniais se tornam apenas sócios ou acionistas, recebendo dividendos e
outras formas de participação nos lucros, e buscando carreiras de seu interesse
fora das empresas familiares. Como diz o ditado, muito ajuda quem não atrapalha.
Refiro-me aqui ao caso de grupos étnicos que demonstram particulares pendores
por determinadas profissões, em particular a atividade empresarial. Segundo meu
dicionário, esses grupos se caracterizam por sua especificidade sócio-cultural,
refletida principalmente na língua, religião e maneira de agir, e o termo é aqui
usado sem nenhuma conotação racial.
Tenho percebido que alguns desses grupos se distinguem por forte legado
vocacional, e é um assunto em que gostaria de me aprofundar.
No estágio atual, minha percepção, tomada apenas da observação do que se passa
numa cidade cosmopolita como São Paulo, é que, por exemplo, os chineses e seus
descendentes são muito voltados para o comércio, o mesmo acontecendo com sírios,
libaneses e outros de raízes árabes, o que deve estar ligado à tradição milenar
desses povos em atividades mercantis.
Questões culturais específicas também são determinantes de caminhos
profissionais.
Conforme um texto da economista Patrícia Marrone, o povo hindu tem grande
habilidade para a matemática, provavelmente por conta de sua capacidade de
concentração desenvolvida por meio da religiosidade e do hábito da meditação.
Como herdaram também o inglês de seus colonizadores, são particularmente
requisitados pela indústria internacional de software.
Em síntese, a herança profissional, mais próxima ou mais remota, é também um dos
caminhos que levam à escolha de carreiras.