Aristófanes Alcântara (nome fictício, porém, o caso é real) trabalhava numa
importante e renomada empresa multinacional. Sua carreira e desenvolvimento
sempre foram avaliados com excelentes comentários e seguidas manifestações
explícitas de reconhecimento. Seu futuro profissional na empresa era cada dia
mais promissor, até que foi demitido subitamente.
Sua reação, à semelhança de muitos outros, era um misto de descrença,
frustração, ansiedade, insegurança, medo, raiva e vergonha. Agora, a caminho de
casa pensava sobre as complicações decorrentes da "insanidade mental" de seu
chefe.
Preocupava-se com as contas (novo e amplo apartamento, viagem com a família ao
exterior) e com a imagem pessoal -- como o mercado agora iria vê-lo. E a
família, como absorveria a notícia de sua inesperada demissão, se por anos
alimentou a imagem de um profissional vencedor e bem sucedido?
Todos nós sabemos que a demissão, qualquer que seja a sua causa, provoca um
verdadeiro redemoinho na vida de qualquer profissional.
A única diferença está na sua intensidade, duração e maneira como é encarada -
se positiva ou negativamente; se uma oportunidade para alavancar ainda mais a
carreira ou para cair em desgraça, lamentando que o mundo não lhe deu qualquer
oportunidade; se um período de aprendizado ou a do mero desejo de continuar a
fazer as coisas do mesmo jeito que sempre as fazia no passado - colocando tudo
para debaixo do tapete e pretendendo que tudo permaneça lá para sempre.
Qualquer que seja a causa da demissão, a filosofia pode ajudar poderosamente
quem perde seu emprego. Certamente, meus leitores imediatamente indagarão: Como
pode a filosofia ("amor à sabedoria") ajudá-los num momento tão crítico de suas
vidas? A resposta é simples. A filosofia pode ajudar a entender o problema da
demissão se consideramos os seguintes pontos:
A necessidade prioritária de uma análise profunda, isenta e verdadeira sobre a
causa primeira da demissão - fatores pessoais internos e externos, discernindo
aqueles que dependem ou não de seu controle
Entender que a despeito dos inúmeros motivos atribuídos a uma demissão, ela é na
maioria das vezes gerada primeiramente no ventre do profissional demitido.
Culpar os outros é tolice
Eliminar o impulso da culpa. À medida que o homem cresce internamente ele
percebe a inutilidade de culpar os outros pelos seus reveses
Saber que o caminho da demissão está sendo pavimentado. Todo profissional possui
um sistema de alarme que no início é quase inaudível quando soa. Todavia, à
medida que o tempo passa, o alarme soa cada vez mais alto. E o que ele faz em
geral? Pretende que não é com ele, para sua própria decepção e desgraça.
A avaliação cuidadosa das emoções decorrentes de sua demissão: lembre-se que as
emoções são de natureza interna. Nesse caso, somente o demitido poderá
administrá-las de maneira positiva ou negativa. Ninguém mais tem a força para
diminuí-las, intensificá-las ou neutralizá-las.
Assim sendo, o demitido deveria administrá-las com sabedoria e construtivamente.
Como dizia Jean Paul Sartre: "O homem é aquilo que ele faz dele mesmo"; ou como
ensina Epictetus (55-135 d.C.), filósofo e professor romano, "Quando houver um
acontecimento imprevisto não reaja imediatamente: volte-se para seu íntimo e
pergunte a si mesmo de que recursos dispõe para lidar com aquilo". Mergulhe
fundo.
Você possui forças que provavelmente desconhece. Encontre a que necessita nesse
momento. Use-a. Se o momento é de dor ou fraqueza, use a sua capacidade de
resistência. Com o passar do tempo e a consolidação do hábito de combinar o
recurso interno adequado com cada incidente, a sua tendência para ser levado
pelas aparências da vida pouco a pouco desaparecerá a sensação de estar sendo
dominado, oprimido pelos fatos o tempo todo.
Agindo assim, o demitido estará preparado para:
- Aceitar a demissão com dignidade
- Administrar suas emoções com maturidade e sabedoria
- Virar a página de seu passado profissional e construir um novo caminho
compatível com seus valores e objetivos profissionais
- Conscientizar-se de que nada na vida dura para sempre. Portanto, o
demitido jamais deveria confundir sua vida com o seu trabalho
Perseguir uma vida mais harmoniosa, na qual o trabalho desempenha um papel
importante, mas não é um fim em si mesmo. O fim maior da vida é a felicidade.
Como nos adverte Lucius Sêneca (4 a.C. a 65 d. C.), filósofo e estadista romano,
"queria não precisássemos de nenhum grande equipamento para sermos felizes, cada
um de nós é capaz de fazer a sua própria felicidade. As coisas externas não têm
muita importância... Tudo que é melhor para um homem está além do poder de
outros homens".